¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, janeiro 10, 2009
 
ARQUITETO CADUCO
LOUVA ASSASSINO



De vários leitores, recebi o artigo de Oscar Niemeyer publicado ontem na Folha de São Paulo, onde o arquiteto responsável pela criação de uma das mais horrendas cidades do mundo manifesta sua admiração por Stalin. Escreve o celerado:

Estou no Rio, em meu apartamento em Ipanema, alheio à agitação que hoje, 31 de dezembro, afeta toda a cidade. Recebo, pelo telefone, o abraço de fim de ano de meu amigo Renato Guimarães, lembrando-me, com entusiasmo, do livro sobre Stálin que, meses atrás, lhe emprestei. Uma obra fantástica do historiador inglês Simon Sebag Montefiore, sobre a juventude de Stalin, que tem alcançado enorme sucesso na Europa, reabilitando a figura do grande líder soviético, tão deturpada e injustamente combatida pelo mundo capitalista.

Cá entre nós, confesso que tenho mais apreço por homens como Oscar Niemeyer ou Ariano Suassuna, que têm a coragem de assumir o stalinismo, do que por stalinistas em pele de cordeiros petistas, como Tarso Genro, José Genoíno ou Roberto Freire, do PPS. Pois exige-se muita coragem intelectual hoje – ou falta de pudor histórico, como quisermos – para defender um assassino como Josiph Vissarionovitch Djugatchivili, responsável pela morte de vinte milhões de pessoas.

Ocorre que Niemeyer, além de estar caduco, ouviu apenas metade da missa. Pelo jeito, desconhece obra anterior de Montefiore, Stálin - a corte do czar vermelho, 860 pgs, Companhia das Letras, tradução de Pedro Maia Soares. Editada originalmente em 2003, esta biografia é trabalho invejável do jovem pesquisador (o autor nasceu em 1965), que narra o dia-a-dia, cada frase, cada gesto de Stalin. Montefiore parece ser um observador onisciente e onipresente. O livro é lido com o sabor de um romance. Com um detalhe: os horrores nele narrados - com fria objetividade - nada têm de fictícios.

É leitura que recomendo vivamente, particularmente aos jovens, em especial àqueles que nunca ouviram falar de Stalin. Sem Stalin não se entende o século passado. Tivesse Niemeyer lido este livro, certamente não estaria falando na “obra fantástica do historiador inglês Simon Sebag Montefiore”.

Ainda não li o estudo sobre a juventude do grande facínora. Mas é possível que o jovem Stalin seja visto sob uma luz favorável. Os jovens nunca têm chance de começar a vida cometendo massacres. Para cometer massacres é preciso estar no poder, e ao poder só se chega na adultez. Josiph Vissarionovitch Djugatchivili só mostra as garras após a morte de Lênin, em 1924, quando assume as rédeas do Estado soviético. Para matar em massa, é preciso ter em mãos instrumentos de matar em massa. E disto o jovem Stalin não dispunha.

Observação: o tradutor deste livro de Montefiore, ao referir-se aos cortesãos, seguidamente recorre à expressão cu-de-pedra, que não consigo encontrar em nenhum dicionário brasileiro ou português. Encontrei-a em espanhol, culo de piedra, onde quer dizer nádegas duras. Ao que tudo indica, o tradutor traduziu a partir do espanhol e deixou-se enganar pelo som das palavras. Talvez quisesse dizer - suponho - cu-de-ferro.