¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, junho 02, 2011
 
ÁGUA PROVOCA CÂNCER


Ainda há pouco, eu comentava aquela notícia divulgada há dois anos pelo INCA – Instituto Nacional do Câncer da França – que assegurava que meia taça de vinho por dia era fator altamente cancerígeno. Há duas semanas, tivemos outra notícia alarmante, a de que sexo oral provoca câncer. A descoberta é da Universidade de Ohio. Perguntei-me na ocasião: os médicos sempre analisam o universo dos pacientes. E esse universo todo que gosta do bom esporte e nunca teve câncer? Não entra nas estatísticas?

Há dois dias, surgiu um novo fator cancerígeno, os telefones celulares. Pela primeira vez – dizem os jornais - um painel de especialistas da OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou o celular como "possivelmente cancerígeno". O uso do aparelho estaria na terceira categoria de agentes que podem levar a tumores - em uma lista com mais de 200 itens, que inclui de café até o pesticida DDT. A presença de um elemento nessa categoria significa que pesquisas o ligam a risco de câncer, mas que não há conclusão sobre se esse perigo existe ou não. Um apêndice do trabalho mostra que pessoas que usam celular durante mais de 30 minutos por dia por mais de dez anos têm risco maior de câncer no cérebro.

Leio na Folha de São Paulo que o mecanismo pelo qual o celular causaria danos não está claro. Ele emite ondas eletromagnéticas não ionizantes, que esquentam os tecidos do corpo. Já a radiação ionizante, como a do raio-X, tem o poder de destruir moléculas e causar mutações no DNA que podem levar a câncer.

Segundo o biomédico Renato Sabbatini, professor da Unicamp, a inclusão do celular como possivelmente cancerígeno não é motivo para "assustar ninguém". Segundo ele, ainda falta consenso na comunidade científica sobre o perigo do celular para o corpo. "Essa classificação de risco ainda pode mudar, para mais ou para menos", afirma Sabbatini.

Leio no El País declarações de Josep Maria Borrás, responsável pela estratégia nacional contra o câncer, do ministério da Saúde Espanhol. Segundo Borrás, o estudo da OMS é “uma possibilidade que terá de ser confirmada.

Tampouco há evidências – diz o jornal – de que o número de tumores cerebrais esteja aumentando. E isso apesar do desenvolvimento da tecnologia, especialmente da ressonância magnética nuclear, que torna mais fácil seu diagnóstico. Distintos trabalhos nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Dinamarca, Suécia ou Finlândia não apontam nenhum incremento. Segundo o Journal of the National Cancer Institute estado-unidense, houve uma estabilização da incidência, o que indicaria que “com a expansão massiva dos celulares, se existe algum tipo de efeito, deve ser modesto”.

Ora, se não há conclusões, se não há consenso, para que esse alarmismo todo? Se o uso do celular é "possivelmente cancerígeno", também pode ser possivelmente não-cancerígeno. Imagino que os pesquisadores, ao interrogar um paciente de câncer de garganta, perguntem: você pratica sexo oral? Ora, quem não pratica? Logo, sexo oral é causa do câncer de garganta. Aos pacientes de câncer no cérebro, a pergunta é outra: você usa celular? Mas quem não usa celular hoje? Provavelmente, só eu.

Mas e se perguntarem a quem tem câncer no cérebro: você pratica sexo oral? Como há boas chances de a resposta ser sim, vamos por isso concluir que sexo oral provoca câncer de cérebro? Ou será um efeito conjugado de sexo oral com uso de celular?

Está se tornando generalizado o uso do Ipad. Quando todo cidadão dispuser de um Ipad, é óbvio que todo canceroso será usuário de um Ipad. Teremos então uma nova causa do câncer? Estes senhores estão exagerando.

Tenho uma outra hipótese. Sei lá por que circunstâncias – talvez longevidade – em um pequeno círculo de sete amigos, cinco foram contemplados pelo câncer. Inclusive eu. Se praticam sexo oral, não sei. Não pergunto isso a ninguém. Mas entre eles há quem beba e quem não beba. E até mesmo quem praticamente não use celular. Como é meu caso, mas não só o meu.

Meu carcinoma foi de palato. Coisa de quem fuma. Ora, nunca fumei em minha vida. Mas descobri algo comum entre eu e meus amigos: todos tomamos água. De onde só posso concluir: água provoca câncer.