¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV
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domingo, agosto 08, 2010
KALOCAINA - XXVI Karin Boye Tradução do sueco de Janer Cristaldo Tarde da noite pulei da cama e disse: – Preciso salvar Rissen. Eu denunciei Rissen. Ela não fez perguntas. Corri até o porteiro, acordei-o e pedi o telefone emprestado. Quando soube que se tratava de uma ligação com o chefe de polícia, não fez objeção alguma. Impossível falar com Karrek, ele dera ordens estritas para que ninguém o incomodasse durante a noite. Após muitos embaraços e correrias, um vigia sensato chegou finalmente ao telefone e acalmou-me dizendo que nada podia ser decidido durante a noite. Se, por outro lado eu quisesse encontrar o chefe de polícia pela manhã, uma hora antes do início do trabalho, ele o avisaria e eu poderia ir a seu encontro para saber se me receberia. Voltei a Linda. Continuou sem fazer perguntas. Não sei se por que ela entendera tudo ou se porque esperava que eu dissesse algo. Mas eu não podia falar, ainda não. Minha língua sempre fora um instrumento flexível e dócil, mas agora recusava-se a cumprir seu serviço. Assim como eu há pouco havia ouvido pela primeira vez em minha vida, eu sabia, que se agora quisesse falar, teria de ser de uma forma completamente nova, para a qual eu ainda não estava maduro. Meus ímpetos, que agora se fariam palavras, jamais haviam formado uma. Mas elas tampouco eram necessárias. Eu havia dito o que precisava – e Linda me entendera, quando deitei a cabeça em seus joelhos. Calamo-nos novamente, mas agora o silêncio era de outra espécie, diferente daquele que antes me torturava. Agora apenas esperávamos, e o mais difícil já havíamos superado. Em meio à noite, sem que nenhum de nós pudesse dormir, Linda disse: – Achas que existem muitos que sentiram isto? Talvez entre teus interrogados. Eu preciso encontrá-los. Pensei com inveja na pequena mulher esguia, de quem eu banira as falsas esperanças. Que amarga desconfiança não carregaria agora! Pensei na seita de loucos que fingiam dormir entre pessoas armadas. Estariam agora todos na prisão com a nova lei. Ela voltou a perguntar: – Achas que existem muitos que experimentaram isto? Que começaram a entender o que é gerar? Outras mães? Ou pais? Ou amantes? Que não ousaram falar do que descobriram, mas que ousariam quando outro ousou. Eu preciso encontrá-los. Pensei na mulher de voz profunda, que falara sobre o orgânico e o organizado. Ela havia escapado da prisão, mas de qualquer forma eu não sabia onde se encontrava. E mais tarde, bem mais tarde, como de um mar de sono: – Talvez possa nascer um novo mundo daqueles que são mães, sejam mulheres ou homens, tenham filhos ou não. Mas onde estão? Sobressaltei-me, e totalmente desperto pensei em Rissen, que soubera, tateara e buscara o tempo todo o que existia em mim, e que eu enviara à morte. Com um soluço, apertei-me fortemente a Linda. |
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