¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, abril 01, 2008
 
PORQUE MEUS PÉS
JAMAIS PISARÃO CUBA




Nunca fui a Cuba. Nem pretendo ir. Se fosse, seria hospedado em hotéis onde é proibido ao cidadão comum entrar. Comeria em restaurantes onde é proibido ao cubano comer. Ou seja, visitaria um país artificial montado para turistas e interditado aos nacionais.

Raúl Castro teria liberado aos cubanos a hospedagem em hotéis antes reservados apenas aos turistas. É o que dizem os jornais. Ora, o salário médio mensal do trabalhador cubano é de menos de 20 dólares. A diária de uma suíte no Hotel Nacional, de Havana, custa 323 dólares. Ou seja, se um pobre diabo conseguir economizar 16 meses inteiros de seu salário, conseguirá hospedar-se ... um dia no Nacional. Mais viável eu hospedar-me um dia no Burj el Arab, no Dubai, que um cubano hospedar-se em um hotel internacional em Cuba.

Em entrevista à agência Reuters, um cubano, o autônomo Alfredo Hernández disse que não tem dinheiro para entrar num hotel. "Mas fico feliz em saber que tenho essa opção se quiser”. Que opção?

O comunismo perverteu as economias de todos os países onde se instalou. Mesmo na Rússia, onde o regime desmoronou há quase vinte anos, a vida ainda é inviável para seus cidadãos. Para o estrangeiro, com divisas fortes, é viável. Quando lá estive, encontrei restaurantes de luxo onde conseguia comer – a dois – por pouco mais de vinte dólares. É preço muito barato para um restaurante europeu. Mas proibitivo a um russo. Ora, não vou a um país para conviver com turistas. Na França, como com franceses. Na Espanha, com espanhóis. Na Itália, com italianos. Na Rússia, só comi junto a japoneses e americanos.

Em Madri, adoro freqüentar aquela cave medieval do Café Oriente, em frente ao Palácio Real. É onde às vezes costuma comer El Rey. Pode-se comer com bom vinho – sempre a dois – por algo em torno de cem euros. Ou até menos, conforme o vinho. Pode até ser caro para um brasileiro. Mas está ao alcance de qualquer operário espanhol, cujo salário está em torno a mil euros ao mês. Ou seja, onde come o rei, o operário pode também comer.

O novo governo cubano acena – teoricamente – aos cidadãos cubanos com o fim de um privilégio antes reservado a estrangeiros. Raúl Castro mente. O privilégio de hospedar-se em um hotel em Cuba continua reservado a estrangeiros. O tal de Hernández acha que pode hospedar-se em um hotel. Não pode. Não tem condições sequer de degustar as lagostas que o governo cubano reserva a quem paga em moeda forte.

Os estragos do comunismo não conseguem ser consertados com decisões oficiais do governo. Exigem décadas de transição ao capitalismo. Amigos insistem em que devo visitar Cuba, antes que morra o tirano. Para ver como é que é. Ora, a miséria socialista, eu já a conheci na Romênia, Tchecoeslováquia, Alemanha Oriental e mesmo na Rússia pós-91. Não tenho desejo algum de revisitá-la.

Como não tenho mais décadas de vida pela frente, meus pés jamais pisarão solo cubano. Mas, mês que vem, andarão percorrendo as ruas de Madri e Paris.