¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, abril 30, 2005
 
A MESMA ARROGÂNCIA


Uma leitora há horas insiste em que toda a verdade está na Bíblia. Se Deus disse, como você pode duvidar? Ora, tal argumento pode ser empunhado contra quem acredita em Deus, e este não é meu caso. Fora da Igreja Católica não há salvação - esta é a impressão que estas mensagens me deixam. O que está muito conforme à Weltanschaaung do novo papa, Bento XVI. A Igreja católica não pode ser chamada de Igreja-irmã, porque é a Igreja-mãe. Só ela tem a verdade. Ratzinger tem fama de erudito, mas em seu fundamentalismo esquece que a Igreja pode ser mãe, mas antes disso é filha... do judaísmo. Este tipo de leitor, como Ratzinger, não concede a ninguém o direito de não crer. Estamos de volta às teocracias, no melhor estilo islâmico.

Como pode alguém, em sã consciência, não ser católico? Esta é a mesma arrogância que cultivavam os marxistas, antes do desmoronamento do comunismo e da União Soviética. Olhavam para os não-marxistas com piedade e desdém: "esse coitado nada entende do mundo". E no entanto...

 
ESTUPIDEZ AVANÇA NA NORUEGA


Norueguesa é condenada a 9 meses de prisão por violentar homem


Uma corte norueguesa sentenciou uma mulher a nove meses de prisão por violentar sexualmente um homem, na primeira condenação do tipo no país escandinavo, que se orgulha pelo seu igualitarismo. O homem, 31 anos, dormia em um sofá durante uma festa em janeiro do ano passado e disse no tribunal da cidade de Bergen que acordou com uma jovem de 23 anos fazendo sexo oral nele.

quinta-feira, abril 28, 2005
 
ÍNDIO NÃO QUER MAIS APITO

Não está sendo bem vista, pela Funai, Igreja Católica, antropólogos e indigenistas, a tomada de quatro policiais federais como reféns pelos índios macuxis na aldeia Flechal, na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Quando os índios, insuflados por ONGs e missionários estrangeiros, fazem reféns - até mesmo da Funai - para exigir demarcação de terras, a própria Funai faz que nem viu e fica tudo por isso mesmo. Pois a intenção dos indigenistas é isolar os índios da civilização, mantê-los presos em gaiolas atemporais, para contemplação dos pósteros.

Agora é diferente. Os macuxis são contra a demarcação contínua da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, de 1,69 milhão de hectares, o que eliminaria o contato com os brancos que lá vivem e trabalham, que têm o prazo de um ano para entregar suas terras e sair da área. Os índios sabem que perderão escolas, eletricidade, assistência médica e farmacêutica e todas as demais vantagens que o contato com a civilização propicia. Preferem a demarcação por ilhas, o que permitiria a permanência do branco civilizador.

Está finalmente surgindo no país uma consciência entre índios mais pragmáticos de que afastar-se do branco não é bom. Para desespero e perplexidade da Funai, que prefere manter as populações indígenas na era da Pedra Lascada. Por trás disso tudo, ou melhor, embaixo disso tudo, pode estar a maior jazida de ouro do mundo, além de outros minerais como diamantes, cassiterita, nióbio, tântalo e titânio, este último matéria prima estratégica para usinas nucleares, indústria bélica e informática.

A demarcação contínua eliminará do mapa uma faixa com cerca de 100 mil hectares de terra produtiva que circunda a reserva e faz fronteira com Guiana Inglesa, ao Norte do Estado. Esta faixa produz 70% das 160 mil toneladas de arroz industrializadas por ano em Roraima e vendido para o Amazonas, Pará e Rondônia, o que contribui com cerca de 10 % do PIB estadual. A Funai, agora com o apoio da Presidência da República, quer destruir este trabalho todo. Prefere fornecer aos índios uma proteção paternalista, desde que se mantenham afastados do universo não-índio.

Acontece que os índios já experimentaram o bem-estar da civilização branca. E não querem mais apito.

segunda-feira, abril 25, 2005
 

NEM OS SANTOS CONDENARAM
A SANTA INQUISIÇÃO


Em artigo para o MSM (http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=3557), Marcelo Moura diz que afirmei que a Igreja desejava que quem dela discordasse fosse para o inferno. E continua: "Essa é a razão pela qual falei da Inquisição, para explicar que uma simples discordância nunca foi motivo para a existência da Inquisição". Não é bem assim. Afirmei que ao declarar "Nós queremos que o Papa queime vivo no inferno", Hebe de Bonafini demonstrou ser simpatizante dos métodos usados pela Igreja na Idade Média. Mas atenção: inferno e inquisição são coisas distintas. O inferno existe na mitologia grega (o Hades), nas religiões hebraica (Xeol ou Geena), islâmica e até mesmo budista (o samsara). No catolicismo é concebido como um lugar de condenação eterna. O inferno é criação de teólogos e sua origem se esconde no início dos tempos.

Já a Inquisição tem data definida. É um mecanismo jurídico criado mais por legisladores que por teólogos, daí porque afirmei ser a Idade Média dominada mais por advogados do que por teólogos, sem que nisso estivesse embutida nenhuma crítica à classe profissional dos advogados, como afirmas. A Inquisição é criada pela bula Licet ad Capiendos, do Papa Gregório IX, em 20 de abril de 1233. Aliás, ao citar James Hitchcock, Marcelo acaba confirmando o que eu afirmava: "os inquisidores eram legisladores e burocratas profissionais que se aderiam a regras e procedimentos". Coisa de advogados, portanto. Com a bula Ad Extirpanda, em 1252, o Papa Inocêncio IV instucionaliza o Tribunal da Inquisição e autoriza o uso da tortura. Irá persistir até o século XIX, na Espanha.

"Claro que nunca defendi e não defendo nenhum tipo de tortura", afirmas. Mas não disseste uma única palavrinha contra a Inquisição, o que já denota cumplicidade. Não bastasse não condenar a ignomínia, afirmas - e reiteras esta afirmação - que a Inquisição foi um avanço para a época. Mas não bastasse tudo isto, no link para os textos de D. Estevão Bettencourt, lá está: "É de notar que nenhum dos Santos medievais (nem mesmo S. Francisco de Assis, tido como símbolo da mansidão) levantou a voz contra a Inquisição, embora soubessem protestar contra o que lhes parecia destoante do ideal na lgreja". Sem falar que São Francisco morreu em 1226 - o que depõe contra a erudição de D. Estevão - antes da instituição da Inquisição, afirmar que os heróis da Igreja Católica jamais levantaram a voz contra a instituição é defendê-la. Os santos homens da Igreja eram cúmplices do terror. O primeiro passo para uma futura canonização, já o deste.

Afirmas que os cátaros constituíam um problema de Estado. Brilhante argumento. Só não sei se notaste que foi o mesmo empregado por tiranos como Stalin ou Mao, Envers Hodja ou Ceaucescu para massacrar seus conterrâneos. Ou, se não quisermos ir mais longe, Fidel Ruz Castro. Os dissidentes dos regimes totalitários sempre constituíram um problema para o Estado, é o que alegam estes senhores, que encarnam o Estado. Assim argumentando, justificas não só a Inquisição como também as tiranias deste século e do século passado.

Dizes ter sobre a Inquisição opinião semelhante à de Olavo Carvalho sobre a ditadura militar brasileira: "apesar de todas as suas falhas, foi melhor que o banho de sangue que ocorreria se a guerra civil se tornasse uma realidade". Em primeiro lugar, a comparação não procede, pois não havia ameaças de guerra civil na época, na França, Espanha, Alemanha, Itália e Portugal. Nem mesmo no Brasil, onde a Inquisição também introduziu suas garras. Que mais não fosse, para os cátaros estavam proibidas as guerras. Isso sem falar que o catarismo foi um fenômeno francês do século XII, mais ou menos restrito à Ocitânia. Nada justificava a extensão da Inquisição aos demais países europeus nem ao século XIX. Tratava-se de manutenção do poder eclesial, e nada mais. É claro que a Inquisição matou menos que as ditaduras do século passado. Os inquisidores não tinham um exército a seu serviço e além do mais a matança era individual, homem a homem, o que exige mais tempo.

Mas o horror não reside numa questão numérica. E sim no fato de justificar oficialmente a tortura, o que nenhuma ditadura contemporânea jamais ousou. Os ditadores costumam torturar, mas torturam em porões, às ocultas, sem dar publicidade nenhuma a suas crueldades. Pelo contrário, sempre as negam, quando acusados. Os inquisidores, não. Defendem abertamente, em livros assinados, a prática hedionda, tida como recurso para a salvação da alma dos hereges. E este é o aspecto mais perverso da Inquisição, a serena e convicta defesa da tortura. Se contentassem os inquisidores em eliminar seus adversários, até poderíamos entender a Inquisição como um processo de luta pelo poder. Mas a tortura não pode ser justificada.

Nos processos da Inquisição a denúncia era prova de culpabilidade, cabendo ao acusado a prova de sua inocência. É uma roda que, uma vez acionada, dela ninguém escapa. A identidade do denunciante era mantida oculta e a obrigação de denunciar os hereges era permanente. O acusado era mantido incomunicável, ficava acorrentado e era o responsável pelo custeio de sua prisão. Qualquer semelhança com a China comunista, onde a família do fuzilado tem de pagar a bala com que foi executado está longe de ser mera coincidência. A tortura só era aplicada quando o crime, apesar das provas, era considerado provável, mas não certo. Mesmo as testemunhas podiam ser torturadas caso se contradissessem. Podiam ser torturadas tanto meninas de 13 anos como mulheres de 80. Como a tortura somente podia ser infligida uma vez, os inquisidores - criteriosos cumpridores do rigor da lei - criaram o subterfúgio do "adiamento" da sessão, para que a tortura pudesse ter prosseguimento posterior. A privação de herança se prolongava até a terceira geração do condenado. E se o acusado escapava pela fuga à Inquisição, ou morria antes de ser julgado, era executado em efígie, isto é, tinha sua imagem queimada. Ou seja, nem a morte salvava o infeliz da fogueira.
Vamos às fontes, ou seja, ao Directorium Inquisitorum ou Manual dos Inquisidores, em bom português, de Nicolau Eymerich, complementado mais tarde por Francisco de la Peña:

TORTURA-SE o Acusado, com o fim de o fazer confessar seus próprios crimes. Eis as regras que devem ser seguidas para poder ordenar-se a tortura. Manda-se para a tortura:

1. Um acusado que varia as suas respostas, negando o fato principal.
2. Aquele que, tendo tido reputação de herege, e estando já provada a difamação, tenha contra si uma testemunha (mesmo que seja a única) a afirmar que o viu dizer ou fazer algo contra a fé; com efeito, a partir daí, um testemunho somado à anterior má reputação do Acusado são já meia-prova e índice bastante para ordenar a tortura.
3. Se não se apresentar qualquer Testemunha, mas se à difamação se juntarem outros fortes indícios ou mesmo um só, deverá proceder-se também à tortura.
4. Se não houver difamação de heresia, mas se houver uma Testemunha que diga ter visto ou ouvido fazer ou dizer algo contra a Fé, ou se aparecerem quaisquer fortes indícios, um ou vários, é o bastante para se proceder à tortura.

Segue-se a fórmula da sentença de tortura: "Nós, F... Inquisidor, etc, considerando com atenção o processo contra ti instruído, vendo que varias as tuas respostas e que há contra ti provas suficientes, com o fim de tirar da tua boca toda a verdade, e para que não canses mais os ouvidos dos teus juízes, julgamos, declaramos e decidimos que no dia tal... à hora tal... sejas submetido à tortura"

Longas são as digressões de Eymerich sobre a tortura. Me permito mais algumas:

Lida a sentença da Tortura, e enquanto os Carrascos se preparam para a execução, convém que o Inquisidor e outras pessoas de bem façam novas tentativas para levarem o acusado a confessar a verdade. Os Verdugos procederão ao despimento do criminoso com certa turbação, precipitação e tristeza para que assim ele se atemorize; já depois de estar despido, leve-se de parte e seja exortado novamente a confessar. Prometa-se-lhe a vida, sob essa condição, a menos que ele seja relapso, pois neste caso não se pode prometer-lha.

Se tudo isso for inútil conduzir-se-á à tortura, durante a qual será submetido a interrogatório, em primeiro lugar referente aos artigos menos graves em que seja suspeito, pois que ele confessará as faltas leves de preferência às mais graves. No caso de ele se obstinar sempre a negar, pôr-se-lhe-ão frente aos olhos instrumentos de outros suplícios e dir-se-lhe-á que vai passar por todos eles, a não ser que confesse toda a verdade.

Se enfim o Acusado nada confessar, pode continuar-se a tortura um segundo dia e um terceiro, mas com a condição de seguir os tormentos por ordem e nunca repetir os já praticados, não podendo ser repetidos enquanto não sobrevierem novas provas, embora não seja proibido neste caso o continuar por ordem.

Se o Acusado tiver suportado a tortura sem nada confessar, deve o Inquisidor pô-lo em liberdade mediante sentença na qual constará que após um cuidadoso exame do seu processo, nada se encontrou de legitimamente provado contra ele, no respeitante ao crime de que havia sido acusado.

Ou seja, se o coitado nada confessou ou não tinha mesmo o que confessar e nada havia contra ele, é solto e fica tudo por isso mesmo. Afinal, como afirma Marcelo, citando Bernard de Gui, "o Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verdade religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias". Em 1634, em Loudun, os Inquisidores torturaram com diligência - e até mesmo com amor - Urban Grandier, antes de jogá-lo à fogueira. O exorcista jesuíta Jean-Joseph Surin muito sofreu por não ter extraído de Grandier um Abjuro, o que pelo menos teria salvado sua alma. Porque o corpo, este estava mesmo condenado às chamas. A diligência e o fervor dos Inquisidores foi tanta, que mandaram inclusive uma virgem de 19 anos para fogueira, em 1431, em Rouen, França. Chamava-se Joana d'Arc e hoje é santa da mesma Igreja que a queimou.

Segundo Marcelo, reis como Frederico II e Henrique II combateram as heresias ferozmente, na maior parte dos casos, para ganhar os bens que eram confiscados dos hereges. Pode ser. Mas os inquisidores não renunciavam a seu quinhão. Vamos ao Manual. No capítulo sobre as multas e confiscações de bens, lemos:

Além das penitências, pode o Inquisidor impor penas pecuniárias, pela mesma razão que pode ordenar peregrinações, jejuns, orações. O dinheiro das multas deverá ser empregado em obras pias, tais como a sustentação e mantenimento do Santo Ofício. É na verdade muito justo que o Inquisidor se pague de suas despesas à custa daqueles que foram entregues a seu Tribunal, pois que (como diz São Paulo, I, Coríntios, capítulo IX) ninguém é obrigado a fazer a guerra à sua custa. (...) Sendo, entre todas as obras pias, a Inquisição a mais útil, poderão as multas ser sem dificuldade aplicadas ao sustento dos Inquisidores e seus familiares. (...) Efectivamente, é muito útil e vantajoso para a Fé Cristã que os Inquisidores possuam muito dinheiro, para poderem manter-se, assim como às suas famílias, para a busca e perseguição dos hereges.

Quanto às confiscações, os bens de um Herege deixam de lhe pertencer e são confiscados pelo simples facto de ele ser um Herege. A comiseração pelos filhos do Culpado, que ficam assim reduzidos à miséria, não deve ser nunca razão para se abrandar a severidade, já que, segundo todas as leis divinas e humanas, os filhos pagam pelas faltas dos pais.

Mais ainda, a ação contra o condenado não finda com sua morte. Poderá proceder-se contra um herege mesmo depois da morte e declará-lo como tal, para efeitos de confiscação de bens (ad finem confiscandi), tirar os bens àqueles que os possua, até a terceira geração, e aplicá-los em favor do Santo Ofício.

"Depois da Inquisição foi criado um procedimento - diz Marcelo - (que, aliás, ainda é praticamente o mesmo que é utilizado em inquéritos policiais no mundo ocidental), onde se coletavam provas sobre o envolvimento da pessoa em heresias e lhe concedia o direito de se defender". Tens toda razão, meu caro. Esse procedimento ainda é praticamente o mesmo utilizado em inquéritos policiais no mundo ocidental. Foi fartamente utilizado no Brasil, na Argentina, no Chile e até hoje é utilizado em Cuba.

Mas, como dizia D. Estevão, nenhum dos santos medievais levantou a voz contra a Inquisição. Seria esperar demais que Marcelo Moura o fizesse.

domingo, abril 24, 2005
 
IMIGRANTE JAMAIS É CRIMINOSO


Às 09h23 do dia 19 passado, a UOL noticiava:

Mulher diz que provocou acidentalmente incêndio de Paris

Das agências internacionais

Uma mulher confessou ser a autora "involuntária" do incêndio que matou 23 pessoas em um hotel de Paris na sexta-feira passada, anunciou nesta terça-feira o chefe de polícia ao Conselho de Paris. O chefe de polícia de Paris, Pierre Mutz, declarou aos representantes do Conselho que se tratava de "um incêndio involuntário", mas destacou que não podia apresentar outros detalhes das investigações. A mulher que confessou a autoria do incêndio tem por volta dos 30 anos e seria namorada de um dos vigias noturnos do hotel. Ela foi detida após uma denúncia anônima e estava presa desde a manhã de segunda-feira. "Ela estava no local pouco antes do começo do fogo", informou Mutz. Os investigadores, que na segunda-feira declararam descartar a pista do incêndio intencional, tentam determinar com precisão a eventual presença da mulher no local e o papel que ela teve na tragédia.

Esta é a notícia. Não dá o nome nem a nacionalidade da mulher nem de seu namorado. Como conheço as manhas da imprensa internacional, comentei com uma amiga: "aposto que a mulher é árabe". Minha amiga, defensora incondicional dos ditos pobres e oprimidos, subiu em seus tamancos: "como podes afirmar isso?"

Fiquei à espera de novas notícias. Surgiram novos detalhes:

A mulher, de 31 anos, que mantinha uma relação com o vigilante noturno do hotel, tinha instalado um dormitório improvisado na sala usada para servir o café da manhã, no primeiro andar. No local, ela colocou uma dezena de velas para improvisar uma iluminação para o ambiente, informou hoje a Procuradoria em comunicado. Depois de "uma violenta disputa, que ela atribui ao fato de seu companheiro estar bêbado, a mulher deixou o hotel irritada e jogou no chão vários montes de roupa sem prestar atenção às velas ali situadas", acrescentou.

De novo, nenhuma informação sobre nomes ou nacionalidades. Mandei então um e-mail para a defensora inccondicional dos pobres e oprimidos: "E tem mais: aposto que ela se chama Fátima". Dia seguinte, continuei acompanhando a notícia na imprensa brasileira, questão de ver se trazia nomes. Nada.

Busquei então o jornal parisiense Libération. Lá estava: a mulher se chamava Fátima e seu namorado Nabil. Ambos árabes. Mesmo assim, notícia alguma sobre a nacionalidade.

Pelo que se vê, nossos bravos jornalistas já assumiram que é politicamente incorreto responsabilizar muçulmanos por qualquer crime, mesmo que o tenham cometido. Em meio a isso, acabo de comprar em Buenos Aires La Fuerza de la Razón, o último ensaio de Oriana Fallaci, que mostra sobejamente o controle que os muçulmanos estão exercendo sobre a Europa. E, pelo jeito, até sobre a imprensa tupiniquim. O livro já foi traduzido em vários idiomas. Mas jamais será traduzido no Brasil. Voltarei ao assunto.



terça-feira, abril 19, 2005
 
LONGA VIDA AO PAPA BOCHE


Sem ter nada a ver com o assunto, me rejubilo com a eleição de Joseph Ratzinger para papa. Quanto mais rígida e conservadora a governança da Igreja, mais os fiéis dela se afastarão. Os ares do século se tornarão mais respiráveis.

A palavra boche surge na segunda metade do século XIX. Antes de designar o inimigo alemão, significava tête de boche, ou seja, uma pessoa de cabeça dura. Boche, em suas origens, é uma bola de madeira, daí bocha.

Louvado seja o Espírito Santo. Longa vida ao papa boche. Amém!

segunda-feira, abril 18, 2005
 
DE VOLTA DO FIM DO MUNDO


Por alguns dias, estive ausente deste espaço. Estou voltando do fim do mundo. Isto é, de Punta Arenas, Ushuaia e Puerto Williams, lá onde o Atlântico se encontra com o Pacífico. Naveguei pelo estreito de Magalhães e pelo canal de Beagle, por onde andou pesquisando Darwin. Antes da viagem, reli a biografia de Magalhães por Stephan Zweig, tentei ver o estreito com os olhos virgens do português. Nestes dias de bestsellers, se você quer mergulhar numa leitura fascinante, procure nalgum sebo ou biblioteca o livro de Zweig.

Mas hoje não dá mais. A passagem, já a conhecemos por fotos, filmes, reportagens. Paisagens magníficas, muita neve, glaciares e fjordes. Mas o melhor de tudo é que passei quase uma semana sem jornais nem TV, sem telefone nem rádio, nem Internet nem carros, nem crianças nem adolescentes. Melhor ainda, sem notícia nenhuma do Brasil, nem do mundo. E, suprema ventura, notícia nenhuma do Lula. Por uma boa semana, cheguei a esquecer que o Supremo Apedeuta existia.

Isso faz bem à alma. Junto aos glaciares, tomei uísque de doze anos, com uma pedrinha de gelo de... doze mil anos. Claro que, para honrar a pedrinha milenar, repeti com gosto as doses. Mas o melhor de tudo foi o isolamento total do mundo.

Voltei por Buenos Aires. Na Argentina, as manchetes dos jornais já me jogaram na cara notícias do Brasil. Adeus glaciares e fjordes, adeus baleias e leões marinhos, adeus ilhas e cormoranes. Ao leitor, uma dica: se você quer paz de encher a alma e beleza de encher os olhos, não hesite. Vá logo.

sábado, abril 09, 2005
 

NA CASA DO GRANDE CANALHA

Sempre considerei um canalha o homem que mente para sua mulher. Claro que é um canalha menor que um comunista, que mente para o mundo todo. Mas da mentira deste decorre a tirania e a justificativa da tirania, a morte de milhoes e o ocultamento da morte de milhoes. Da mentira do primeiro resulta apenas uma mulher enganada. Mas quem engana a mulher com quem divide o leito nao tem escrúpulo algum em enganar o resto do universo.

Estive ontem em La Chascona, em Santiago do Chile, uma das três casas de um destes magnos canalhas, Pablo Neruda. Nao é nenhum Neuschwanstein, mas tampouco é casa para milionário botar defeito. Como o mais vulgar dos burgueses, Neruda deu-a de presente a Matilde Urrutia, sua amante, quando vivia ainda seu segundo casamento. La Chascona porque assim era chamada Matilde, sua teúda e manteúda secreta.

O grande humanista, mais tarde prêmio Nobel de Literatura, nao tinha sequer a coragem de revelar à legítima seu caso com Urrutia. Neruda tem mais duas casas magníficas no Chile, uma em Isla Negra e outra em Valparaíso.

A casa, com formas que lembram um navio, é de um bom gosto extraordinário. Neruda era homem de origem pobre. O que só demonstra como pode ser lucrativo cantar os pobres e defender tiranos como Stalin. E assim viveram muitos dos grandes ícones do século passado.



sábado, abril 02, 2005
 
REJUBILAI-VOS, CARÍSSIMOS!


Em A Peste, de Albert Camus, o padre Paneloux faz uma longa exposição sobre os flagelos que acometeram os homens por vontade divina. Como o Cristo, ele aceita passivamente o Mal, sem mesmo se interrogar sobre as eventuais motivações da divindade. Se o Cristo, em um momento de sua agonia, deixa escapar o lamma sabachtani, Paneloux morrerá sem uma só palavra nos lábios.

"Há muito tempo, os cristãos da Abissínia viam na peste um meio eficaz, de origem divina, de se obter a eternidade. Aqueles que não haviam sido atingidos se enrolavam nos lençóis dos pestíferos para terem a certeza da morte. Sem dúvida, este desejo furioso de saúde não é recomendável, pois denota uma deplorável precipitação, bem próxima do orgulho. Não se deve ser mais apressado do que Deus. Tudo o que pretende acelerar a ordem imutável, estabelecida de uma vez por todas, conduz à heresia. Mas este exemplo, pelo menos, traz sua lição. Para nossos espíritos mais clarividentes, faz luzir este brilho delicado de eternidade que jaz no fundo de todo sofrimento. Esta luz ilumina os caminhos crepusculares que conduzem à libertação. Ela manifesta a vontade divina que, sem falhar, transforma o mal em bem".

Cristão não sendo, não vejo motivo algum para alguém enrolar-se em lençóis pestilentos para apressar o encontro com a eternidade. Mas dou razão ao padre Paneloux e aos cristãos da Abissínia. Se a eternidade é o sumo bem, melhor apressar a viagem até ela. Neste gosto pela morte reside a lógica do cristianismo, cujos praticantes bebem sangue, comem carne humana e têm como símbolo um instrumento de tortura.

Com a morte, já tenho intimidade suficiente. Os três seres mais queridos que um ser humano tem, ela já os ceifou. Agora só resta minha vida, o que para mim será refresco. Não tenho veleidade alguma de eternidade. Aliás, considero que vida eterna deve ser algo de uma monotonia insuportável. Suponho inclusive que o mais ardente desejo de um homem que fosse eterno seria o de morrer logo.

Perdi recentemente minha mulher, a companheira que elegi em meus jovens anos e que me acompanhou por quase quatro décadas - e por mais décadas me acompanharia, não fosse a visita da Indesejada das Gentes. Em função de seu trabalho, ela tinha relações no país todo. Mal começou a morrer, surgiram grupos de oração em várias cidades, todos desejando sua pronta volta à saúde. E mais: todos acreditando que teriam suas preces atendidas pelo tal de Ser Supremo. O segredo, segundo os crentes, era manter uma disposição positiva ante a doença e ela logo retornaria à vida plena. Para mim, que aceito a morte como uma decorrência natural da vida, tais correntes me aborreciam. Mas evidentemente não podia reclamar. Todas aquelas pessoas que oravam estimavam profundamente minha mulher e, do fundo de seus corações, a desejavam de volta. Como reclamar?

Houve até quem dissesse: "Estamos gastando todos nossos créditos junto ao Poderoso". A expressão até que me surpreendeu, pois jamais imaginei que o tal de Poderoso funcionasse como uma espécie de banco. Se este alguém apostou realmente todos seus créditos, hoje deve estar falido.

As preces foram inúteis, como são todas as preces. Por ocasião de seu passamento, a visão dos crentes mudou em segundos. "Não te preocupa. Agora ela vai ter muita luz. Vai se encontrar com a felicidade". Sem falar que minha Baixinha adorada era fotófoba e não levara óculos escuros nesta sua última viagem, outra preocupação me assaltou: mas se agora ela vai ser feliz, porque vocês oravam para que ela permanecesse aqui sofrendo? Não seria um gesto de humanidade orar para que morresse logo, para que seu sofrimento se abreviasse, para se encontrasse rápido com a suposta felicidade? Pensei isto, mas nada disse. Não era o momento de questionar a falta absoluta de lógica daqueles seres que, naquela ocasião, sofriam junto comigo sua morte.

Celebrar a morte - dizem os teólogos - é celebrar um encontro, o encontro pelo qual ansiamos por toda a vida. Encontro com Deus, nosso Criador e Senhor. Assim sendo, não consegui entender essas multidões chorando junto ao Vaticano e em todas as capitais do mundo, rezando pela recuperação de Sua Santidade João Paulo II. Já quase moribundo, o coitado tentava falar às multidões, quando mal conseguia respirar. Em seu esforço desesperado para emitir algum som - desesperado e inútil, pois sua garganta perfurada por uma cânula não mais o obedecia - sua boca parecia a de um peixe estertorando fora d'água. Sua miséria física era tal, que as autoridades vaticanas pediram aos fotógrafos evitar closes de seu rosto enrijecido pela enfermidade. Orar para que permanecesse é, a meu ver, demonstração de insólita crueldade. Pois nenhum leigo ignora que, se vivo permanecesse, o papa estaria reduzido a um estado vegetal.

Com seu fascínio pelas multidões, João Paulo promoveu um show midiático, com o exibicionismo de sua morte. A morte é algo pessoal, um momento privado, que o Papa insistiu em tornar obscenamente público. Se orassem para que o homem partisse, eu entenderia. Para que se libertasse desse sofrimento insano que se abate sobre sua carcaça mortal. Sacerdote de tão santos propósitos, certamente será recebido com todas as honrarias pelo deus do qual é vice. Se até o Deus encarnado morreu, porque não morreria seu lugar-tenente?

"Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" - pergunta-se Paulo em sua Iª Epístola aos Coríntios. Não se fazem mais Paulos como antigamente. Quando a televisão nos mostra multidões choramingando a morte de Sua Santidade, vemos que ninguém mais se deixa enrolar pela fanfarronice de Paulo. Quando um católico reza para que um moribundo não morra é porque não deposita muita confiança nessas promessas do Além.

Continua o apóstolo: "Quando este corpo corruptível se tiver revestido de incorruptibilidade e este corpo mortal se tiver revestido de imortalidade, então cumprir-se-á a palavra da Escritura: A morte foi tragada pela vitória". Se assim fosse, a morte de João Paulo seria motivo de júbilo. Mas o pranto dos crentes atesta a vitória incontestável da morte.

Confesso que acho muita graça na atitude destes senhores que crêem ser a morte um encontro com o Eterno, mas na hora do Jesus-está-chamando recorrem a medicinas de ponta. "Não se deve ser mais apressado do que Deus", dizia Paneloux. Mas tampouco me parece que um cristão deva opor-se aos desígnios divinos. A menos que queiram impor a João Paulo a agonia que foi imposta a outros valiosos instrumentos de Estado, como Francisco Franco e o marechal Tito. Era preciso mantê-los vivos enquanto não se decidia quem seriam seus sucessores. E foram sendo esquartejados aos poucos, pelo encarniçamento médico.

"Ele já vê e toca o Senhor", disse ontem o cardeal Camilo Ruini. Rejubilai-vos, caríssimos. Alegrai-vos como me alegrei, quando o rosto de minha Baixinha querida pendeu para o lado, a vida abandonou seu corpo que tanto sofria e ela rumou serenamente ao Grande Nada.

Quanto a vós, católicos, o Todo-Poderoso assim o quis. Que mais não seja, mais alguns dias e tereis outro para chorar.