¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, agosto 01, 2011
 
77 TIROS NO PÉ


Voltando ao assunto: quem hoje defender a Europa da invasão islâmica é automaticamente catalogado como nazista de extrema-direita – escrevia eu há pouco. Leio na Veja: “No banco dos réus, logo ao lado do atirador de Oslo, Anders Breivik, encontram-se nesta semana todos os partidos de extrema-direita da Europa”. Esta é também a tônica da imprensa européia.

Curiosamente, direita é palavra que parece ter desaparecido do vocabulário político europeu. Não há mais direita no continente. Tudo que não é esquerda virou extrema-direita. Na própria Veja temos um exemplo disto. A revista qualifica como de ultradireita todos os partidos de direita europeus, distribuídos pela Finlândia, Suécia, Holanda, Dinamarca, Alemanha, Áustria, França, Hungria e Itália. A direita mesmo morreu.

Na França, os jornais foram voando pegar o pé de Le Pen. Como se Le Pen, o líder do Front National, fosse o mentor intelectual do massacre em Oslo. Se seu partido defende a restrição à imigração na França, Le Pen – que jamais teve qualquer relação com o nazismo – é ipso facto nazista.

Curiosamente, jornal francês algum acusou François Mitterrand de nazista. Mitterrand foi colaborador nazista e recebeu o galardão máximo da República de Vichy, a Francisque, por seus bons serviços prestados ao Reich. Mitterrand virou a casaca e passou a militar nas esquerdas. Ficou acima do bem e do mal.

Jornalistas querendo bancar erudição estão buscando na cultura escandinava paralelos sem sentido algum para tentar explicar o gesto de Breivik. Não faltou quem lembrasse O Ovo da Serpente, de Bergman. Ora, este filme trata da emersão do nazismo entre as duas guerras. A loucura de Breivik nada tem a ver com a loucura do nazismo. Esta foi coletiva. A de Breivik é individual. Não vemos relação alguma do celerado de Oslo com qualquer movimento nazista. Pelo contrário: em sua loucura, ele pretende apoiar-se até mesmo em George Orwell, escritor que lutou contra todas as ditaduras e totalitarismos de sua época.

Já li inclusive artigos evocando O Grito, de Edvard Munch. Ora, que tem a ver um pintor do século XIX com um assassino do século XXI? O pasmo - ou terror - expresso em O Grito em muito antecede os totalitarismos do século passado. Não me espantaria que alguma mente brilhante de nossos jornais mencione o sol da meia-noite, afinal o massacre ocorreu em pleno verão boreal.

Assassinatos coletivos não são novidade na Escandinávia. Em novembro de 2007, Pekka-Eric Auvinen assassinou oito pessoas numa escola na também pacífica Finlândia. Antes de cometer suicídio disparou 69 vezes, aleatoriamente. O estudante tinha em seu poder um total de 389 balas, incluindo as 69 disparadas. Não matou mais porque não pode. Breivik foi mais competente no que se propunha. Auvinen tampouco teve a lembrança de deixar um manifesto com conotações políticas. Foi logo esquecido.

Há milhões de europeus irritados ao contribuirem com seus impostos para o bem-estar de árabes e africanos, que chegam ao continente muitas vezes com suas três ou quatro mulheres e quinze ou vinte filhos. E geralmente com uma mentira na bagagem, a de perseguidos políticos. Irritados também com as provocações destes imigrantes, que queimam carros em Paris, interditam ruas para virar o traseiro pra lua e rezar, que exigem que suas mulheres escondam seus rostos com véus, que agridem os nacionais quando estes penetram em seus guetos.

Onde se instalam, afastam a vizinhança. Nenhum parisiense quer morar nas proximidades da Goutte d’Or. Em Oslo, os noruegueses estão abandonando Furuset, bairro localizado no ponto final da linha de metrô a leste de Oslo, onde o número de imigrantes supera o de nacionais. Há suecos fugindo de Malmö, o maior encrave muçulmano na Suécia.

Não gostar de muçulmanos passou a ser estigmatizado como racismo. Como se religião fosse raça. Obviamente, árabes e africanos não gostam de europeus. Mas ninguém cogita de chamá-los de racistas. Terceiro Mundo, por definição, não é racista. Racista são os ricos do Primeiro Mundo. Você já ouviu alguém chamar um árabe ou africano de racista? Eu nunca ouvi.

Se Anders Breivik queria manifestar-se contra a invasão islâmica da Noruega ou da Europa, deu 77 tiros no pé. Hoje, quem quer que se manifeste contra imigrantes será visto pela imprensa como extrema-direita e mentor da tragédia na Noruega. Desde Oriana Fallaci, com La Rabbia e l’Orgoglio, Ayaan Hirsi Ali, com Infiel, Walter Laqueur, com Os últimos dias da Europa, Tillo Sarrazin, com Deutschland schafft sich ab (A Alemanha se destrói).

Inclusive eu mesmo, com meus artigos, estou me sentindo um pouco responsável pelo massacre de Oslo.