¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

quinta-feira, março 13, 2008
 
Grave problema teológico

TORQUEMADA DE PLANTÃO PROÍBE CELÍACOS
DE DEGUSTAR A CARNE DO CRISTO


Há doenças estranhas nesta vida. O primeiro celíaco que conheci, fui encontrá-lo em Vaasa, na Finlândia. Era marido de uma boa amiga. Quando viajava ao Brasil, fazia seu próprio pão. Pois não podia ingerir glúten, esta proteína do trigo que aparece em massas e farinhas, que dá liga na massa e também ajuda o pão a crescer. As pessoas hipersensíveis ao glúten não conseguem digerir a proteína e, por isso, são obrigadas a abrir mão de pães e massas ricas em glúten. Sob pena de enfrentar diarréias colossais e ficarem desnutridas e desidratadas. Se o doente celíaco abusa do consumo de glúten – dizem os médicos - o intestino fica plano e não absorve os nutrientes. Isso causa desnutrição e, em casos graves, pode levar à morte.

Aconteceu em Huesca, na Espanha. O vigário da diocese local está sendo criticado por não permitir que um menino celíaco, que quer fazer a Primeira Comunhão, comungue com uma hóstia sem glúten. Seus pais sugeriram uma hóstia de milho, em lugar de uma feita com trigo, que poderia ter sérias conseqüências para sua saúde.

Os pais do menino, que se declaram católicos praticantes, ficaram chocados quando o pároco da Igreja de Santiago, da capital aragonesa, e depois o vigário da diocese de Huesca, lhes negaram a seu filho a possibilidade de receber a comunhão com pão de milho, fornecido pela Asociación de Celíacos. A Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana considera que as hóstias sem glúten são “inválidas para o sacramento”.

Aqui entra no imbróglio Joseph Ratzinger, o Torquemada de plantão. Segundo um documento emitido em 1995 pelo atual papa, as hóstias sem glúten são inválidas para o sacramento, embora considere “matéria válida” se nelas permanece a quantidade de glúten suficiente para obter a panificação.

Os pais do menino celíaco tentaram outra alternativa. Que em vez de comer a carne do Cristo, o filho bebesse seu sangue. Isto é, que comungasse com o vinho consagrado pelas mãos mágicas do sacerdote segundo a Ordem de Melquisedec. Os padres se opuseram a que o menino tomasse vinho, alegando que o consumo de vinho está proibido a menores. Os pais sugeriram que comungasse com mosto, mas o vigário insistiu em que tinha de ser vinho.

Segundo o vigário José Antonio Satué, para a Igreja há coisas “muito, muito sagradas, como os sacramentos”, cujas disposições “nós não podemos mudar, porque são para a Igreja universal”. Acrescentou ainda que não se pode fazer exceções. Admitiu que a comunhão talvez pudesse ser feita sub specie vinho. “Não creio que seja ilegal que as crianças tomem meio sorvo de vinho na comunhão”, disse. Segundo o vigário, a disposição da Santa Sé em como administrar este sacramento, “não tem dispensa” neste sentido, não dependendo assim nem da paróquia nem do bispado poder proporcionar a alternativa da hóstia sem glúten.

Ora, acabo de repassar a Bíblia, que institui a Eucaristia. Nela sequer existe a palavra glúten. De onde, como e quando, concluiu o pastor alemão que a hóstia há de ser de glúten?

Pobre menino, este aragonês que foi privado, por arabescos teológicos, de degustar a carne do Cristo! É de perguntar-se quais graves problemas de distorção da personalidade afetarão sua vida adulta.

Baita desumanidade, privar uma criança da sagrada experiência da antropofagia!