¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, setembro 07, 2011
 
MENSAGEM DO ALDO


Salve Janer!

Lendo seus comentários, e de seus leitores, sobre o ensino no Brasil é inevitável que se chegue a conclusão dantesca: "Lasciate ogne speranza, voi ch'entrate". Seria como se os romanos tentassem inculcar Virgílio, Cícero, Lucrécio, etc, em godos saídos da floresta cobertos por peles cruas e com um machado pingando sangue, com a diferença que o bárbaro de hoje usaria boné virado para trás , bermuda caída mostrando o cofrinho e ao invés do machado portaria um i-pod com fones de ouvido onde algum rap em alto volume transitaria entre a dark matter que ocupa o espaço entre as duas orelhas.

Portanto, esqueça os alunos do ensino médio ou mesmo das universidades. Agora mesmo entre pessoas já formadas, que muitas vezes cursaram escolas e universidades milionárias, e até chegaram a cursar estabelecimentos americanos ou europeus, a situação não é menos constrangedora. Tenho uma amiga, filha de pais ricos, alta executiva, que fala três línguas, mas nunca leu clássicos, nunca passou por um Goethe, um Cervantes, um Dostoievski. Para mim tal pessoa continua sem ter uma formação adequada, pois passou ao largo de todo aquele manancial que formou o que é hoje o Ocidente, continua um bárbaro!

E, finalmente encerrando, Janer. Já não podemos ter o deleite intelectual que tu tiveste com teus amigos de bar em sua pequena cidade. Não pela falta de bares, estes existem aos montes, mas pela falta de amigos que compreendam o que falas. Me sinto como um londrino do século XIX largado em meio a uma aldeia do Congo. Pois hoje a mesa de bar que me posso dar ao luxo é o teclado no qual, catando milho, vou encontrando aqui e lá um ou outro gato pingado que vale a pena gastar saliva. Graças a tipos como Bill Gates e Steve Jobs, que como porcos capitalistas que são, ajudaram a criar esse demoniozinho virtual que salvou várias almas angustiadas como a minha.

Ah, e pare de escrever crônicas como as "Azaléias de agosto" e "Canário", pois sou meio matuto e fico muito enfezado quando um homem me faz chorar!

Grande abraço.

Aldo Rogério Siqueira,
Campinas-SP