¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, setembro 30, 2010
 
Os grandes mistérios bíblicos:
TRÊS PESSOAS NUMA SÓ E UM
SÓ HOMEM EM DUAS MULAS



Já falei de meu urólogo, o que me prescreve não só remédios mas também bons livros. Aconteceu que um dia cheguei em seu consultório com um dicionário de teologia, como leitura de espera. “Ah, és chegado a essas leituras?” – me perguntou. Era. A partir daí, cada encontro é uma troca de bibliografias. Ele é leitor dos bons. Seguidamente o encontro nos cafés do bairro, sempre munido de livros.

Sua última prescrição foi A Origem do Cristianismo, de Karl Kautsky, publicado em 1908. Kautsky é um historiador marxista e seus ensaios foram considerados por Lênin um “patrimônio perdurável do proletariado”. No livro, fiel à sua filosofia, o autor emprega o termo proletariado – a meu ver abusivamente – para designar parte da população do Império Romano de baixo poder aquisitivo e livre de imposto, considerados úteis apenas pela prole que geravam. Em seu afã de analisar o cristianismo a partir de conceitos do século XIX, Kautsky usa a palavra comunismo para retratar o coletivismo em que viviam certas comunidades judaicas, sobretudo os essênios e os zelotes. Apesar do viés marxista, o livro propõe uma análise percuciente da emersão do cristianismo na sociedade romana. O autor discute os grandes mistérios da nova seita.

“O pensamento cristão, em tal esforço para dar prestígio ao Messias, encontrou uma pequena dificuldade: o monoteísmo, que recebeu dos judeus. Um Deus gerando um filho não é nada anormal no politeísmo: é mais um deus. Mas fazer com que um Deus gere outro e permaneça uma unidade, isto não é tão fácil de explicar. E o assunto não se simplificava isolando o poder criativo emanado da divindade de Deus na forma de um Espírito Santo especial. O problema era agora acomodar essas três pessoas sob um só conceito que abarcasse as três. Essa foi uma tarefa em que a mais extravagante fantasia e fina sutileza fracassou. A Trindade tornou-se um dos mistérios em que se devia crer, mesmo sem entendê-lo; um mistério em que se devia crer precisamente em razão de seu absurdo”.

Constantino I, imperador romano que andava em busca de um deus poderoso para seu império, adotou o deus judaico-cristão. Mas logo percebeu que com essa história de Pai, Filho e Espírito, a nova religião estava voltando ao politeísmo. Então decretou, no Concílio de Nicéia, realizado sob sua sombra em 325 d. C., que os três eram um só. Não entendeu? Não é para entender mesmo. É mistério.

Mas Kautsky trata também de mistérios menores, que só um leitor atento da Bíblia percebe:

“Como uma curiosidade divertida, chamemos aqui a atenção para o milagre literário realizado por Mateus ao apresentar Jesus sentado simultaneamente sobre dois animais ao entrar na cidade. (Bruno Bauer, Kritik der Evangelien, vol. III, p. 114). As traduções tradicionais ratificam esse milagre. Assim Lutero traduz: "E trouxeram o asno e o jumento e puseram sobre eles seus mantos; e o sentaram sobre eles". (Mateus XXI, 7) Mas, no original, lemos: "E trouxeram o asno (fêmea) e o jumento e puseram seus vestidos sobre ambos e o sentaram sobre ambos". E apesar de todas as liberdades anteriores tomadas por artistas literários, essa falsidade foi reescrita século após século, por um copista após outro, o que prova a irreflexão e simplicidade dos compiladores dos Evangelhos”.

Kautsky terá consultado antigas edições da Bíblia. Neste século, os tradutores tentaram tornar mais verossímil o episódio. Na tradução do João Ferreira de Almeida encontrei:

Indo, pois, os discípulos e fazendo como Jesus lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram os seus mantos, e Jesus montou.

O que já é um pouco diferente. É também mais ou menos o que está na Bíblia de Jerusalém. Na versão da Alliance Biblique Universelle, consta:

Les disciples partirent donc e firent ce que Jésus leur avait ordonné. Ils amenèrent l'ânesse et l'ânon, posèrent leurs manteaux sur eux et Jésus s'assis dessus.

E para quem entende a língua usada por Mateus, segue o texto em grego transliterado:

Poreuthentes de oi mathētai kai poiēsantes kathōs prosetaxen autois o iēsous ēgagon tēn onon kai ton pōlon kai epethēkan epanō autōn ta imatia autōn kai epekathisen epanō autōn o de pleistos ochlos estrōsan eautōn ta imatia en tē odō alloi de ekopton kladous apo tōn dendrōn kai estrōnnuon en tē odō.

Mistério, profundo mistério…

quarta-feira, setembro 29, 2010
 
RECÓRTER TUCANOPAPISTA HIDRÓFOBO
LOUVA PASTOR EVANGELISTA HISTÉRICO



Cultivo certos hábitos perversos. Um deles é assistir aos programas dos pastores televisivos nas madrugadas. Ver aqueles vigaristas pregando sandices para milhares de pessoas extasiadas, que parecem estar ouvindo a voz de Deus, é uma lição e tanto sobre a humana estupidez. Meus prediletos são R. R. Soares e Silas Malafaia. O primeiro pertence à raça daqueles camelôs capazes de vender geladeiras no Pólo Norte. O segundo ameaça os crentes com as chamas do inferno, dando pulinhos histéricos e emitindo gritinhos com voz de taquara rachada, com um dedo sempre acusador assestado contra os pecadores.

De repente, se torna manso e passa a vender bíblias e interpretações da Bíblia, todas visando um único fim, o sucesso financeiro. É o que está comendo pelas beiradas as hostes da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Enquanto esta prega a pobreza, os ditos neopentecostais vendem um deus que quer sua prosperidade econômica. Basta você crer e seus problemas financeiros estão resolvidos. Basta orar nos templos e ouvir os pastores – e pagar o dízimo, é claro – e no dia seguinte você terá mansão com piscina, conta corrente gorda nos bancos e carros importados na garagem. Interessante observar que os crentes, quando entrevistados, jamais mencionam carros nacionais. Todos têm carros importados.

Ainda há pouco, Silas Malafaia anunciava a Unção Financeira dos Últimos Dias, na qual o Senhor realizará uma grande transferência de riqueza dos ímpios para os justos. Para você ser beneficiado com essa transferência, basta plantar uma semente de fé de 610 reais. Em pouco tempo, esta sementinha começará a frutificar. Paz em Cristo!

Para o pastor, há muito deve vir frutificando. Pois há uma malafaiada danada no divino mercado. É pai, mãe, filha, cunhado e parentes outros. Isso que a sementinha de fé não é para qualquer mortal. É mais de um salário mínimo. Perplexo, contemplo nas madrugadas aqueles magotes de panacas deixando-se levar pela lábia dos pastores. Se bem que cansei. Hoje, praticamente abandonei este vício. De vez em quando, tenho recidiva.

Mas há um outro que não largo. O de ler cronistas medíocres. Sei lá por quê. Talvez porque ao lê-los tenho uma idéia da miséria intelectual que me envolve sem sair de casa. Meu dileto é o recórter tucanopapista hidrófobo da Veja. É o mais divertido dos medíocres. Seus pulinhos e gritinhos histéricos em relação ao PT e sua subserviência incondicional ao PSDB me lembram o Malafaia.

Só que seus gurus acabam por traí-lo. Durante anos, condenou o PT qualificando a tal de bolsa-família como bolsa-cabresto ou bolsa-esmola. E não é que agora seu ídolo, desesperado ante o desastre eleitoral que o espera no próximo domingo, não só prometeu aumentar a bolsa-esmola como também acena com uma décima terceira esmola ao ano? Coisas que acontecem. Ante a proposta de Serra, o recórter fez ouvidos de Mercadante.

Minha associação do recórter tucanopapista hidrófobo com o pastor vigarista histérico pelo jeito procede. Me alerta um leitor:

Você viu a última de Reinaldo Azevedo? Caiu na lábia do pastor Silas Malafaia, um eloqüente vendedor de livros assembleiano. Ao que parece, Azevedo gostou da adesão de Malafaia à candidatura de Serra. Logo o jornalista de Veja, que não é chegado a religiões protestantes que adoram uma teoria da prosperidade. O tal Malafaia oferece milagres financeiros via transferência de rende divina dos ímpios para o seu rebanho. É demais...

Em sua coluna de hoje, o recórter faz uma louvação desbragada de Malafaia.

Um pronunciamento exemplar de Silas Malafaia, líder evangélico, sobre liberdade de expressão, religião e eleições

Abaixo, segue um vídeo de um líder evangélico que costuma ter opiniões muito claras — o que alguns confundem com posições polêmicas. Aliás, no Brasil, ultimamente, se você evita a ambigüidade, logo vira um “polêmico”. Trata-se do pastor Silas Malafaia, da Assembléia de Deus Vitória em Cristo. Ele faz uma das melhores defesas que já ouvi da liberdade de expressão e trata de modo muito correto a relação entre fé e política.

Não estou me alinhando com esta ou com aquela opiniões (sic!) de Malafaia. O que me interessa em sua fala é a abordagem irretocável sobre democracia e estado de direito. Assista. Volto em seguida.


E tudo isto por quê? Porque o divino pastor passou a apoiar o santo homem José Serra. Se amanhã Fernandinho Beira-Mar ou Marcola apoiarem o tucano, o recórter neles conseguirá encontrar alguma virtude. Se um cachorro apoiar o Serra, dia seguinte teremos uma ode ao cachorro.

Vergonha para o jornalismo nacional. Veja vai mal.

terça-feira, setembro 28, 2010
 
FUTURA PRESIDENTA APÓIA,
IMPERTÉRRITA, GOVERNADOR
CORRUPTO DO TOCANTINS



Leio no Estadão que o governador Carlos Gaguim, do Tocantins, é citado 66 vezes em relatório sobre organização criminosa acusada de fraudes em licitações públicas. O Ministério Público de São Paulo, que investiga as fraudes, é taxativo quando fala de Gaguim. "Em razão de seu apoio, o governador teria sido agraciado com viagens, estadias em hotéis de luxo, participação em eventos automobilísticos e até com o serviço de prostitutas."

Não bastasse isto, o governador corrupto pediu – e obteve, graças aos bons préstimos de um desembargador amigo que tem sua mulher e sogra empregadas pelo Estado – a censura a 8 jornais (entre eles o Estadão), 11 emissoras de TV, 5 sites, 20 rádios comerciais e 40 rádios comunitárias. No total, 84 órgãos de imprensa. A liminar do desembargador amigo foi derrubada 72 horas depois pelo Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins. Gaguim teve inclusive a audácia de mobilizar um efetivo de 30 policiais militares que, armados de fuzis, ficaram de prontidão no Aeroporto de Palmas para impedir a distribuição da revista Veja, que denunciava a tramóia.

Ontem ainda, a candidata Dilma Rousseff, impertérrita, abriu o programa eleitoral de Carlos Gaguim: "Peço, para governar Tocantins: vote Gaguim", disse Dona Dilma. Enfim, nada de espantar em quem apóia José Sarney e Fernando Collor e teve como braço direito Erenice Guerra. Mas a candidata está nadando de braçada neste final de campanha. Está tão certa de sua vitória que nem se preocupa em pedir votos para um governador notoriamente corrupto, que pediu – e conseguiu – a censura da imprensa por pelo menos três dias.

Se a terrorista impenitente se comporta com tal desenvoltura a seis dias do pleito, já temos uma pálida idéia de como se comportará uma vez eleita. Quem viver, verá.

 
FALTAVA O LIBÉ?
NÃO FALTA MAIS



Ainda há pouco eu comentava a vergonha de uma imprensa francesa que se vende ao PT. Escrevi na ocasião: "Se comprou mais um jornal francês, terá comprado outros mundo afora. Na França, falta ainda comprar o Libé e o Nouvel Obs. Basta esperar para ver".

O Libération não falta mais. Está publicando hoje um suplemento especial de 16 páginas, com título de capa Lula, le Brésil réinventé. Pelo título, o leitor pode ter uma idéia do conteúdo da publicação.

segunda-feira, setembro 27, 2010
 
BRASIL NÃO MERECE
SEQUER UMA LÁGRIMA



Domingo que vem é meu dia de protesto cívico. Como faço há já vinte anos, não vou votar. Há quem defenda a idéia de votar no candidato menos pior. Discordo. Menos pior também é pior. Sem falar que me parece absurdo, em regime democrático, ser obrigado a votar. Em todo o Primeiro Mundo, o voto é facultativo. Só nesta América Latina, que vai a reboque da História, é obrigatório.

Obrigatório em termos. Você sempre pode anular seu voto. Mas tem de comparecer às urnas. É o que tenho feito de 1990 para cá. Meu título continua em Florianópolis. No domingo, perto de meio-dia, vou justificar a ausência de meu domicílio eleitoral. E depois vou para meu boteco, aperitivar. Hoje, em São Paulo, pode-se beber em dia de eleições. Quando não se podia, meu garçom me servia um uísque e punha ao lado do copo uma garrafa de guaraná.

Não quero ser radical. Mas diria que qualquer pessoa de bom senso não pode votar nestas eleições. De um lado, a candidata preferencial é uma ex-guerrilheira que participou de um grupo terrorista e até hoje se orgulha disto. O segundo colocado não pode sequer acusá-la de terrorista, pois militou em outro grupo terrorista. Os três candidatos mais cotados são todos de extração marxista. Vinte anos após a queda do Muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, no Brasil o fundo do ar ainda é vermelho.

O mais patético – para não dizer pateta – dos candidatos é sem dúvida José Serra. Não ousa dizer uma palavrinha contra seu adversário, o patrocinador de Dilma Rousseff. Pelo contrário, o colocou em sua campanha eleitoral. Ao dar-se conta que isto era um tiro no pé, retirou-o de sua publicidade. Mas acabou fazendo pior. Mais adiante, alertou o eleitorado: se vocês querem Lula em 2014, têm de eleger-me agora. Se Dilma vencer, Lula não emplaca. Traduzindo em bom português, o que disse Serra? Disse que sem ele seu adversário não será eleito. Com oposição assim, o PT não precisa de base aliada.

Os políticos viraram bonecos de ventríloquo. Quem fala é o marqueteiro. O candidato repete. Mais ainda: para cúmulo do ridículo, o PSDB contratou para fazer sua campanha um guru indiano sediado nos Estados Unidos. A dez mil dólares por dia. Pode? Recorrer aos serviços de um vigarista estrangeiro para conduzir uma campanha eleitoral? Edir Macedo faria melhor. Ao constatar a mancada, os tucanos mandaram o guru de volta aos States. Teria sido mais barato enviar o Serra para fazer meditação transcendental em um ashram em Poona.

Os tucanos têm em mãos farto material para desmoralizar o PT. Desde o mensalão, dólares na cueca, o assassinato de Celso Daniel, os escândalos da Casa Civil, desde Zé Dirceu a Erenice, os cinco milhões de reais dados de mão beijada a Lulinha, e por aí vai. Não usaram esta munição. Serra, já que vai perder, podia ao menos perder com dignidade. Vai morrer humilhado.

Marina da Silva, sem comentários. Lanterninha, insiste no discurso surrado de meio-ambiente, cultua também Lula e põe-se em cima do muro ante qualquer questão polêmica. É boa alternativa para os petistas que admitem existir corrupção no governo do PT. Votam na morena Marina no primeiro turno e no segundo voltam ao redil.

Almas ingênuas ainda acreditam numa virada. Recebo não poucos e-mails de coronéis de pijama que ainda acreditam em milagre. Coronel, quando veste pijama, vira valente. Quando na ativa, é cachorro que enfia o rabo entre as pernas com medo da voz do dono. Outro que alimenta esperanças é o recórter chapa-branca tucanopapista hidrófobo da Veja. Que tenha suas preferências políticas, vá lá. Que acredite que o PSDB possa levar é ingenuidade atroz. Ou subserviência de jornalista vil. A última chance de Serra seria uma recidiva de linfoma. Mas estamos a uma semana das eleições e a recidiva não ocorreu. Se ocorrer mais tarde, será tarde demais.

Dona Dilma está com todas as chances de ganhar no primeiro turno. Serra que se dê por feliz se não levar capote. Quando um candidato deposita suas esperanças em chegar ao segundo turno, como faz o tucano, é porque já deu as eleições por perdidas. Pior ainda: antes mesmo do primeiro turno, Serra está lançando sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Como pode um eleitor votar em um candidato que já pensa em receber um docinho pela derrota? Pelo jeito, Serra ainda não percebeu que estas eleições significam seu enterro político.

Dias piores esperam o Brasil. Nada de melhor se pode esperar de uma terrorista – que eu saiba, a candidata ainda não se penitenciou de seu passado – dominada pela atrabilis e mandonismo. E que consegue falar um pior português que o Supremo Apedeuta. País inacreditável, este nosso: pelo jeito ainda sentiremos saudades de Lula.

De minha parte, tanto faz como tanto fez. Desde há muito não deposito esperança nenhuma neste Brasil. Quando um presidente que acoberta crimes durante dois mandatos tem ainda 80% de aprovação do eleitorado, nada mais se pode fazer. Lasciate ogni speranza voi che entrate!

Vou cuidar de meu jardim. Tratar de bem viver os dias que me restam. E o Brasil que se lixe. Povinho que elege Lula ou Dilma não merece sequer uma lágrima.

domingo, setembro 26, 2010
 
DA TIMIDEZ VATICANA


Recente escândalo no Vaticano revelou que o presidente do Instituto para as Obras da Religião (IOR), Ettore Gotti Tedeschi, e o diretor-geral do Banco do Vaticano, Paolo Cipriani, estão sendo investigados pela polícia italiana pela lavagem de 23 milhões de euros. Ao câmbio de hoje, 53 milhões de reais. A Santa Sé pensa pequeno.

No Brasil se pensa grande. No Amapá, o governador do Estado e sua amante, mais a ex-mulher e outros cupinchas, surrupiaram 300 milhões de euros dos cofres públicos. Em Brasília, o filho da ministra-chefe da Casa Civil, cobrou 450 milhões de reais para obter liberação de empréstimo de R$ 9 bilhões no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mais um argent de poche de 40 mil reais durante seis meses.

No Tocantins, a aposta é ainda mais alta. Segundo o lobista Maurício Manduca, “o governador disse que vamos fazer um bilhão de real”. Real assim mesmo, no singular.

Os diretores do banco divino são tímidos. Mas no Vaticano pelo menos impera a caridade cristã. Enquanto Lula jogou sua ministra ao mar, o papa tedesco recebeu hoje o Tedeschi e lhe manifestou seu pontífício apoio.

 
AGORA É TARDE


Leio na Folha de São Paulo que o promotor Maurício Antonio Ribeiro Lopes pediu ontem autorização da Justiça Eleitoral para fazer um teste de escrita e leitura com o palhaço Tiririca, candidato a deputado federal. "Existe uma suspeita séria de que esse homem é analfabeto. É preciso saber se ele tem condição de ser candidato", disse o promotor.

Tarde demais. Este teste deveria ter sido feito há uns bons vinte anos atrás.

sábado, setembro 25, 2010
 
EXTORSÃO LEGALIZADA


O regime cubano divulgou ontem lista de 178 profissões que poderão ser exercidas pela iniciativa privada na ilha. Entre elas, estão atividades como descascador de frutas naturais, consertador de guarda-chuva e penteador de tranças. Ou seja, descascar frutas, consertar guarda-chuvas e pentear tranças eram ofícios que não podiam ser exercidos por um cidadão qualquer que não fosse funcionário público. Nada de espantar em um regime em que um restaurante não pode servir mais de doze pessoas e uma barbearia não pode ter mais de três cadeiras.

Isso que Fidel Castro, em gesto de extrema generosidade, havia liberado os restaurantes particulares que funcionavam clandestinamente em Cuba. Mas, para que não concorressem com os restaurantes públicos, só podiam servir até uma dúzia de pessoas por vez, não podiam vender carne de boi nem mariscos e estavam sujeitos a altos impostos. No paraíso proletário, tudo deve ser feito para que ninguém corra o risco de enriquecer.

Dia 13 de setembro passado, a ditadura anunciou que ao menos 500 mil funcionários estatais de Cuba serão demitidos até março de 2011. As regras permitirão que 250 mil cubanos passem a trabalhar por iniciativa própria. Traduzindo: o Estado cubano descobriu que não dá pé manter empregos de mentirinha só para dizer ao mundo que em Cuba não há desemprego.

Enquanto Cuba tenta chegar ao século XX – já nem falo ao XXI – o Brasil regulamenta profissões inúteis. Aliás, nisto somos pródigos. O Brasil é um dos raros países que conheço onde existem ascensoristas. Como se quem usa um elevador fosse incapaz de apertar um botão. Onde existem também cobradores nos ônibus. Pior ainda: quando se introduziram catracas nos ônibus de São Paulo, os sindicatos protestaram e mantiveram os cobradores. Hoje, você tem catracas e mais um cobrador, que olha você colocar seu tíquete na catraca. Ou aproveita seu ócio para dormir.

Leio no Estadão que, por R$ 51 mensais, um sindicato em São Paulo oferece "segurança jurídica", uniformes, cadastro e registro profissional em carteira de trabalho para flanelinhas da capital. No vácuo da ausência de regras municipais, a entidade, que abriu as portas ao público em agosto, tem como respaldo uma lei federal de 1975. A promessa é de que o associado nunca será preso se apresentar o registro de "guardador e lavador de veículos automotores".

Ou seja: a extorsão está legalizada em São Paulo. Por 51 reais, está garantido a qualquer vagabundo extorquir seu dinheiro. Caso você não pague, terá o carro riscado ou os pneus furados. São ameaças que não me atingem. Não tenho carro, nunca tive. Primeiro porque não gosto de carro. Segundo, porque com carro não se vai longe. Um outro motivo são os flanelinhas. Às vezes, de carona com algum amigo, somos atacados por um desses extortores. Minha vontade é de enfiar-lhe uma bala na testa. Ainda bem que tampouco tenho revólver.

Flanelinha é assaltante. Que país é este em que se regulamenta a profissão de assaltante? Onde há um sindicato de assaltantes? A carteira de flanelinha é obtida pela assessoria jurídica do sindicato na Delegacia Regional do Trabalho – diz a notícia –. Cerca de 200 cadastrados aguardam a emissão do registro. Em menos de dois meses, oito flanelinhas já conseguiram. Dois deles trabalham para cerca de 30 clientes fixos na esquina das Ruas Estados Unidos e Haddock Lobo. Outros dois atuam na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, perto do Ginásio do Ibirapuera.

Segundo o advogado do sindicato, "a profissão é legal e prevista em lei. Eu vou na delegacia e retiro qualquer associado nosso que for autuado na rua". Ele carrega em sua pasta o registro sindical da entidade, emitido em outubro de 2007 pelo Ministério do Trabalho, e uma cópia encadernada da lei do senador Eurico Rezende, que há 35 anos tornou legítima a profissão de guardador de carros. O sindicato estima que a capital tenha 15 mil flanelinhas. O objetivo é regularizá-los por regiões.

Não tenho carro, dizia. Mas me indigno pelos que têm. Você paga à Prefeitura para estacionar e além disso tem de pagar ao vagabundo para não ter o carro danificado. A lei confere ao assaltante o direito de assaltar. Pior que tudo, os proprietários de carros aceitam passivamente a extorsão, como se assaltar fosse direito líquido e certo de quem quer que se habilite ao ofício.

Enfim, em país cujo sistema jurídico aceita ladrões nas altas cúpulas do governo, seria discriminação não aceitar ladrões na rua.

sexta-feira, setembro 24, 2010
 
UFSC CRIA CURSO
RUMO AO INÚTIL



Ainda há pouco eu comentava o projeto da Câmara Municipal de Porto Alegre que torna obrigatório o ensino do Holocausto na rede pública da cidade. O que a notícia não dizia é se será ou não uma disciplina, a ser desenvolvida durante o ano letivo. Pelo jeito, é. Afirmei então que o mais importante seria estudar o comunismo, doutrina que dominou o século passado e fez não seis milhões de cadáveres, mas cem milhões.
Nada como um dia depois do outro neste Brasil incrível. De mãos amigas, recebo esta notícia do Jornal da Ciência, órgão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência:

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Secretaria de Estado da Educação (SED) lançaram edital para um curso de graduação em licenciatura indígena (Guarani, Kaingang e Xokleng), voltado aos povos do Sul da Mata Atlântica
O projeto é financiado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

A prova será composta de 20 questões objetivas de Conhecimentos Gerais, dez de Língua Portuguesa e uma redação em Língua Indígena. Para 2011 serão oferecidas 120 vagas, divididas em 40 para cada uma das três etnias. O curso terá duração de quatro anos, totalizando 3.348 horas/aula.


Quatro anos para estudar culturas que não interessam. Enfim, até podem interessar, como curiosidade. Mas a UFSC não tem curso algum específico sobre cultura grega ou romana que, estas sim, formataram nossa história. Embora tenha, é verdade, em seu curso de Filosofia, uma ementa intitulada História da Filosofia Catarinense. Os catarinenses nunca tiveram um filósofo sequer. Mas pretendem ter uma história da Filosofia. A universidade agora formará especialistas em culturas que, apesar de milênios de existência, sequer descobriram a roda e muito menos escaparam de uma cultura ágrafa.

Como não existe mercado algum para a nova profissão, naturalmente será necessário criar cargos para absorver os novos acadêmicos. Quem vai marchar? O contribuinte, como sempre. Pois nenhuma empresa privada se interessará pelos especialistas em tribos guarani, kaingang ou xokleng. Serão criadas carreiras para um novo tipo de aspone, as de assessores de assuntos indígenas, ou algo no estilo.

Imagine o leitor se a moda pega. Existem mais de duzentas tribos no Brasil. O que renderia pelo menos mais duzentos cursos universitários. Que tem um indígena a ensinar a alguém? Os gregos ou romanos, continuam nos ensinando há mais de dois milênios. Mas este ensino parece pouco interessar à universidade brasileira.

Enquanto a USP está cogitando de encerrar cursos que se revelaram inúteis, a brava UFSC está criando um curso rumo ao inútil. Quer reativar línguas moribundas, que só servem para isolar os gatos pingados oriundos de tribos mortas e impedi-los de se integrarem à sociedade contemporânea.

Vai mal a universidade barriga-verde.

quinta-feira, setembro 23, 2010
 
SOBRE SER GAÚCHO

Do Sul, recebo:

Prezado Janer!

Saúde e paz!

Escrevo para manifestar um certo desconforto com os escritos sobre o Vinte de Setembro. Poderia ter ficado quieto, mas acho que minha consciência me cobraria. Sou do interior (pelas tuas bandas, mais ou menos, sou de Cacequi), onde me criei e sempre vivi perto de um CTG. Sempre gostei da vida campeira e particularmente nessas sociedades aprendi muito sobre nós. Claro, tem muita gente que exagera, mas a pergunta que faço é esta: Que mal faz participarmos de desfiles, cantarmos músicas, declamarmos poesias, etc...etc...? Nenhum mal.

Hoje vivo na capital desde a década de 60 e confesso que sinto saudades das coisas da minha terra. No dia 20 de setembro, por coincidência, estava em Santana do Livramento, onde aportei para abastecer a adega, (perto de tuas plagas) e assisti (pela primeira vez) ao desfile farroupilha naquela cidade, junto com Rivera.

É inacreditável, tinha mais de cinco mil cavaleiros, fora carretas, charretes, carros alegóricos, etc... Tinhas que ver a alegria do pessoal. Gente simples, gente rica, gente chique, brancos, negros, homens mulheres (magras, gordas, loiras morenas). Vi até alguns já de cabelos brancos e dente de ouro (te lembras?), felizes desfilando em seus cavalos. Confesso que me emocionei. Sem contar a alegria estampada no rosto dos milhares de pessoas que assistiam o desfile.

Mas enfim, é só um desabafo. Creio que todos têm o direito de pensar diferente, mas me senti um pouco aborrecido por ter sido chamado de palhaço num dos posts. Mas é da vida. Um abraço e continuo aqui a te ler, recomendar e várias vezes até imprimo alguns dos teus escritos para enviar a amigos, principalmente os que escreves contra os descalabros da nossa vida nacional.

Hermes Dutra



Meu caro Hermes,

Minhas escusas se usei de mão pesada. Mas o cetegismo precisa ser denunciado. É uma distorção literária, sociológica e histórica, como diria Antero Marques. Não vejo nada de mal em participar de desfiles, cantar músicas, declamar poesias. Como tampouco vejo nada de mal no carnaval, embora dele não goste. Com uma diferença: se alguém se fantasia de Nero ou Cleópatra, em momento algum acredita que é Nero ou Cleopatra. Os rio-grandenses se fantasiam de gaúcho e acabam acreditando que são gaúchos. Mas os carnavalescos tiram a fantasia na quarta-feira de cinzas. Os cetegistas a portam o ano todo.

Ainda há pouco, um amigo me escrevia que ser gaúcho não depende de origem ou profissão, é um estado de espírito. “O Karl May escreveu sobre o Oeste americano sem nunca lá ter pisado. Sua obra construiu um personagem extraordinário Winnettou que era nobre, valente e acima das picuinhas do dia a dia. Sabe-se que os apaches eram atrasados, violentos, beberrões e destrutivos”.

Sim, lembro muito bem do Winnetou e Mão-de-Ferro e vibrei com suas aventuras. Era adolescente e curtia também Superman e Capitão Marvel, Zorro e David Crocket, Tim Holt, Tarzan e Diana, a rainha da selva. Sei que o Karl May nunca pisou no oeste americano. Mas estamos no campo da ficção, não da realidade. Lobsang Rampa também nunca esteve no Tibete. Em Lhasa, teria recebido treinamento para se tornar sacerdote-cirurgião, sob as bençãos do 13º Dalai Lama, o antecessor de Tenzin Gyatso, o 14º Oceano de Sabedoria. Ainda jovem, teria sofrido uma operação para a abertura do seu "terceiro olho", que lhe deu poderes de clarividência.

Tudo farsa. Mas estas ficções não geraram ideologias nem nacionalismos. Muito menos prebendas. Após ler Karl May, nunca me senti bugre americano ou aventureiro alemão. Nem monge budista após ler Rampa. O que estou afirmando é que o gaúcho é uma ficção de província. Os cetegistas se orgulham de ser o que não são. Se travestem de gaúchos e disto se jactam. O gaúcho mesmo está nas páginas de José Hernández, Hilario Ascasubi, Estanislao del Campo, Esteban Echeverria, Elias Regules, Serafin J. Garcia. Não em Erico Verissimo, por supuesto.

Ser gaúcho não é um estado de espírito. Se assim fosse, qualquer carioca ou caiçara, nordestino ou manauara, poderia sentir-se gaúcho. Gaúcho não existe sem pampa, vacas e cavalos. Digo mais: hoje, para chamar-se de gaúcho, alguém precisa ter uma tapera em seu passado. Não concebo como gaúcho quem nasceu no asfalto, brincando de Batman e Robin nos corredores de edifícios.

Claro que as pessoas se sentem alegres em tais eventos. É normal. É festa. Há milhares de pessoas, felizes, assistindo ao desfile? Em procissão, até cusco fica contente. Também sinto saudades das coisas de minha terra. Sempre sentimos saudades da infância. Mas sentir saudades da infância não é exatamente sinônimo de ser gaúcho. Hoje virei bicho da cidade e não poderia ser diferente: desde minha adolescência vivo em cidades.

Em post abaixo, transcrevo um dos mais belos poemas gaúchos que conheço, Mi Tapera, de Elías Regules. Nele se sente o gaúcho. Não na poesia ufanista dos parasitas de Estado que criaram os CTGs para salvar suas lavouras.

Grande abraço.

 
MI TAPERA

Elias Regules *



Entre los pastos tirada
como una prenda perdida
y en el silencio escondida
como caricia robada,
completamente rodeada
por el cardo y la flechilla
que como larga golilla
van bajando a la ladera
está una triste tapera
descansando en la cuchilla.

Alli, en ese suelo fué
donde mi rancho se alzaba,
donde contento jugaba,
donde a vivir empecé,
donde cantando ensillé
mil veces al pingo mio,
en esas horas de frío
en que la mañana llora,
cuando se moja la aurora
con el vapor del rocío.

Donde mi vida pasaba
entre goces verdaderos,
donde en los años primeros
satisfecho retozaba,
donde el ombú conversaba
con la calandria cantora,
donde noche sedutora
cuidó el sueño de mi cuna,
con un beso de la luna
sobre el techo de totora.

Donde resurgen valientes,
mezcladas con los terrones,
las rosadas ilusiones
de mis horas inocentes,
donde delirios sonrientes
brotar a millares ví,
donde palpitar sentí,
llenas de afecto profundo,
cosas chicas para el mundo
pero grandes para mí.

Donde el aire perfumado
está de risas escrito,
y donde en cada pastito
hay un recuerdo clavado:
tapera que mi pasado
con colores de amapola
entusiasmada enarbola,
y que siempre que la miro
dejo sobre ella un suspiro
para que no esté tan sola.

*(1861, Sarandí del Yí - 1929, Montevidéu. Médico, docente, poeta e político uruguaio. Além de Mi Tapera (1894), publicou ainda Pasto de cuchilla (1904), Renglones sobre postales (1908), Veinte centésimos de versos (1911), Mi pago (1924) e Versitos criollos (1924).

quarta-feira, setembro 22, 2010
 
HOLOCAUSTO VENDE BEM


Essa agora! Leio nos jornais que a Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou um projeto que torna obrigatório o ensino do Holocausto na rede pública da cidade. A proposta, votada na semana passada, será sancionada no dia 18 de outubro e começa a valer a partir de 2011 para as escolas públicas de ensino fundamental. Autor da proposta, o vereador Valter Nagelstein (PMDB) argumenta que o Holocausto -extermínio de judeus na Europa durante o regime nazista (1933-45)- foi "o mais grave" episódio da história de desrespeito aos direitos humanos e que estudá-lo propicia aos alunos "uma visão mais profunda sobre o preconceito".

O que a notícia não diz é se será ou não uma disciplina, a ser desenvolvida durante o ano letivo. Pelo jeito, é. Ora, a questão do holocausto cabe em uma, no máximo duas aulas. Mais importante, a meu ver, seria estudar o comunismo, doutrina que dominou o século passado e fez não seis milhões de cadáveres, mas cem milhões.

Só na China, o Livro Negro do Comunismo – antologia coordenada por Stéphane Courtois - debita a Mao 65 milhões de cadáveres em tempos de paz. Em Mao, a História Desconhecida, de Jung Chang e Jon Halliday, os autores falam em 70 milhões. 65 ou 70, não se tem notícia na História de homem que, sozinho, tenha matado tanto. Entre 58 e 61, no Grande Salto para a Frente, 28 milhões de chineses morreram de fome. Segundo Jung Chang, foi a maior epidemia de fome do século XX - e de toda história registrada da humanidade. A China produzia carne e grãos, mas Mao exportava estes produtos para a União Soviética, em troca de armas e tecnologia nuclear. Segundo o Grande Timoneiro, como era chamado Mao, as pessoas "não estavam sem comida o ano todo - apenas seis ou quatro meses".

As 846 páginas do livro tornam o relato cansativo. Basta, a meu ver, o resumo: URSS - 20 milhões de mortos; China - 65 milhões; Vietnã - 1 milhão; Coréia do Norte - 2 milhões; Cambodja - 2 milhões; Europa do Leste - 1 milhão; América Latina - 150 mil; África - 1,7 milhão Afeganistão - 1,5 milhão; movimento comunista internacional e PCs fora do poder - uma dezena de milhar de mortos.

Mais interessante seria estudar a Inquisição. Se o Holocausto produziu Israel, a Inquisição construiu a Res Publica Christiana, hoje chamada Europa, e consolidou o poder vaticano, emblema contemporâneo dos maiores faustos do mundo. Certo dia, em Toledo, quis visitar o Museu da Inquisição, na época lá instalado. Perguntei a uma toledana onde ficava. Ela, de bate-pronto, me retrucou: por que o senhor não vai visitar nossa catedral? Ela é belíssima. A catedral eu já havia visitado, sua arquitetura majestosa sempre me faz chorar. Mas o que eu queria ver, daquela vez, eram os instrumentos que haviam possibilitado a ereção da catedral. A vontade é de vomitar. Difícil conceber o talento do humano engenho quando se trata de fazer o próximo sofrer. Mas, enfim, há males que vêm para o bem, como diria - e disse - João Paulo II, a propósito do comunismo. Turista algum se comoveria hoje até as lágrimas, visitando aquele templo imponente, não fossem as torturas horrendas pelas quais passaram os homens da época que o erigiram.

Se comparado com a Inquisição ou com o comunismo, o nazismo durou o que duram as rosas. Foram apenas doze anos de poder. O regime nazista está longe de ser "o mais grave" episódio da história de desrespeito aos direitos humanos, como pretende o vereador gaúcho. Na Rússia, o comunismo teve vigência por sete décadas. Pior ainda, a ideologia tomou conta do Ocidente todo, a ponto de seus melhores cérebros fazerem a defesa incondicional de um dos maiores assassinos do século, Joseph Vissarionovitch Djugatchivili, mais conhecido como Stalin, o de aço. Quando o tirano morreu, houve quem não acreditasse na notícia. Porque um deus não pode morrer.

Segundo a Confederação Israelita do Brasil, Porto Alegre é a primeira cidade do país a aprovar um projeto nesse sentido. Aposto que a próxima será São Paulo. Quanto a estudar o comunismo, que seria mais útil, nem pensar. Os nazistas já morreram e o que quer que lhes diga respeito não mais os atinge. Os comunistas, estão aí. Responsáveis por um passado hediondo e livres como passarinhos. Mais ainda: ocupando os altos escalões do governo.

Quanto ao Holocausto, sempre vende bem.

 
AINDA O 20 DE SETEMBRO


De Vicente da Silva Limberger, recebo:


Caro Janer Cristaldo.

Fico feliz em saber que és um dos poucos gaúchos (ou melhor, sul-riograndenses) sensatos que ainda tenho conhecimento e não se deixaram levar pelas tolices dos palhaços de CTG. Palhaços estes que no dia de hoje estão voltando para o circo, depois de passarem semanas emporcalhando o Parque da Harmonia e transformando as ruas próximas numa estrebaria, tudo isso pra comemorar um movimento que (felizmente) saiu derrotado. Pelo menos pararam de chamar essa palhaçada de "festa popular", uma vez que o público no desfile de ontem foi menor que o do desfile de 7 de setembro.

A semana farroupilha vem nos últimos anos atirando gasolina na fogueira da arrogância do povo da província, é visível o ranço contra o resto do país, chegando ao ponto de desrespeitar símbolos nacionais, como ocorre com as torcidas de Grêmio e Inter. O cetegismo contaminou a mentalidade da massa, tudo o que acontece de ruim nesse torrão é creditado a forças exógenas que contaminam o paraíso ao sul do Mampituba. Triste saber que a única reação ao processo de decadência deste estado é empinar ainda mais o nariz.

Abraço.

terça-feira, setembro 21, 2010
 
IMPRENSA FRANCESA
PERDEU A VERGONHA


Comentei há dois dias: leitora me alerta que não foi só o Le Monde que publicou um suplemento endeusando Lula e seu governo. O argentino El Clarín também fez o mesmo. E se há suplementos laudatórios em um jornal francês e outro argentino, nestas vésperas de eleição, certamente surgirão outros até outubro.

Não deu outra. Hoje, o jornal francês Le Figaro, em reportagem de capa, afirma que Lula foi o presidente responsável por "modernizar o Brasil". Não consegui acessar o texto, o site é reservado para assinantes do jornal. Só tive acesso ao lead. Recorro então a um resumo feito pelo Estadão. O texto é assinado pela correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Lamia Oualalou.

A reportagem conta a história de Ricardo Mendonça, paraibano de Itatuba que se mudou para o Rio de Janeiro à busca de emprego em 2003 e conseguiu entrar na universidade graças a uma bolsa do programa Pro-Uni, do governo federal. O jornal atribui o sucesso de Mendonça às políticas do governo Lula.

"Histórias como esta de Ricardo o Brasil registra aos milhões. A três meses do fim do seu segundo mandato, este é um país mudado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará ao seu sucessor", escreve o Le Figaro.

Barbudo onipresente

O jornal diz que quando Lula chegou ao poder, em 2003, o Brasil era um país sem "grandes esperanças" que havia finalmente dado uma chance a um "turbulento barbudo onipresente na cena eleitoral deste o restabelecimento da democracia". O Le Figaro destaca que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu combater a hiperinflação com o Plano Real, mas que se tornou "muito impopular" antes de deixar o poder em 2002.

Citando analistas políticos brasileiros, o jornal diz que Lula foi responsável por ampliar políticas sociais do governo anterior. "O chefe de Estado reagrupou algumas medidas sociais do seu antecessor e às deu uma dimensão inimaginável", diz a reportagem do jornal.

"Pela primeira vez na história, o Brasil assiste a uma redução continua e inédita das desigualdades. Em dois mandatos, 24 milhões de brasileiros saíram da miséria e 31 milhões entraram para a classe média."


E por aí vai. Menção nenhuma à quadrilha do mensalão, chefiada por seu então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Nada sobre a quebra de sigilo bancário de um humilde caseiro, o Francenildo, por um outro de seus ministros, Antonio Palloci. Nada sobre dólares na cueca. Nada sobre a aliança com corruptos notórios como José Sarney e Fernando Collor de Mello.

Muito menos aos constantes ataques à imprensa feitos por Lula, que quer os jornais subjugados à vontade do governo. Nenhuma palavrinha ao tráfico de influência e nepotismo imperantes na Casa Civil, cuja ministra instituiu uma bolsa-família para seu marido, sobrinho, filhos e amigos dos filhos. Nada sobre a candidata à Presidência, Dilma Roussef, que indicou a ministra corrupta para o cargo e hoje releva todos seus crimes.

Falta de informação da correspondente no Rio de Janeiro? Duvido. É de supor-se que um correspondente leia os jornais do país que cobre. Ora, a imprensa não passa dia sem noticiar um caso de corrupção no governo Lula. A única hipótese que resta é que o Planalto comprou mais um jornal em Paris.

Se comprou mais um jornal francês, terá comprado outros mundo afora. Na França, falta ainda comprar o Libé e o Nouvel Obs. Basta esperar para ver.

segunda-feira, setembro 20, 2010
 
20 SETEMBRO
NUNCA MAIS



Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o Vinte de Setembro
o precursor da liberdade.

Mostremos valor, constância,
nesta ímpia e injusta guerra,
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda terra.

Entre nós revive Atenas
para assombro dos tiranos;
sejamos gregos na glória
e na virtude, romanos.

Mas não basta p’ra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.


Nossas façanhas? Que façanhas? Que aurora precursora? Que farol da divindade? A propósito, que divindade? Que Atenas revive entre os gaúchos para assombro dos tiranos, logo num Estado cuja capital até hoje homenageia um de seus ditadores, Borges de Medeiros, o presidente do Rio Grande do Sul durante 25 anos? O hino rio-grandense, como em geral todos os hinos, é de um ridículo atroz. 20 de setembro é data inventada pelos palhaços e parasitas de Estado, que um dia criaram os ridículos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas). A celebração se opõe ao 7 de setembro. É curioso ver esta chusma de chupins, que se pretendem brasileiros, comemorando na tal de Semana Farroupilha um movimento que pretendia separar o Rio Grande do Sul do Brasil.

Mas o 20 de setembro é data para mim muito cara. Não pelas fanfarronices dos rio-grandenses que se dizem gaúchos. Mas por algo mais singelo, o encontro com a mulher que mais amei. Não prometi nada na ocasião. Pode ser que amanhã isto não se repita. Pode ser que se repita pelo resto dos anos. Faz hoje 45 anos. Repetiu-se por 38 anos, e mais não se repetiu porque a vida não quis. Vinte de setembro era para nós, não o dia da independência gaúcha, mas de nossa independência. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra. As nossas, bem entendido. Não as supostas façanhas dos sedizentes gaúchos.

Como o 20 de agosto, data em que ela partiu, o 20 de setembro também me machuca. Eu tinha 17 anos, ela 18. Adolescente, não imaginava que naquele dia estava elegendo a companheira de toda uma vida. A cada 20 de setembro, cantávamos: “foi no 20 de setembro...” Mas não estávamos comemorando nenhuma efeméride gaúcha.

38 anos. É mais vida que a de Alexandre, que só viveu 33. Certo, o peoniano conquistou mais mundos do que eu. Admiro Alexandre, é um de meus heróis. Mas não o invejo. Conquistá-la alegrou mais minha vida do que se tivesse conquistado impérios. De lá para cá, se passaram mais sete anos. Quando ela partiu, imaginei que não sobrevivesse muito. No entanto, cá estou. Como dizia Fierro,

Solo queda al desgraciao,
lamentar el bien perdido.


Percorremos o mundo naqueles anos. De Roma a Estocolmo, de Lisboa a Viena, De Nova York ao Quebec, de Buenos Aires a Santiago, de Atenas ao Cairo, do Assekrem a São Petersburgo. Quando morei em Estocolmo, ela ficou em Porto Alegre. Nos encontramos, aos prantos, no Rio. Quando morei em Madri, ela estava em Paris. A cada quinze dias, alguém pegava um trem e atravessava França e Espanha, para fazer a festa.

Com ela, me despedi chorando de Madri. Estavámos em uma bodega na Huertas, mulheres cantando e dançando, bom vinho e cheiro bom de assado. Quando senti que em duas horas estaria em Barajas, voltando para o Brasil, comecei a chorar. Não pela perspectiva de voltar ao Brasil. Mas por estar abandonando a festa. Fui chorando até o aeroporto e o taxista não entendia porquê. Estava abandonando uma mulher que muito amava, a Espanha.

Por alguns anos, viagens nos separaram. Voltávamos correndo um para o outro. A cada vez que o avião decolava, ela me apertava a mão e me interrogava, com um sorriso que até hoje me faz chorar: “on y va?”. Sim, on y va. Agora, on n’y va plus.

A vida continua. Se feliz ou infelizmente, ainda não decidi. “Fazes falta? – pergunta Pessoa –. Ó sombra fútil chamada gente! Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém... Sem ti correrá tudo sem ti”. Não é bem assim. Pessoas fazem falta, meu caro Pessoa. Sei do que falo. Cada 20 de setembro me pesa como toneladas sobre a alma. Muitas vezes me perguntei se não seria melhor ter como companheira uma mulher abominável. Quando ela morresse, seria como uma libertação. Pergunta besta. Melhor ter uma mulher adorável, mesmo que se sofra depois.

Já que falei de Pessoa, recorro à sua tradução soberba de Poe:

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido murmurei lento, “Amigos, sonhos – mortais
Todos – já se foram. Amanhã também te vais”.
Disse o corvo: “Nunca mais”.


Sei, amanhã também me irei. E não será tarde demais. Iremos nós todos. Até lá, resta afagar os bons 20 de setembro que um dia tive. Que não voltarão jamais.

domingo, setembro 19, 2010
 
IMPRENSA EUROPÉIA SE
RENDE AOS BÁRBAROS



Em julho passado, eu manifestava meu espanto ao constatar que a Suécia estava no topo das estatísticas de estupro, só sendo superada pelo Lesotho, na África negra. Segundo o UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime), em 2008, havia no Lesotho uma taxa de 91,6 estupros por cem mil habitantes. Na Suécia, segundo país no ranking, a taxa era de 53,2.

Ocorre que as estatísticas do UNODC, tão precisas em matéria de números, nada diziam sobre a origem dos estupradores. Em vários países da Europa, particularmente nos escandinavos, está ocorrendo uma onda de estupros, geralmente cometidos por árabes e africanos, tendo como vítimas suecas, finlandesas, dinarmaquesas, francesas e italianas. Os jornais, ao noticiar o fato, ocultam não só a identidade como também a etnia e o país de origem dos criminosos. Supostamente, para não caracterizar o crime como étnico. Em verdade, obedecendo à tirania do politicamente correto e dos grupos dos tais de Direitos Humanos, que só defendem os direitos dos criminosos. Ou seja, o estupro tende a ser descriminalizado na Europa. Se não descriminalizado, pelo menos aceito como uma transgressão menor.

A Suécia teve eleições hoje. O Alliansen, antes chamado Allians för Sverig, constituído pelos Moderados, Partido do Centro, Partido do Povo e Cristãos Democratas, obteve 49% dos votos, em oposição ao bloco dito progressista, com 43%. O resultado está sendo saudado pela imprensa internacional – e obviamente a brasileira não será exceção – como um avanço da ”extrema direita xenófoba” dos Democratas Suecos no Parlamento de Estocolmo. Ao superar pela primeira vez o umbral de 4% - escreve El País – o partido antiimigração participará da partilha de assentos, reduzindo assim a cota dos demais.

Ou seja, quando um país assume uma atitude de legítima defesa ante a invasão de bárbaros, isto é um avanço da extrema direita xenófoba. Fala-se em partido antiimigração, como se imigração fosse direito líquido e certo de qualquer estrangeiro oriundo do Terceiro Mundo.

Vivi na Suécia nos dias em que o imigrante era bem-vindo. O Svenska Institut, em busca de mão de obra barata, publicava panfletos dirigidos aos potenciais candidatos ao paraíso nórdico. ”Não existe paraíso na terra, mas a Suécia é sua mais perfeita aproximação” – dizia então Bertil Oholsson, diretor da Administração do Mercado de Trabalho. O Instituto reproduzia as queixas de um sacerdote francês: ”Como continuar falando em paraíso aos estudantes, quando eles crêem que o paraíso já existe na Suécia?”

Os imigrantes foram chegando. Aos poucos, de início. Logo depois, a magotes. Os africanos, particularmente os negros, tinham cálida acolhida junto ao seio das ”adoráveis louras nórdicas”, como dizia uma das publicações do Svenska Institut. Eram divulgados então os dois aspectos graças aos quais a Suécia era observada por todas as nações: a liberdade sexual e o bem-estar material. Desenhos mostravam robustos vikings (sexo coberto pela bandeira nacional) e as adoráveis louras passeando seminus pela floresta próxima a uma cidade. Fábricas e trens soltavam pelas chaminés nuvens de fumaça em forma de corações. Mais adiante, um quadro dantesco de lutas, ódios, explosões, incêndios, violência – o mundo. Em meio ao caos, um oásis – a Suécia – onde o viking e a loura trocavam ternuras e acariciavam um urso polar.

Quem resiste a tal utopia? Eu não resisti. Juntei meus trapos e fui para o Éden nórdico. Não posso queixar-me. Naquelas noites brancas, muitas vezes corri nu, qual fauno grego, atrás de suecas nuas pelos bosques de Estocolmo. Confesso que, olhando hoje para trás, mal consigo acreditar no que vivi. Mas não fui para trabalhar. Nem para onerar o Estado sueco. Quando fui renovar meu visto de estada, ao saber que eu era jornalista e brasileiro, her Konstapel (policial) me ofereceu asilo político. Na época, era uma mordomia de sonho. Quatro mil coroas por mês, mais direitos sociais e ingresso garantido na universidade. Recusei. Havia saído pela porta da frente de meu país e não fugia da ditadura. Fugia, isto sim, do país do futebol e do carnaval. Não queria asilo político, mas abrigo espiritual. Fui, vi e voltei.

O mesmo não acontece com as massas de imigrantes, particularmente árabes e africanos, que buscam a Suécia. Foram para ficar e consideram um atentado aos direitos humanos a hipótese de voltar. Levaram consigo um vírus nefasto, o islamismo. Se hoje a Suécia tem o segundo lugar no ranking internacional de estupros, isto é obra de muçulmanos. O estupro já nem é sexual, mas étnico. O pênis virou arma com a qual se humilha o inimigo.

A Suécia começa a reagir. Tarde demais, a meu ver. Quando os suecos reagem em defesa de sua cultura, os jornais europeus falam em extrema direita xenófoba. A intelectualidade européia rendeu-se aos bárbaros.

Tudo de bom aos bandidos.

 
ATÉ TU, ARGENTINA?


Leitora me alerta que não foi só o Le Monde que publicou um suplemento endeusando Lula e seu governo. O argentino El Clarín também fez o mesmo. E se há suplementos laudatórios em um jornal francês e outro argentino, nestas vésperas de eleição, certamente surgirão outros até outubro.

Obviamente, não por iniciativas destes jornais. É matéria paga pelo governo. O contribuinte brasileiro está colaborando à revelia para prestigiar o Analfabeto-Mor.

sábado, setembro 18, 2010
 
ALEMANHA ABRE AS
PERNAS PARA O ISLÃ



Mais um país europeu se rende oficialmente ao Islã. Leio nos jornais que a chanceler alemã, Ângela Merkel, declarou que os alemães já deviam ter percebido há muito tempo quanto a imigração vem mudando o país e que eles precisam se acostumar com a existência de mais mesquitas em suas cidades.

Se fossem só as mesquitas, nada demais. Liberdade de culto é dogma na Europa e é bom que assim seja. O problema é que muçulmanos não aceitam as regras dos países laicos para onde emigram para matar a fome. Onde chegam, querem impor sua visão teocrática de Estado. Há não poucos imãs exigindo tribunais muçulmanos para muçulmanos na Europa. Não faltam os que queiram legalizar a poligamia. E a ablação do clitóris – que algumas almas politicamente corretas chamam de circuncisão feminina – está sendo importada para o Ocidente. Onde é considerada crime.

"Nosso país vai continuar a mudar e a integração também é uma tarefa para a sociedade que terá que aceitar os muçulmanos", disse Merkel ao Frankfurter Allgemeine Zeitung. "Durante anos temos nos iludido sobre isso. As mesquitas, por exemplo, serão uma parte mais proeminente das nossas cidades, do que eram antes", completou.

Ora, Merkel está imbuída das idéias de politicamente correto e de multiculturalismo. Da mania das esquerdas européias de aceitar toda cultura diferente. Até aí, vá lá. O que não se pode aceitar são idéias ou costumes que vão contra as legislações européias. Se assim for, até a escravidão está legitimada. Velha prática judaica e cristã. E árabe.

Os árabes vivem em regimes teocráticos e não conseguem distinguir Estado de religião. O que diz o Corão é lei. O Ocidente há muito se distanciou da prática de confundir Bíblia com códigos legais. Hoje, em nome do tal de multiculturalismo, tende a aceitar o Corão como norma.

Restam alguns problemas. Se os países europeus aceitam nos muçulmanos a prática da poligamia, pode um europeu ter legalmente quatro mulheres se se converter ao islamismo? Duvido que a Alemanha – ou qualquer outro país da Europa – aceite esta hipótese. Mas seria incoerência. Pois a poligamia não está associada a nacionalidades, mas a uma religião. Da mesma forma, se algum europeu converter-se ao Islã, teria ipso facto o direito de cortar o clitóris de suas filhas. Mesquitas, tudo bem. O problema é o pacote que vem junto com as mesquitas.

Vamos então adotar logo a sharia e chicotear e apedrejar adúlteras. Quatro mulheres para cada macho e homem algum, além de seus proprietários, para a mulher. Divórcio com três talak. Eu te repudio, eu te repudio, eu te repudio e estamos conversados. Uma mulher não pode mostrar o rosto senão para seu marido. Não tem direito a dirigir e nem mesmo ao trabalho. É curioso ver como o Ocidente condena a punição de Sakineh no Irã e defende ao mesmo tempo a religião que a condena ao apedrejamento.

Os europeus estão cometendo, em relação ao Islã, o mesmo erro que um dia cometeram em relação ao comunismo. Países democráticos, em nome da liberdade de expressão, aceitaram em suas legislações, um partido que negava a democracia. Tendem hoje a aceitar uma religião que nega tudo que tem valor no Ocidente.

Não tenho nada contra mesquitas. Já visitei muitas em minha vida e sempre tirei os sapatos antes de nelas entrar. Tiro os sapatos, mas sempre os levo comigo. O que me impediu de entrar na mais importante mesquita do Cairo, a El Azhar, de três minaretes. Na entrada, dois árabes me pediram para entregar meus sapatos. Senti que não os teria de volta se não pagasse bakchisch. “Estou de pés no chão, meus sapatos estão na bolsa”. Não pode, tem de deixar os sapatos na entrada. Ok! Então não entro. Passar bem.

Na Argélia, vi mesquitas que sequer existiam. Isto é, mesquita é o lugar em que o crente ora. Se rezar em um espaço vazio, em meio a areia e pedras, aquilo ali é uma mesquita. É o que está acontecendo em Paris, onde os bougnoules estão fechando ruas para virar o traseiro em direção oposta a Meca.

O problema não são as mesquitas. É o fanatismo que elas trazem embutido. A Europa, aquela que quando jovem foi possuída por Zeus disfarçado de touro, está agora, depois de velha, se entregando de pernas abertas a Maomé.

sexta-feira, setembro 17, 2010
 
DE JORNAL SÉRIO
A PASQUIM VENAL



Leitora me escreve:

Caro Janer, você sacou bem a relação da bajulação com os Rafales. Li, a propósito, num destes sites jornalísticos, que o Franklin Martins teria contratado firmas internacionais de marketing por valores milionários. Na véspera de mais um desastre, com a eleição da Dilma, você acha que esta reportagem, logo agora, nas eleições, teria a ver? Afinal a turma do Le Monde é bem afinadinha com eles, e poderá estar levando uma grana brava.

O suplemento tem toda a cara de matéria paga, leitora. É pura louvação ao Brésil de Lula e a Lula. O mitômano analfabeto é visto como gênio da oratória. Nenhuma palavrinha sobre as corrupções que saltam de seu governo como cogumelos após a chuva. No artigo sobre a Rocinha, nada sobre drogas ou criminalidade, muito menos sobre o poder paralelo dominado pelos traficantes. Apenas uma simpática menção à prática de boxe tailandês. As favelas desde há muito são Estados dentro do Estado e sobre isto o jornal não disse água.

Nenhuma menção tampouco à guerrilha católica do MST, que invade terras e destrói laboratórios em total impunidade. Mais ainda, com financiamento do governo. Ao falar dos índios, entrevista um ridículo caiapó, de óculos, short grunge e tórax pintado, que caça macacos ou pássaros, “presas fáceis para suas flechas coroadas de plumas vermelhas”. Nenhuma menção ao Paulinho Paiakan, o grande ícone caiapó, que foi saudado em capa de uma revista americana como “o homem que pode salvar a humanidade”. Que estuprou barbaramente, com o auxílio de sua mulher, uma jovem professorinha. E que hoje, apesar de condenado à prisão, vive em sua reserva livre como um passarinho.

Tampouco falou da exportação ilegal de mogno praticada pelos caiapós, mogno que hoje reveste os corredores quilométricos da Grande Bibliothèque, obra faraônica de Tontonkhamon. Sobre a prática comum de enterrar crianças vivas, em pleno século XXI, comum a várias tribos indígenas no Brasil, nenhum pio.

Sintomaticamente, ao falar do território conquistado em Roraima pelos selvagens, em momento algo pronuncia a palavra ianomâmi. Parece que a ficção criada por Claudia Andujar já não está convencendo sequer os crédulos franceses. Em outro artigo, uma menção gentil ao assassino Raoni: “A cruzada do cacique Raoni, em 1989, ao lado do cantor Sting, permitiu ao povo caiapó financiar a demarcação definitiva das reservas”.

O articulista só esqueceu de dizer que, nos anos 80, Raoni (em verdade, txucarramãe) exibia orgulhosamente aos jornais a borduna com que matou onze peões de uma fazenda. Não só permaneceu impune, totalmente alheio à legislação brasileira, como foi recebido com honras de chefe de Estado na Europa. O papa João Paulo II, François Mitterrand e os reis da Espanha, entre outros, o receberam como líder indígena. Raoni, com seus belfos, se deu inclusive ao luxo de expor sua pintura em Paris. Um dos quadros do assassino atingiu US$ 1.600 em uma lista de preços que começava a partir de mil dólares.

A área da literatura é representada por Jorge Amado, o mais venal dos escritores brasileiros, que na juventude foi nazista e comunista e, depois de velho, rendeu-se aos charmes da rede Globo. Um box diz que o baiano viveu quase toda sua vida no Estado da Bahia, “do qual ele fez o décor de sua obra”. Le Monde esqueceu de dizer que Amado gostava mesmo era de viver às margens do Sena, contemplando a Notre Dame. “Em 86, os americanos me pagaram um adiantamento alto pelos direitos de tradução de Tocaia Grande: US$ 250 mil. Juntamos com os guardados de Zélia e compramos nossa mansarda no Marais, em Paris”, declara o escritor que em 1940 recebia dinheiro da Alemanha nazista e, em 1945, da Rússia stalinista.

O suplemento enaltece o que de pior o Brasil ostenta e omite o que de pior o Brasil produz. Le Monde, que já gozou de credibilidade, hoje é pasquim decadente. Ao que tudo indica, vendeu suas páginas à propaganda eleitoreira do PT.

Pois não se admite que um jornal europeu, que um dia se pretendeu sério, incense um governo notoriamente corrupto em plenos trópicos. Pelo que sei, o outrora glorioso jornal francês anda mal das pernas. Uma graninha, ainda que do Terceiro Mundo, sempre vem a calhar.

quinta-feira, setembro 16, 2010
 
LE MONDE LOUVA POTENCIAL
COMPRADOR DE 36 RAFALES



Enquanto o país afunda em negociatas oriundas de Brasília, a imprensa francesa, que sempre foi crítica em relação ao Brasil, agora se entrega ao charme do presidente mais conivente com a corrupção em toda a história da República. Por mãos amigas, recebo de Paris um suplemento do Le Monde – 98 páginas em formato de revista –, louvando não só o Brasil de Lula mas também Lula, intitulado Brésil un géant s’impose.

Sobra até para o hino nacional e seu afonsocelsismo desmesurado. Escreve o correspondente Jean-Pierre Langellier:

O hino nacional, escrito em 1909, canta as vantagens do Brasil. “Gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso”. Na mesma época, Georges Clemenceau lançava a seu propósito um cumprimento pérfido: “um país de futuro, e que assim restará por muito tempo”.

Até os últimos tempos, o impávido colosso continuava sendo um país do futuro. A força e a beleza deste gigante tardavam a se impor. Hoje, qual um Gulliver libertado de suas peias, o Brasil se reergue, e, subitamente confiante em si mesmo, dirige seu olhar ao longe, além de sua própria imensidão – quinze vezes o território da França – rumo ao mundo global onde aspira os primeiros lugares.


Mais uma reverência ao libertador do gigante:

Como diz o presidente Luiz Inacio Lula da Silva, familiar às metáforas futebolísticas, e cujo rosto jovial encarna esta renascença: “Nós estamos cansados de jogar na segunda divisão”. Pela primeira vez em sua existência semimilenar, o Brasil tem um encontro feliz com a história, ao qual não quer faltar. “Neste momento quase mágico, resume Lula, Deus é brasileiro”.

Ou seja, nunca na história deste país... – como pisa e repisa o Supremo Apedeuta. Franceses adoram operários no poder. Desde que não seja na França. O respeito ao vernáculo é critério importante na França para a eleição de um mandatário. Là-bas, dans le Thiers Monde, se releva. Lula é elevado ao Olimpo da oratória:

O verbo foi sua primeira arma em política. “Se eu tivesse cobrado meus discursos, eu seria milionário há muito tempo”, disse um dia o presidente brasileiro. Ao longo de sua carreira, este orador nato pronunciou milhares de alocuções públicas, muitas vezes de inproviso, e concedeu centenas de entrevistas à mídia.

Nenhuma palavrinha sobre os maus tratos que Lula infligiu ao verbo. Pelo contrário, suas palavras são penteadas. Lula disse: “minha mãe nasceu analfabeta”. Le Monde corrige: “minha mãe era analfabeta”. (Verdade que, em outro artigo, é reestabelecida a frase original). O obtuso, que sempre teve dificuldade em flexionar gênero e número, vira de repente gênio da oratória. O máximo que o jornal menciona são as mancadas em política externa de Lula, como suas declarações em Londres sobre o “comportamento irracional dos brancos de olhos azuis” e sua gafe na África, quando disse que a Namíbia nem parecia país africano, dada a limpeza e a beleza de suas ruas. Mas palavra alguma sobre a defesa de um terrorista italiano ou da devolução de perseguidos políticos a Cuba.

Mas isto é o de menos. Nas 98 páginas do suplemento, não encontramos uma alusão sequer aos escândalos que permearam seu governo, todos amplamente denunciados pela imprensa brasileira. Nada sobre a quadrilha do mensalão, chefiada por seu então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Nada sobre a quebra de sigilo bancário de um humilde caseiro, o Francenildo, por um outro de seus ministros, Antonio Palloci. Nada sobre dólares na cueca. Nada sobre a aliança com corruptos notórios como José Sarney e Fernando Collor de Mello.

Nada sobre os criminosos forjadores de dossiês, aos quais Lula estendeu uma mão leniente ao chamá-los eufemisticamente de aloprados. Nada sobre os cinco milhões de reais que a Telemar injetou na empresa de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Nada sobre os ímpetos totalitários que de repente acometem o bracinho do Dr. Strangelove tupiniquim, quando nega aos demais partidos o direito de fazer oposição e à imprensa o direito à crítica.

Pelo contrário, Lula é a consagração de um homem do povo. “Em Lula, o estilo faz o homem. Ele tem o sorriso e o abraço fáceis. Sua autoridade natural, seu carisma, seus dotes de tribuno suscitam simpatia e respeito. Lula pôs sua cordialidade, esta qualidade eminentemente brasileira, ao serviço de uma empresa de auto-estima coletiva. (...) Sem modelo nem ídolo, Lula foi seu próprio herói. À força de coragem, de tenacidade e de bom senso, o antigo menino do Nordeste que se tornou engraxate, torneiro mecânico,chefe sindicalista, fundador do Partido dos Trabalhadores e candidato três vezes derrotados à presidência antes de vencer em 2002, forjou para si um destino que ele dá prazerosamente como exemplo aos mais humildes para alimentar seus desejos de salvar-se”.

Em suma, o homem inculto, incoerente, arrogante e cúmplice da corrupção vira agora modelo para toda a humanidade. Neste hagiológio ao Brasil de Lula, sobrou até para um outro enganador, o Chico Xavier, “o mais espantoso médium do século XX. Criança mestiça, pobre, adulto de físico ingrato, tornou-se objeto de culto popular. Graças a seus dons misteriosos mas também à sua vida exemplar, aquela de um homem honesto, modesto, trabalhador e profundamente altruísta”. Pelo jeito, o redator desconhece os plágios de Chico Xavier da obra do francês Ernest Renan, este sim um homem honesto.

Não faltam, é claro, louvações ao futebol e às telenovelas, estas duas pragas que assolam o país. Tampouco poderia faltar um aceno às favelas, estes conglomerados de miséria e criminalidade que os franceses tanto adoram. E aos índios, é claro, estes párias da modernidade, que sequer conseguiram escapar, apesar de milênios de existência, de uma cultura ágrafa. Le Monde mostra, enfim, o Brasil que um europeu gosta de ver: inculto, atrasado e administrado por um operário que se orgulha de sua incultura.

Que mais não seja, sempre é bom cajoler o comprador potencial de 36 Rafales.

quarta-feira, setembro 15, 2010
 
RÚSSIA, DE CATÓLICA ORTODOXA
A ESTADO TEOCRÁTICO ISLÂMICO



O Estadão publicou, segunda-feira passada, um suplemento comercial da Rossiyskaya Gazeta. “Como vivemos, o que fazemos, quais problemas enfrentamos e resolvemos: é isso o que queremos para o leitor brasileiro nas páginas da Gazeta Russa”, diz a apresentação do suplemento. Até aí, estamos todos de acordo.

Ocorre que já em seu primeiro número, a Gazeta, em tom de editorial, louva as verbas do Kremlin destinadas a universidades islâmicas como uma tentativa de unificar a religião no país, no artigo didaticamente intitulado “Islã é receita contra o extremismo”. Depois do 11 de Setembro, dos homens-bomba que se explodem tanto em Israel como em países muçulmanos, a quem quer convencer o articulista? Não é bem sobre “como vivemos e quais problemas enfrentamos” que a Gazeta quer informar. No fundo, quer catequizar. Jornalista russo, pelo jeito, não consegue entender jornalismo senão como militância. Quem diria que a Santa Madre Rússia, que um dia foi bastião do catolicismo e mais tarde fortaleza do ateísmo marxista, tendesse hoje a Estado teocrático islâmico.

Quando afirmo que o comunismo tem suas origens em países católicos e cito a Rússia como exemplo, católico é o que não falta para protestar que a Rússia nunca foi católica e sim ortodoxa. Ora, a Igreja russa era originalmente católica ortodoxa e só mais tarde, talvez para distinguir-se da romana, passou a chamar-se simplesmente de ortodoxa. As duas igrejas se separaram em 1054, em função do dogma da trindade. Ambas continuaram católicas. Mas havia um senão: o filioque.

Para Harold Bloom, em seu excelente Jesus e Javé, a unificação do Pai, do Filho e do Espírito Santo, isto é, o dogma da Trindade, "sempre constituiu a linha crucial de defesa da Igreja contra a imputação judaica e islâmica de que o cristianismo não é uma religião monoteísta". É um achado da Igreja, saliente-se, pois a palavra trindade não consta da Bíblia. O máximo que encontramos é Javé falando no plural, ou Paulo apresentando Jesus e o Espírito como intimamente ligados a Deus, indicando assim que, na Divindade, Deus, Jesus e o Espírito formam uma unidade.

Tudo isto para fugir a qualquer semelhança com as tríades divinas das religiões pagãs, em que um deus-pai, uma deusa-mãe e um filho formam uma família de deuses, sendo muitas vezes mencionados juntos, como Osíris, Isis e Hórus no Egito. Ou o deus lunar, a deusa solar e a estrela Vênus na Arábia. Ou ainda Brama, Rudra e Vixnu da Índia.

Tivessem os teólogos se contentado com este malabarismo conceitual para construir um sistema religioso monolítico, até que o dogma da Trindade não seria de difícil intelecção. Ocorre que os teólogos são minudentes e uma complicada peripécia iria provocar uma violenta cisão na cristandade no século XI.

Segundo o Evangelho de João, o Espírito Santo procede do Pai. Assim o entendeu o Credo niceno-constantinopolitano, que no ano de 381 já repetia esta profissão de fé. Sabe-se lá porque cargas d'água, os latinos acrescentaram ao Credo a partícula filioque, professando que o Espírito procede do Pai e do Filho. Os cristãos orientais acusaram então os latinos de haver alterado os símbolos da fé. Em 444, Cirilo da Alexandria afirmava que o "Espírito é o Espírito de Deus Pai e, ao mesmo tempo, Espírito do Filho, saindo substancialmente de ambos simultaneamente, isto é, derramado pelo Pai a partir do Filho". São inúmeros os teólogos que eram do mesmo aviso. Mas os cristãos gregos não conseguiam aceitar a polêmica conjunção, o e (que, em latim).

O caldo engrossou quando o Concílio de Toledo, em 589, oficializou o símbolo da fé com o filioque, e considerou anátema a recusa da crença de que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Não bastasse o absurdo conceito do três-em-um - inteligível se levamos em conta a preocupação de fugir ao politeísmo - discutia-se agora a relação de um com os outros dois. Pensamento dogmático é assim mesmo.

O debate percorreu os séculos. As comunidades se cindiram em 1054 e até hoje não chegaram um acordo sobre esta questão literalmente bizantina. Moscou tornou-se o centro mais importante da nova igreja, a católica ortodoxa. Dostoievski, é bom lembrar, era católico ferrenho. Ainda recentemente, em 1995, João Paulo II tentava esclarecer a questão da Trindade com o patriarca Bartolomeu I, numa tentativa de melhorar as relações com os orientais.

Esclarecida a pendenga do filioque e da Igreja Católica Ortodoxa Russa, volto ao artigo da Gazeta. “O incentivo governamental a essas instituições se dá principalmente por meio de subsídios. A medida soma-se ao esforço de combater o extremismo religioso e o doloroso conflito marcado por ataques suicidas e pelo assassinato de policiais, prefeitos e líderes religiosos que tomou conta do Daguestão e de outras repúblicas russas na região do Cáucaso do Norte. Atualmente o governo russo investe verbas em onze universidades islâmicas, sendo quatro apenas em repúblicas ao norte do Cáucaso”.

Os muçulmanos parecem ter encontrado o segredo de lidar com a Rússia. Basta matar policiais, prefeitos e líderes religiosos, que o Estado russo imediatamente financia universidades ligadas à religião que mata seus policiais, prefeitos e líderes religiosos. O mesmo está acontecendo na França. Para enfrentar o desrespeito flagrante dos muçulmanos que bloqueiam ruas para rezar em Paris, o prefeito Bertrand Delanoë promete premiar os muçulmanos com uma mesquita na Goutte d’Or.

“De acordo com os planos do Fundo do Kremlin para o Apoio da Cultura, Ciência e Educação Islâmica – diz a Gazeta – todos os anos serão aplicados cerca de US$ 13 milhões em programas educacionais, bolsas de estudos e publicações. Rufik Mukhamedsin, o reitor da Universidade Islâmica em Kazan, espera que o Estado também padronize os diplomas concedidos por institutos educacionais islâmicos, garantindo que esses documentos sejam aceitos por todo o país”.

As madrassas estão assumindo o ensino na Rússia, financiadas pelo Estado russo. A antiga nação católica, e mais tarde comunista e atéia, está virando Estado teocrático. Pior ainda, teocrático e muçulmano.

terça-feira, setembro 14, 2010
 
GUILDA ABOMINA
FORMAÇÃO AMPLA



Leio na Folha de São Paulo de hoje:

O advogado Evandro Sathler, mestre em ciências sociais e jurídicas e doutor em geografia, viu-se em uma sinuca de bico quando quis prestar concurso para professor em universidade pública.
"Não me qualifico nos editais para docente de direito porque meu doutorado é em ciência sociais, nem nos de geografia porque meu bacharelado é em direito", diz.
O caso de Sathler ilustra um problema emergente: o descompasso entre a presença cada vez maior de profissionais multidisciplinares e sua inserção nas universidades, ainda estruturadas em "caixinhas" -departamentos organizados em torno de uma área do conhecimento.


O jornal lista vários outros casos de pessoas plenamente habilitadas para o magistério, com mestrado ou doutorado em determinadas disciplinas, mas que não podem fazer concurso por não terem graduação na área. No fundo, o corporativismo das guildas. Certo, determinados campos do conhecimento humano exigem uma formação prévia. Ninguém pode fazer um mestrado em engenharia ou medicina sem antes ter passado pelo curso. Mas o mesmo não ocorre nas ciências humanas.

Até 1969, era jornalista que exercia o jornalismo e estamos conversados. Uma junta de militares, mais conhecida como os Três Patetas, tentando cercear a liberdade de expressão, resolveu regulamentar a profissão. A partir de então, só podia exercer o ofício quem tivesse curso universitário. As esquerdas, que lutaram contra os militares mas sempre gostaram da idéia de censura, adoraram a nova lei.

Hoje, são os velhos comunas e petistas os que mais defendem a exigência de curso universitário para o exercício do jornalismo. Tanto que a profissão foi desregulamentada mas ainda há quem tente uma emenda constitucional para reestabelecer o diploma. O que vai na contramão de todos os países do Ocidente. Desconheço país em que tenha vigência este quesito absurdo. Na França, por exemplo, a lei é singela: é jornalista todo aquele que tirar a parte maior de seus proventos do jornalismo.

O mesmo diria de Letras. Ainda ontem, eu contava que minha formação literária ocorreu em um boteco, o Chalé da Praça XV, de Porto Alegre. Nos cafés se discute – e se lê – mais literatura do que nos cursos de Letras. Estes cursos estão contaminados por uma peste oriunda da Europa que contamina o estudo de Letras, a tal de teoria literária. É disciplina absolutamente inútil e que tomará pelo menos metade do tempo do aluno. Teoria literária à parte, você terá de ler os Rosas, Machados, Verissimos e Clarices da vida. Cervantes, Swift, Thackeray, Dostoievski, Kuprin, Nietzsche, Hölderlin, Lagerkvist, Boye, que é bom, ni pensar.

Ah, conheço bem esta via crucis. Quando voltei de Paris, com um doutorado flamante em Letras pela Sorbonne Nouvelle, quase cai no ostracismo porque não tinha curso de Letras. Em verdade, acabei caindo no desemprego. Fora um interregno de quatro anos, como professor-visitante, não consegui mais vaga na universidade. Apesar de ter lecionado Literatura Brasileira e Comparada e orientado teses durante quatro anos. Transcrevo a seguir crônica que escrevi há mais de quatro anos, onde faço um relatório de meu calvário.

Mas foi bom. Amor facti, como diria Nietzsche. O desemprego me empurrou para São Paulo, onde voltei ao jornalismo. (São Paulo sempre acaba chamando). Escapei do deserto de idéias de Florianópolis e dos miasmas exalados pela ilha. E da burocracia universitária. Descobri que ilhéu tem a cabeça do tamanho da ilha em que habita. Me dei conta disto quando descobri que no curso de Filosofia da UFSC havia uma ementa: História da Filosofia Catarinense. Pode? O Estado nunca teve um filósofo e no entanto já tinha uma história da filosofia.

Como dizia Camus, ao chegar em Porto Alegre: “je déteste ces ilôts de civilization”. Desemprego pode ser muito transformador. Foi o meu caso. Da ilha, guardo comigo boa lembrança de algumas alunas e de raros amigos. O resto, o ensino universitário, foi pura perda de tempo, caminhada rumo ao inútil.

 
AS TRÊS VIAS DE ACESSO

(junho 2006)


Após ler minha crônica sobre os cavacos do ofício do jornalismo, uma amiga me pergunta porque não estou lecionando numa universidade. Coincidentemente, a resposta está no artigo de Cláudio de Moura Castro, na Veja da semana passada:

“Na UFRJ, um aluno brilhante de física foi mandado para o MIT antes de completar sua graduação. Lá chegando, foi guindado diretamente ao doutorado. Com seu reluzente Ph.D., ele voltou ao Brasil. Mas sua candidatura a professor foi recusada pela UFRJ, pois ele não tinha diploma de graduação. Luiz Laboriou foi um eminente botânico brasileiro, com Ph.D. pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e membro da Academia Brasileira de Ciências. Mas não pôde ensinar na USP, pois não tinha graduação”.

Estas peripécias, eu as conheço de perto. Começo pelo início. Nunca me ocorreu lecionar na universidade. Eu voltara da Suécia, cronicava em Porto Alegre e fui tomado pela resfeber, doença nórdica que contraí na Escandinávia. Traduzindo: febre de viagens. Li nos jornais que estavam abertas inscrições para bolsas na França e me ocorreu passar alguns anos em Paris. A condição era desenvolver uma tese? Tudo bem. Paris vale bem uma tese. Tese em que área? Busquei algo que me agradasse. Na época, me fascinava a literatura de Ernesto Sábato. Vamos então a Paris estudar Sábato.

Mas eu não tinha o curso de Letras. O cônsul francês, ao me encontrar na rua, perguntou-me se eu não podia postular algo em outra área. Em Direito havia mais oferta de bolsas. Poder, podia. Eu cursara Direito. Mas do Direito só queria distância. Mantive minha postulação em Letras. Para minha surpresa, recebi a bolsa. A França me aceitava, em função de meu currículo, para um mestrado em Letras, curso que eu jamais havia feito. Nenhuma universidade brasileira teria essa abertura. Aliás, os componentes brasileiros da comissão franco-brasileira que examinava as candidaturas, tentaram barrar a minha. Fui salvo pelos franceses.

Fui, vi e fiz. Em função de meu currículo, aceito para mestrado, fui guindado diretamente ao doutorado. Tive o mesmo reconhecimento que o aluno do MIT. Acabei defendendo tese em Letras Francesas e Comparadas. Menção: Très bien. Não me movera nenhuma pretensão acadêmica, apenas o desejo de curtir Paris, suas ruelas, vinhos, queijos e mulheres. A tese não passou de diletantismo. De Paris, eu escrevia diariamente uma crônica para a Folha da Manhã, de Porto Alegre. Salário mais bolsa me propiciaram belos dias na França. Foi quando minha empresa faliu. Conversando com colegas, fiquei sabendo que um doutorado servia para lecionar. Voltei e enviei meu currículo para três universidades. Sei lá que loucura me havia acometido na época: um dos currículos enviei para o curso de Letras da Universidade de Brasília.

Fui a Brasília acompanhar meu currículo. Procurei o chefe do Departamento de Letras. Ele me cobriu de elogios, o que só ativou meu sistema de alarme. Que minha tese era brilhante, que meu currículo era excelente, que era um jovem doutor com um futuro pela frente. Etc. Mas... eu tinha apenas os cursos de Direito e Filosofia, não tinha o de Letras. Me sugeria enviar meu currículo ao Departamento de Filosofia, já que a tese tinha alguns componentes filosóficos.

Ingênuo, fui até o Departamento de Filosofia. O coordenador me recebeu muito bem, analisou minha tese, cobriu-a de elogios. Mas... eu não tinha o Doutorado em Filosofia. Apenas o curso. Considerando o grande número de artigos publicados em jornal, sugeria que eu fosse ao Departamento de Comunicações. Besta atroz, fui até lá. O coordenador considerou que meu currículo como jornalista era excelente. Mas... eu não tinha o Curso de Jornalismo.

Na Universidade Federal de Santa Catarina abriu um concurso para professor de Francês. Já que eu era Doutor em Letras Francesas, me pareceu que a ocasião era aquela. Duas vagas, dois candidatos. Fui solenemente reprovado. Uma das alegações foi que eu falava francês como um parisiense, e a universidade não precisava disso. A outra, e decisiva, era a de que eu tinha doutorado em Letras Francesas, mas não tinha curso de Letras.

Já estava desistindo de procurar emprego na área, quando fui convidado para lecionar Literatura Brasileira, na mesma UFSC que me recusara como professor de francês. Convidado como professor visitante, o que dispensa concurso. Mas o contrato é por prazo determinado, dois anos. O curso precisava de doutores para orientar teses e eu estava ali por perto, doutor fresquinho, recém-titulado e livre de laços com outra universidade. Fui contratado.

Acabei lecionando quatro anos, na graduação e pós-graduação. Findo meu contrato, foi aberto um concurso para professor de Literatura Brasileira. Me inscrevi imediatamente. Uma vaga, um candidato. Me pareceram favas contadas. Ledo engano. Eu não tinha o curso de Letras. Fui de novo solenemente reprovado. Não tinha graduação em Letras.

Na mesma época, abriu um concurso na mesma universidade para professor de espanhol. Ora, eu já havia traduzido doze obras dos melhores autores da América Latina e Espanha (Borges, Sábato, Bioy Casares, Robert Arlt, José Donoso, Camilo José Cela). Vou tentar, pensei. Tentei. Na banca, não havia um só professor que tivesse doutorado. Pelo que me consta, jamais haviam traduzido nem mesmo bula de remédio. Mais ainda: não tinham uma linha sequer publicada. Novamente reprovado. Minhas traduções poderiam ser brilhantes. Mas eu jamais havia feito um curso de espanhol.

Melhor voltar ao jornalismo. Foi o que fiz. Anos mais tarde, já em São Paulo, por duas vezes fui convidado para participar de uma banca na Universidade Federal de São Carlos, pelo professor Deonísio da Silva, então chefe de Departamento do Curso de Letras. Uma das bancas era para escolher uma professora de Literatura Espanhola, outra uma professora de Literatura Brasileira. Deonísio sugeriu-me participar, como candidato, de um futuro concurso. Impossível, eu não tinha o curso de Letras. Quanto a julgar a candidatura de um professor de Letras, isto me era plenamente permissível.

Por estas e por outras – e as outras são também importantes, mas agora não interessam – não estou lecionando. Diz a lenda que na universidade da Basiléia havia um dístico no pórtico, indicando as três vias de acesso à universidade: per bucam, per anum, per vaginam. Lenda ou não, o dístico é emblemático. A universidade brasileira, particularmente, é visceralmente endogâmica. Professores se acasalam com professoras e geram professorinhos e para estes sempre se encontra um jeito de integrá-los a universidade. A maior parte dos concursos são farsas com cartas marcadas.

Pelo menos na área humanística. As exceções ocorrem na área tecnológica, onde muitas vezes a guilda não tem um membro com capacitação mínima para proteger. Contou-me uma professora da Universidade de Brasília: “eu tive muita sorte, os dez pontos da prova oral coincidiam com os dez capítulos de minha tese”. O marido dela era um dos componentes da banca. A ingênua atroz – ou talvez cínica – falava de coincidência.

Na universidade brasileira, nem um Cervantes seria aceito como professor de Letras, afinal só teria em seu currículo o ofício de soldado e coletor de impostos. Um Platão seria barrado no magistério de Filosofia e um Albert Camus jamais teria acesso a um curso de Jornalismo. No fundo, a universidade ainda vive no tempo das guildas medievais, que cercavam as profissões como quem cerca um couto de caça privado. Na Espanha e na França, desde há muito se discute publicamente a endogamia universitária. Aqui, nem um pio sobre o assunto. E ainda há quem se queixe quando os melhores cérebros nacionais buscam reconhecimento no Exterior.

segunda-feira, setembro 13, 2010
 
REFORMAS EM MEU
ANTIGO ESCRITÓRIO



De Porto Alegre, recebo notícias que em outros tempos seriam alvissareiras. Hoje, não. Meu antigo escritório será reformado e ampliado. Por meu antigo escritório entenda-se o Chalé da Praça XV, restaurante capitaneado em meus dias de Rua da Praia por Her Moser, autor de um dos mais sábios aforismos que já ouvi: fora do bar não há salvação.

Lá eu tinha mesa cativa e, se estava em Porto Alegre, raros foram os dias em que deixei de bater ponto. Sempre entendi que um jornalista ou escritor deve ter um ponto fixo e conhecido onde possa ser encontrado pelos leitores. O meu era o Chalé. Quem quisesse me encontrar sabia que, lá pelas sete da tarde, eu já estava lá.

Gosto de bares centenários, coisa rara neste país que pouco cultiva o antigo. O primeiro Chalé datava de 1885, como quiosque para venda de sorvetes. Em 1909 foi construído um pavillon, em substituição ao antigo quiosque. Em 1911, tomou assumiu sua atual arquitetura, quando a Prefeitura substituiu o antigo chalé de madeira por um prédio composto por estruturas inglesas de aço desmontável e vidros que vieram de uma feira internacional de calçados, de Buenos Aires. É muito difícil hoje, no Brasil, encontrar um restaurante centenário. Em Porto Alegre, pelo que sei, resta só um outro, o Gambrinus, no Mercado Público. Onde, há dois meses, degustei um mocotó divino.

No Chalé, trabalhei, filosofei, li, escrevi ou concebi minhas crônicas, bebi, confraternizei, charlei, namorei e – obviamente – também tomei meus porres. Lá tive notícias da boa literatura, coisa que não encontrava na universidade. Minha formação literária, não seria exagero afirmar, ocorreu naquelas mesas. Quando comecei a viajar, se chegava a Porto Alegre em tempo hábil, saía do aeroporto e antes de ir para casa ia para o Chalé. Lá, eu recebia correspondência, telefonemas e visitas.

Mas os tempos eram outros. O centro de Porto Alegre ainda era freqüentável. Hoje, após as sucessivas gestões do PT, tornou-se reduto de camelôs e traficantes. Havia a Rua da Praia, ali ao lado, onde as gaúchas iam desfilar seu charme. Os varões fincavam pé no meio da rua – fechada a carros – e olhavam as meninas que passavam. Era fenômeno creio que único no Brasil. Certa vez, conversando com um sociólogo americano, Carlos Cortez, ele perguntou-me:

- Que é isso? Hoje é feriado?
Nada disso. É dia normal de trabalho.
- E essa gente parada na rua, que está fazendo?
Olhando as mulheres que passam, oras.

Cortez não entendia. Garantiu-me que, quando fosse ditador dos Estados Unidos, obrigaria os americanos a ficarem três ou quatro horas parados na rua. Era também na Rua da Praia que eu perambulava, à madrugada, com o Mário Quintana. Homem de diálogo difícil, caminhava quase sempre silente, pronunciando uma frase lá de vez em quando. Ali pertinho, na Borges, morava o Dyonélio Machado, comunista ferrenho que introduziu-me nos estudos bíblicos. Já octogenário, perambulava longas horas pela Rua da Praia e adjacências. "Velho que não anda, desanda", dizia-me.

Havia um outro ponto de encontro no centro, a Pastelaria e Rotisserie Pelotense, na Riachuelo. Era meu escritório alternativo, reduto do Carlos Coelho e do Sampaulo, o chargista, do Clóvis Camargo Ott, Darci Demétrio, Artur Monteiro e Marcelo Renato, jornalistas daqueles antigos, movidos a álcool puro. Havia também o Carlinhos Guimaraens, enciclopédia ambulante sempre ao dispor dos amigos.

Quando a Caldas Júnior foi comprada por uma pessoa estranha ao jornalismo, o novo proprietário impôs uma norma à empresa: BBC não trabalha mais aqui. Por BBC, o sedizente Dr. Ribeiro entendia bichas, bêbados e comunistas. O Guima, pacientemente, se escorando numa parede, teve de explicar ao Dr. Ribeiro:
- Dr! Dá pra fazer um jornal sem bicha. Sem comunista, também. O que não dá pra fazer é um jornal sem bêbados.

Era a Porto Alegre da Praça da Alfândega, onde discutíamos os destinos do mundo – e a natureza das mulheres – até o amanhecer. Lembro que, certa vez, quando ainda não havíamos decidido se as mulheres eram infernais e cruéis ou divinas e afáveis, olhei para a calçada e vi pombas ciscando. Ora, pomba não é boêmia, não anda à noite. É que já eram sete da manhã e eu não havia notado.

Havia mistérios no Chalé que até os próprios garçons desconheciam. Nossos garçons prediletos eram o Speak Deutsche – assim chamado por motivos óbvios – e o César Vidrinho, o de óculos de fundo de garrafa. João era o chefe dos garçons. Certo dia, uma filha do João começou a freqüentar um curandeiro, nos arrabaldes de Porto Alegre. Quando descobriu que o curandeiro era o César Vidrinho, que faturava uma graninha por fora com um alterego, ficaram longas semanas sem falar um com o outro.

Neste contexto, o Chalé tinha sentido. Depois que saí de Porto Alegre, costumava hospedar-me no City Hotel, ao lado de meu bebedouro predileto. Com o tempo, levei medo e troquei de hotel. A Rua da Praia, a Praça da Alfândega, a XV, o centro todo, hoje são assustadores à noite. Quem cruza aquelas ruas tem vocação para suicida.

Leio que o Chalé será ampliado e poderá receber até seiscentas pessoas. Tarde demais. Hoje, mesmo de dia, é desagradável ir até o café. Você tem de ombrear por massas de camelôs. A casa decaiu e já não consegue lotar nem metade de suas mesas. O entorno da Praça, à noite, fica tomado por traficantes, pivetes, assaltantes.

O centro de Porto Alegre morreu. E não acredito em ressurreição.

domingo, setembro 12, 2010
 
QUANDO ESMOLAR VIRA
SINÔNIMO DE TRABALHAR



Esta nossa imprensa fantástica e seus eufemismos maravilhosos. As pessoas desmoralizam as palavras que as definem e depois buscam outras para serem definidas. Aconteceu, por exemplo, com favela. À medida que a palavrinha passou a ser sinônima de tráfico e banditismo, os jornais recorreram à outra: comunidade. Ora, esta palavra é bastante ampla e eu não estaria sendo inadequado se falasse da comunidade de Higienópolis ou do Anália Franco. Mas não. Comunidade agora é a Heliópolis ou da Rocinha. Líder de favela soa mal. É expressão associada a drogas e criminalidade. Melhor líder da comunidade.

Minha faxineira, outro dia, me perguntava:
- É verdade que não se pode falar mais em favela? A professora de meu filho disse que agora é comunidade.

Claro que pode, Cristina. O que um professor diz não tem força de lei. E tentei explicar para ela em que consiste o tal de pensamento politicamente correto. Cristina é pessoa bastante atilada e logo percebeu que estavam mexendo com a linguagem.

Outro dia, vi uma manchete divina no Estadão:

67% DAS CRIANÇAS QUE TRABALHAM NA RUA TÊM TRANSTORNO

Fiquei intrigado. Moro há vinte anos em São Paulo e jamais vi crianças trabalhando na rua. Fui à notícia:

Além de sofrerem violência física em casa, 67% das crianças que trabalham nos semáforos das ruas de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, e dos Jardins, zona sul, apresentam transtornos emocionais. De 185 que trabalham nessas áreas, 124 têm problemas como hiperatividade, fobias e depressão. Entre as crianças analisadas, todas tinham nível de estresse superior aos limites normais.

Ah bom! O jornal falava das crianças que esmolam nas ruas. O diagnóstico resulta de uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), daí o politicamente correto. Falava dessas crianças que esperam os carros diante dos semáforos e fazem uma rápida apresentação de malabares. A propósito, amigos me contam que a prática está disseminada por todas as capitais da América Latina. É óbvio que as tais de criancinhas não tomaram, espontânea e universalmente, a decisão de serem malabaristas em todo um continente. Claro que existem ONGs internacionais que, em vez de as tirarem da miséria, as treinam para pedir esmolas.

Continua a notícia:

Entre as crianças emocionalmente abaladas, 27% têm diagnóstico fechado para distúrbios graves, como déficit de atenção e hiperatividade, transtorno de conduta (personalidade antissocial), depressão, fobias, enurese (urina durante o sono, ligada a questões emocionais) e transtorno de oposição e desafio (agressividade).

Nos depoimentos, as crianças falam em abusos sexuais (15,5% afirmaram terem sido molestadas nos semáforos), situações de violência (32,8% disseram ter sofrido espancamento) e abusos emocionais (31,6% sofrem xingamentos constantes de motoristas - o que traumatiza principalmente as mais novas).

"A pesquisa é representativa de toda a periferia da capital paulista. Retrata a situação de famílias desestruturadas, que têm renda miserável e não vêem outra opção a não ser trabalhar nas ruas", disse a coordenadora do estudo, Andrea Feijó de Mello, pesquisadora do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência (Prove) da Unifesp. "Há milhares de crianças assim, a maioria não atendida por programas assistenciais."


É óbvio que a miséria é estressante. Como também é óbvio que uma criança jogada nas ruas está sujeita a toda espécie de abusos. Aqui em São Paulo, há pessoas alugando filhos alheios para esmolar nas ruas. E certamente estão alugando também adultos. Frente a meu edifício, todos os dias vejo uma mulher jogada na calçada, que mal tem condições de manter-se em pé. Está quase morta, a coitada. Como ela chega ali? Caminhando é que não é. Alguém a deposita de manhã e vem buscá-la à noite.

Mas o Estadão – leia-se no fundo a Unifesp – fala em famílias que “não vêem outra opção a não ser trabalhar nas ruas”. Esmolar virou sinônimo de trabalhar.

Para quando a regulamentação do novo ofício?

sábado, setembro 11, 2010
 
CASTRO NEGA CASTRO
E CONFIRMA NIEMEYER



E não é que Niemeyer tinha razão? Fidel Castro veio a público para dizer que não disse o que disse. Não nega a entrevista concedida ao jornalista Jeffrey Goldberg, da revista americana The Atlantic. Mas acha que Goldberg foi longe demais. "Me divirto agora ao ver como ele interpretou ao pé da letra. Sigo pensando que Goldberg é um grande jornalista. Não inventa frases, as transfere e as interpreta", disse, segundo o site oficial cubadebate.cu, sem trocadilhos.

- Minha idéia – continuou o tiranete – como todo o mundo conhece, é que o capitalismo já não serve para os Estados Unidos, nem para o mundo, ao qual conduz de crise em crise, que são cada vez mais graves, globais e repetidas, das quais não consegue escapar.

Ah bom! Não falava do socialismo. Quando disse que o modelo cubano não serve nem mesmo para Cuba, não queria dizer que o modelo cubano não serve nem mesmo para Cuba. Pura interpretação do jornalista. O que queria dizer era que o capitalismo não serve nem mais para os Estados Unidos. Hugo Chávez, Chico Buarque, Ariano Suassuna, Luis Fernando Verissimo, Lula, dona Dilma, Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim e Tarso Genro podem respirar aliviados. A utopia continua viva. Niemeyer, o decano do stalinismo no continente, tinha razão. Castro não poderia ter dito tal bobagem.

Só não deve ter convencido os cubanos, que há meio século sabem que o regime cubano não serve para Cuba.

sexta-feira, setembro 10, 2010
 
NIEMEYER, A ÚLTIMA ESPERANÇA


Mas nem tudo está perdido. Quando o infame Fidel trai seu próprio regime, ergue-se no Brasil uma voz mais castrista que a de Castro. Os órfãos de Havana ainda têm um ombro amigo junto ao qual consolar-se. Leio na Folha de São Paulo que, ao ser informado da declaração de Fidel Castro de que o modelo cubano está superado, o arquiteto Oscar Niemeyer, 102, um dos artistas brasileiros mais radicais na defesa do comunismo, disse não acreditar. A informação foi dada à Folha pela mulher dele, Vera Lúcia. "Quando comentei com ele sobre isso, disse que não acreditava."

Imagine Jeová chegando ao Vaticano e sussurrando ao papa: “Cara, vamos parar com isso. Eu não existo”. É claro que o Sumo Pontífice não vai acreditar. Dedicou então toda sua vida ao serviço de quem não existe? Vai trabalhar agora em quê, ele que fora de sua crença de nada entende? Este é o grande drama dos comunistas. Como admitir que lutaram a vida inteira por uma causa errada? Significa destruir a própria biografia.

A mesma coisa aconteceu em 1956, quando Nikita Kruschov denunciou, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, os crimes de seu antecessor, Josef Vissarionovitch Diugatchvíli, mais conhecido como Stalin. Comunista nenhum acreditou nas denúncias do secretário do PCUS. Intriga da CIA, disseram então. Até hoje, ainda há quem não acredite nas denúncias de Khruschov. Niemeyer é um deles.

O mesmo ocorreu dia 05 de março de 1953, quando morreu Stalin. Intrigas da CIA, repetiram os devotos. Stalin não pode estar morto. Porque um Deus não pode morrer. Conheci em Porto Alegre velhos comunossauros que choraram na época, indignados com as mentiras dos serviços de informação ianques.

O mesmo aconteceu em 1949, quando Victor Kravchenko denunciou em Paris os crimes de Stalin. Alto funcionário soviético que havia trocado a URSS pelos Estados Unidos, relatou esta opção em Eu escolhi a liberdade, livro em que denunciava a miséria generalizada e os gulags do regime stalinista. O livro foi traduzido ao francês em 1947 e teve um sucesso fulminante. A revista Les Lettres Françaises publicou três artigos difamando Kravchenko, apresentando-o como um pequeno funcionário russo recrutado pelos serviços secretos americanos. Kravchenko processou a revista, no que foi considerado, na época, o julgamento do século. No banco dos réus estava nada menos que a Revolução Comunista.

Em seu testemunho, Kravchenko trouxe ao tribunal Margaret Buber-Neumann, mulher do dirigente comunista alemão Heinz Neumann, como também o ex-guerrilheiro antifranquista El Campesino, ambos aprisionados por Stalin em campos de concentração. Kravchenko, que perdeu toda sua fortuna produzindo provas no processo, teve ganho de causa. Recebeu da revista francesa, como indenização por danos e perdas ... um franco simbólico.

A história de Kravchenko é fascinante, envolve diversos países, desde a finada União Soviética até Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, e até hoje não houve cineasta que ousasse transpor sua odisséia para as telas. Seu livro rendeu-lhe boa fortuna. Levado à falência com os custos do processo, foi morar no Peru, onde investiu em minas de ouro e de novo enriqueceu. Acabou suicidando-se em um hotel em Nova York. A partir de seu processo ninguém mais podia negar o universo concentracionário soviético. 1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo. Sessenta anos depois, Niemeyer continua stalinista convicto.

Isso sem falar nas denúncias dos anos 30, de escritores como Sábato, Gide, Camus, Arthur Koestler, Ignazio Silone, Louis Fischer, Stephen Spender. Ninguém acreditou. Stalin era intocável.

Niemeyer não acredita que Castro tenha proferido tal bobagem. Provavelmente nem o Ariano Suassuna. Muito menos Zuenir Ventura ou Chico Buarque. Seria interessante ouvirmos a opinião de Luis Fernando Verissimo. Castro é um canalha. Devia estar na mesma prisão dos dissidentes que enviou à prisão por afirmarem que o regime cubano não funcionava mais.

O tempora! O mores! Não se pode confiar em mais ninguém. Ainda bem que Niemeyer resiste.