¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, fevereiro 15, 2008
 
CABEÇAS-DE-TOALHA QUEREM
CENSURAR A WIKIPEDIA



“Tirem as ilustrações de Maomé da Wikipedia”, é o que exige um manifesto com assinaturas de mais de 160.000 internautas. Muçulmanos, é claro. Apelam ao respeito às religiões e argumentam que na cultura islâmica as imagens do profeta e outros seres humanos não são permitidas. As ilustrações que despertaram a ira dos sarracenos aparecem na entrada dedicada a Maomé na enciclopédia eletrônica. Uma delas data do século XV e provém de um manuscrito de Al Bïrüni, conservado na Biblioteca Nacional da França. A outra é considerada o primeiro retrato do profeta e data do século XIII.

Ora, imagens de Maomé estão reproduzidas em todas as enciclopédias do mundo, isso sem falar em milhares de livros que abordem o islamismo. Em meu Diccionario Literário Bompiani (15 volumes), no verbete Mahoma há oito ilustrações do profeta analfabeto. Quatro são de miniaturas árabes e duas de miniaturas persas. Ou seja, de culturas predominantemente islâmicas. Ora, a Bompiani é uma mais prestigiosas enciclopédias literárias da Europa. Pretenderão os cabeças-de-toalha que todas as bibliotecas do mundo queimem suas enciclopédias e livros sobre o Islã? Quando estes senhores ousarão pedir a censura da Divina Comédia? Pois neste poema emblemático da Europa cristã, Dante joga Maomé nos quintos dos infernos.

É claro que árabe algum está preocupado com reproduções da imagem do profeta pedófilo. Esta manifestação é obviamente uma campanha arquitetada por mulás para chantagear o Ocidente. Assim como foi o caso das caricaturas publicadas em um obscuro jornal dinamarquês. De repente, até na Indonésia muçulmanos analfabetos tinham lido o tal de jornal.

A Wikipedia resiste. Seus editores recusam-se a retirar as imagens de Maomé do site. Em uma FAQ, advertem que a proibição de imagens não é universal na comunidade islâmica e que os critérios editoriais da enciclopédia impedem censurar conteúdos “em benefício de qualquer grupo. Nenhuma imagem será suprimida da Wikipedia porque haja pessoas que as julguem ofensivas”.

Seria o caso de lembrar um pouco conhecido diploma do Ocidente, o acórdão dito Handyside, de 1976, reconhecido pela Corte Européia de Direitos do Homem. Que declara: "A liberdade de expressão vale não apenas para as informações ou idéias acolhidas com favor, mas também para aquelas que ferem, chocam ou inquietam o Estado ou uma fração qualquer da população. Assim o querem o pluralismo, a tolerância e o espírito de abertura, sem o qual não existe sociedade democrática".

É claro que fanáticos oriundos de teocracias jamais admitirão Handyside. É insólito, para dizer o mínimo, o atrevimento dos cabeças-de-toalha. Se querem proibir as imagens do profeta dentro de suas culturas, estejam a gosto. Mas que não pretendam impor ao Ocidente seu obscurantismo. Ainda bem que a Wikipedia tem suas raízes nos Estados Unidos. Se as tivesse na Europa, provavelmente já teria se dobrado à arrogância dos bárbaros.