¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, agosto 06, 2007
 
AIATOLICES DO MANOEL




Futebol nunca foi meu tema preferido, mas o caso em questão transcende o futebol. Um diretor do Palmeiras, José Cyrillo Júnior, referindo-se a um jogador do São Paulo, andou afirmando que futebol não é coisa para gay. O jogador quis processar criminalmente o cartola e teve de ouvir a sentença do juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, da 9ª Vara Criminal de São Paulo, que, entre outras pérolas, afirmava que "o futebol é jogo viril, varonil, não homossexual". Lembra ainda o Meritíssimo que o hino do Internacional consagra esta condição: "Olhos onde surge o amanhã, radioso de luz, varonil, seguir sua senda de vitórias"... A primeira pergunta que nos ocorre é que será então o futebol feminino? Pelo jeito, não deve ser futebol, afinal é jogado por fêmeas.

A segunda é se o juiz entende português. Varonil, no hino do time gaúcho, é o amanhã. Nada a ver com atletas.

Na decisão que rejeita a queixa-crime, disse ainda o Meritíssimo: "Se fosse homossexual, poderia admiti-lo, ou até omiti-lo, ou silenciar a respeito. Nesta hipótese, porém, melhor seria que abandonasse os gramados". O aiatolá Khomeiny não faria melhor. Ou mesmo a administração Bush, que já fala em perguntar sobre as preferências sexuais no formulário para o visto de entrada nos Estados Unidos. Se alguém é homossexual - ou heterossexual ou bissexual ou seja lá o que for em matéria de sexo - ninguém tem nada a ver com isto. O que se pede de um jogador de futebol é que jogue com competência. Clube de futebol não é Exército, onde ainda se finge - em nome de sei lá qual suposta virilidade - que no Exército não há homossexuais.

É espantoso que, em pleno século XXI, um juiz manifeste tais sandices. Estivéssemos em um país islâmico, onde a civilização ainda não chegou, até que se entenderia. Se prevalecesse o pensamento do aiatolá Manoel, melhor seria então que deputados homossexuais abandonassem o Congresso, que jornalistas homossexuais abandonassem o jornalismo, que professores homossexuais abandonassem o magistério. Ousaria tanto o magistrado? Ou só o futebol tem de ser viril? Serão as atletas do futebol feminino varões travestidos em donzelas?

Sempre entendi que tal fúria contra homossexuais esconde um desejo latente de confraternizar com o mesmo sexo. Melhor que o Manoel lesse o Fernando:

O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente.