¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, dezembro 09, 2009
 
TARDE PIARAM OS SUÍÇOS


Eu chegava em Lisboa, dia 29 do mês passado, quando algo ocorreu na Europa, mais precisamente na Suíça. Cidadãos conclamaram um plebiscito para decidir se seria permitida a ereção de minaretes nas mesquitas construídas para culto dos imigrantes. Dava-se como certo que a maioria da população rejeitaria a proibição. Mesmo assim, analistas temiam que pelo menos 30% da população votasse contra os minaretes, o que azedaria as relações com o universo muçulmano. Aconteceu então o insólito: 57 % dos suíços votaram contra os minaretes.

Preponderou a argumentação do líder político Oskar Freysinger, que denunciou o avanço do Islã na Europa. “Em nome da tolerância, não se deve introduzir a intolerância na Suíça. O pensamento muçulmano não vê o mundo como nós e escapa a todo controle democrático”. Freysinger desmontou os argumentos de adversários desta iniciativa, que temiam medidas de represálias. Os petrodólares permaneceriam na Suíça mesmo se a medida passasse, pois os Estados muçulmanos conhecem bem as vantagens de aplicar no país.

«Se a vida é insuportável para os muçulmanos, eles podem muito bem apanhar suas coisas e voltar aos países de origem», disse um delegado romanche. Um outro evocou a «erradicação do cristianismo» com a construção dos minaretes. Não me parece que a construção de minaretes possa erradicar o cristianismo da Europa. Mas tampouco posso conceber Genebra ou Zurique com minaretes sobrepondo-se às catedrais. Da mesma forma, é de supor-se que os países árabes não admitiriam a proliferação indiscrimanada de catedrais em seus territórios.

Mas o problema não reside nisto. Por um lado, mesquita é o lugar onde o crente reza e ponto final. No Saara argelino, vi mesquitas que sequer tinham paredes ou teto. Eram vazios no deserto. Se os crentes ali rezavam, era lugar de oração. Minarete já é uma ostentação de poder. Sem falar que você tem de agüentar cinco vezes por dia a voz esganiçada – e amplificada - do muezim conclamando os brutos à prece. Verdade que na Suíça esta conclamação não existe. Mas quem diz que quando a Suíça estiver crivada de minaretes, os cabeças-de-toalha não irão exigir o direito à conclamação à prece?

Por outro lado, os muçulmanos não aceitam as regras dos países para os quais migram e querem impor as suas. Suas mesquitas são madrassas, escolas de islamismo e ódio ao Ocidente. Insistem na poligamia, no casamento forçado, na ablação do clitóris, no véu e no feriado às sextas-feiras. Nada tenho contra a poligamia. Mas se um homem pode ter quatro mulheres, por que uma mulher não pode ter quatro homens? E se um imigrante em países ocidentais pode ser legalmente polígamo, por que não pode o cidadão ocidental? Quando existem duas ou mais legislações distintas em um país, não temos mais um país, mas dois ou mais países.

Quanto à ablação do clitóris, se estes animais alimentam medos em relação à mulher, melhor que voltem a seus estreitos universos mentais. Nos dias em que estive em países muçulmanos, aceitei suas regras. Não bebi álcool, não entrei em mesquitas com calçados, tampouco olhei para as mulheres locais, o que é considerado ofensivo. Se eles quiserem viver na Europa, que respeitem as regras do continente que os acolhe.

A decisão dos suíços está tentando países como Dinamarca, Alemanha ou Holanda a pensar no mesmo plebiscito. Que a meu ver é urgente. A França, muito politicamente correta, com complexo de culpa da guerra argelina e já entregue à invasão islâmica, olha com espanto para o país vizinho. O mesmo não pensam Portugal e Espanha, onde « los moros » não gozam de simpatia alguma.

O mesmo não pensa Tarik Ramadan, filho de imigrantes nascido em Genebra, que considera ser o islamismo uma religião européia. Ocorre que não é. Se o cristianismo aclimatou-se à Europa, o mesmo não se pode dizer do Islã. Para Ramadan, a UDC – partido que promoveu o plebiscito - pretendia inicialmente promover uma campanha contra os métodos islâmicos tradicionais para abater animais, mas temeu esbarrar na sensibilidade dos judeus suíços, e se voltou então contra os minaretes, eleitos como alvo mais adequado.

Ramadan sofisma. Não é uma questão de abate de animais o que move os suíços a repelir minaretes. E sim o totalitarismo de uma religião intolerante, que até considera que quem nela não crê deve ser exterminado. O mesmo criam os seguidores da Bíblia, e aí está a Inquisição como prova. Mas o cristianismo civilizou-se pelo menos um pouco e hoje até seus sacerdotes praticam tranquilamente o homossexualismo. No Islã, esta prática continua sendo punida com prisão e morte.

Ramadan continua sofismando:

“Todos os países europeus escolhem símbolos ou temas específicos por meio dos quais os muçulmanos locais são perseguidos. Na França, é o lenço ou a burca; na Alemanha são as mesquitas; na Grã-Bretanha, a violência; na Dinamarca, os quadrinhos; na Holanda, o homossexualismo - e assim por diante. É importante enxergar além desses símbolos e compreender o que está de fato acontecendo na Europa como um todo e na Suíça em particular: enquanto países europeus e seus cidadãos passam por uma crise de identidade real e profunda, a nova visibilidade dos muçulmanos europeus se mostra problemática - e assustadora”.

Nada disso. Muçulmano algum está sendo perseguido. Pelo contrário, gozam de todos as benesses das sociais-democracias européias que os acolhem, de benefícios sociais que jamais teriam em seus países de origem. Mulher alguma é proibida de usar véu ou burka na França. Apenas não pode usar na escola. Como identificar uma aluna de burka ou com véu que lhe cubra o rosto? Na Itália, os muçulmanos chegaram a exigir o uso de véu nos documentos de identidade. Ora, como identicar um rosto com véu?

Se a violência é quinhão dos árabes na Inglaterra – como também em vários países da Europa – pretenderá Ramadan que esta violência seja ignorada? Quem condenou os quadrinhos na Dinamarca? Foram os mulás, que não admitem a reprodução da imagem do profeta. Mas não tiveram a ousadia de condenar as enciclopédias que desde há muito a reproduzem. Quanto ao homossexualismo, façam-me o favor. Em pleno século XXI, não se pode condenar alguém à prisão ou à morte por uma questão de preferência sexual.

Ao proibir minaretes, os suíços estão rejeitando uma visão medieval do mundo e o totalitarismo inerente ao Islã, a uma filosofia de Estados teocráticos. Tarde piaram os suíços. A meu ver, deveriam ter rejeitado há muito até mesmo as mesquitas. Em Estados democráticos, não se pode aceitar filosofias, partidos ou religiões que neguem a democracia.