¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, março 12, 2008
 
QUANDO LADRÃO DE GRAVATAS
NÃO É LADRÃO DE GRAVATAS




Quando Henry Sobel furtou quatro gravatas no ano passado, comentei com um delegado da Polícia Federal: “Não acredito que um homem comece a roubar gravatas aos 63 anos. Ele deve ter começado antes”. Sobel confirma minha intuição. Em Um Homem. Um Rabino, sua autobiografia, o rabino confessa que é reincidente. "Tenho de admitir publicamente que o caso de Palm Beach teve um antecedente. Em 1985, na mesma cidade da Flórida, no mesmo centro comercial, apanhei uma gravata e saí sem pagar. Fui barrado por um segurança na porta, paguei a gravata e não houve conseqüências – nem fotografias".

Ou seja, já praticava o esporte aos 41 anos. Vou arriscar outro palpite. Não consigo crer que um homem que roubou uma gravata aos 41 anos, só volte a roubá-las aos 63. Creio que o bom rabino está nos furtando informações.

Sobel não aceita a condição de ladrão de gravatas. Em sua defesa, alega que seus advogados “concluíram que eu tinha um problema de saúde, não um problema moral ou ético. Eu não era um ladrão de gravatas". Pergunta que se impõe: era doente quando roubou quatro gravatas? Ou já era doente quando roubou uma, 22 anos atrás? Pobre homem, que portou esta estranha doença – sequer definida pelos dicionários – por mais de duas décadas. Gravatolatria? Gravatofilia? Quando mais se explica o rabino, mais se enrola.

Comentei outro dia a exegese rabínica da midrash, na qual o significado de um texto não é evidente em si mesmo. O exegeta tinha de ir a sua procura, porque cada vez que um judeu se confrontava com a palavra de Deus na Escritura, ela significava algo diferente. A Escritura era inesgotável. Os rabinos gostavam de salientar que o rei Salomão usara três mil parábolas para ilustrar cada versículo da Torá e podia dar 1.005 interpretações de cada parábola - o que significava que havia três milhões e 15 possíveis exposições de cada unidade da Escritura. Quer dizer, se a Bíblia diz isto, você pode perfeitamente entender como sendo aquilo.

É possível que o bom rabino tenha aplicado a seu caso esta peculiar técnica hermenêutica, o que permitiria a um ladrão de gravatas concluir, com toda autoridade, que não é ladrão de gravatas. No máximo, um gravatófilo.