¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, março 09, 2008
 
CHINA MAQUIA CADÁVER



A China é vista hoje como o último trunfo do comunismo. Após a queda do Muro, o desmoronamento da URSS e a miséria generalizada de Cuba, a China goza no Ocidente da fama de prosperidade econômica, mesmo sendo comunista. Quando este argumento é brandido, sempre fico com um pé atrás. Pois se a China tiver 100 milhões de ricos, isto não significa sequer 10% da população do país. Que é feito dos outros 90%?

Nos dias em que vivi na Suécia, um diplomata contou-me que, segundo as autoridades chinesas, a população do país oscilava entre 800 e 840 milhões. Essa margem de imprecisão era de... cinco vezes a população da Suécia. A China está se preparando para as Olimpíadas de agosto próximo com obras de arquitetura colossais, de fazer inveja ao Ocidente. Mas que sabemos da miséria do país?

No Estadão deste domingo, Cláudia Trevisan nos dá uma idéia do drama vivido pelo gigante asiático, e geralmente escondido do grande público. Segundo a repórter, um contingente de 150 milhões de chineses – quase um Brasil – vaga pelo país em busca de emprego na construção civil e em fábricas que não exigem qualificação.

Chamados de “migrantes rurais”, eles formam uma população flutuante, considerada clandestina em seu próprio país. Como são oficialmente moradores do campo, não recebem benefícios que os habitantes da cidade usufruem nas áreas de saúde e educação e são tolerados em razão da forte demanda por mão-de-obra barata.

Se quiserem matricular seus filhos em escolas públicas, por exemplo, são obrigados a pagar mensalidades muito mais altas que as cobradas das pessoas registradas como habitantes das cidades - a China tem um sistema chamado hukou, que restringe a movimentação de pessoas pelo país e divide a população entre urbana e rural. Também terão dificuldade para vacinar os filhos e conseguir a mais básica assistência médica gratuita.

As relações de trabalho são precárias. Normalmente não há contrato e o pagamento do salário é feito depois de seis meses ou um ano de trabalho. “Se eu trabalhar só dois ou três meses e quiser ir para casa, a empresa não me paga ou paga apenas uma parte do que eu deveria receber”, diz Wu
(camponês entrevistado pela repórter).

Pior ainda, há casos de não pagamento de salários. O governo chinês afirma que no período de 2004 a julho de 2007 ajudou migrantes rurais a recuperarem o equivalente a US$ 5,66 bilhões em salários atrasados. No início deste ano, começou a vigorar uma nova lei que estabelece punições mais severas para empresas que retiverem pagamento de operários, incluindo o de migrantes rurais.

Há quem tema a China como uma ameaça à economia ocidental. Se ameaça há, ela existe graças a um sistema de trabalho que podemos chamar de escravo. Ou seja, apesar de exibições arquitetônicas e de notícias sobre uma suposta prosperidade econômica, o comunismo na China continua sendo um fracasso, como o foi no mundo todo. Só o louvam as viúvas desesperadas de Moscou, que ainda querem um raminho em que segurar-se, em meio à catástrofe generalizada de um sistema ditatorial, obsoleto e ineficaz.

As Olimpíadas só servirão de maquiagem ao cadáver de uma ideologia moribunda.