¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, junho 13, 2011
 
MEU MEDÍOCRE DE HOJE


De meus prazeres perversos, acho que já falei. Um deles é ler cronistas medíocres. Sei que é perda de tempo, mas me diverte ouvir sandices. Um de meus diletos é o ex-seminarista Carlos Heitor Cony, imortal da Academia Brasileira de Letras e detentor de uma gorda bolsa-ditadura, que pelo jeito jamais leu a Bíblia. Ano passado, escrevia na Folha de São Paulo:

"Limitado em sua natureza humana, Jesus seria um judeu religioso, tendo como norma de sua vida terrena a lei fundamental dos judeus, que passou para os cristãos: os dez mandamentos, entre os quais o sexto, que prega a castidade".

Ora, você pode revirar a Bíblia de alto a baixo, ler e reler os dez mandamentos. Jamais encontrará, no livro todo, a palavra castidade. Cony, o imortal, confunde catecismo com Bíblia. Pelo jeito, não viu nem a primeira metade da missa. Em abril deste ano, o filhote de padre reincidiu:

"Mas... mas houve uma setinha, em forma de estrela, que rasgou a noite escura do deserto e acessou aquela gruta onde apenas um menino nascia. Adormecidos nos campos, os pastores despertaram com aquela estrela que apontava numa direção. Longe, bem longe dali, três Reis Magos também viram aquela estrela e vieram. "Vimos a sua estrela no Oriente e viemos" - disseram os Reis Magos. Era um anúncio do mundo virtual 2.000 anos antes da era digital".

Fora a comparação sem pé nem cabeça entre a chamada estrela de Belém e a era digital, demonstração inequívoca de que o cronista anda sem assunto - como aliás anda desde há muito - o ex-seminarista comete esse erro sempre repetido, inclusive pelo Bento XVI, a menção aos três reis magos.

Pegue os Evangelhos e revire-os de ponta a ponta. Jamais encontrará a referência a reis magos e muito menos a três reis magos. Há no máximo uma menção a "alguns magos". O ex-seminarista demonstra total desconhecimento dos textos bíblicos e a Folha lhe dá guarida.

Meu medíocre de hoje é outro, Wálter Fanganiello Maierovitch. Apanho na rede um rápido pé biográfico: “Paulista, 60 anos, é comentarista da CBN, colunista da revista Carta Capital e colaborador da revista italiana Narco-Mafie. Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e presidente e fundador do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, é também professor de pós-graduação em direito penal e processual penal, além de professor-visitante da Universidade de Georgetown (Washington-EUA). É conselheiro da Associação Brasileira dos Constitucionalistas-Instituto Pimenta Bueno da Universidade de São Paulo (USP), ex-secretário nacional antidrogas da Presidência da República, titular da cadeira 28 da Academia Paulista de História”.

O ilustre desembargador, colunista, professor de pós-grad, professor-visitante da Universidade de Georgetown e titular da cadeira 28 da Academia Paulista de História, em recente entrevista ao Estado de São Paulo, disse:

- Os clientes da Projeto deveriam ter vindo a público esclarecer seus contratos?
- Sim, porque hoje as empresas têm um compromisso social, são parceiras em ações sociais. Tinham o dever de dizer: "Olha, eu contratei uma consultoria assim, assim, assim, não teve tráfico de influência algum". E por que o procurador-geral não chamou e não ouviu os representantes dessas empresas? Percebe como ficou uma coisa capenga? Não é atribuição dele, mas podemos falar que o procurador-geral deu um habeas corpus. E ainda fez tabula rasa do pecunia olet, princípio romano que quer dizer "o dinheiro tem cheiro". Todas as fortunas malcheirosas precisam ser investigadas.

Ora, o tal de princípio romano – que aliás nem é princípio, mas um brocardo – diz exatamente o contrário: pecunia non olet. Se você conhece Paris ou Roma, deve ter visto nas calçadas aqueles mictórios públicos chamados vespasiennes. Foram um achado do imperador Vespasiano, sucessor de Nero. Para limpar as ruas de Roma, criou estes mictórios que até hoje preservam seu nome. Verdade que hoje estão servindo a outros fins que não os originais. Travestis e prostitutas os usam para atividades outras.

Vespasiano criou um imposto para financiar o investimento. Tito, seu filho, reclamou da natureza pouco nobre da taxa. Segundo Suetônio, Vespasiano pegou uma moeda de ouro e disse: non olet! Não cheira.

É espantoso ver esta sumidade das letras jurídicas proferir uma besteira deste tamanho. Pior ainda é ver um jornal que se pretende sério publicando tal bobagem.