¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, outubro 05, 2011
 
CASTO BRASIL TEME PARCERIA
COM UMA BULGÁRIA CORRUPTA



Em abril passado, o governo elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre as compras no exterior com cartão de crédito de 2,38% para 6,38%. A medida teve como objetivo conter o consumo. Os gastos de brasileiros no exterior cresceram muito no ano passado em função da valorização do real frente ao dólar. A despesa bruta com cartão de crédito em 2010 foi de US$ 10,17 bilhões. Em 2009, tinha sido de US$ 5,59 bilhões, segundo os dados do Banco Central.

Quando a economia internacional oferece uma janela de conforto aos brasileiros, o governo tenta fechá-la. O Brasil está caro? Tribute-se então o brasileiro que descobriu que França, Espanha ou Itália são países mais amigáveis do que o próprio Brasil na hora de viajar, comprar, comer e beber. A medida da presidente em pouco ou nada difere das leis da época da ditadura militar, que tornaram proibitivas as viagens ao Exterior. O governo quer conter o consumo... no estrangeiro. Aqui, a indústria oferece carros a serem pagos em cinco anos.

É o reflexo automático do bracinho de dona Dilma – remember Dr. Strangelove – que quer proteger, no melhor estilo comunista, a inepta indústria tupiniquim. Em verdade, a medida não conteve consumo algum, pois viagens e compras no Exterior continuam sendo mais baratas do que aqui. A medida só serve para escorchar ainda mais o já escorchado contribuinte brasileiro.

No fundo, é mais uma fórmula para enfiar a mão no bolso do cidadão, no estilo da famigerada CPMF. Mas o mercado já reagiu. Aumentaram as ofertas dos cartões pré-pagos de viagem, tipo o Visa Travel Money, nos quais o IOF é de 0,38%. Você carrega o cartão com moeda estrangeira aqui e pode pegar a grana em caixas eletrônicos no Exterior. O VTM, lançado em 1996, era até há pouco a única opção de cartão pré-pago de viagem.

Mais recentemente, surgiu o MasterCard Cash Passport. O caçula no mercado é o American Express Global Travel, surgido em março passado, quando se conspirava para o aumento do IOF. É um recurso muito eficaz para viagens. Se forem extraviados ou roubados, precisam de uma senha para serem utilizados. Além disso, você pode cancelá-los e pedir a emissão de um outro. Sem falar que você pode resgatá-los em qualquer país, sem necessidade de procurar um banco ou casa de câmbio para trocar dinheiro. Os travelllers check perderam o sentido. Mas não era disto que queria falar.

E sim da viagem da presidente Dilma Rousseff à Bélgica. No primeiro dia de sua visita a Bruxelas, a presidente defendeu o aumento de investimentos e incentivos ao consumo como arma para enfrentar a crise durante uma reunião bilateral com o primeiro-ministro belga interino, Yves Leterme.

Quer dizer, no Brasil a presidente impõe um imposto para evitar o consumo de brasileiros no Exterior. No Exterior, defende incentivos ao consumo como arma para enfrentar a crise. É mais ou menos a atitude que o governo está tendo em relação à Copa. Aeroportos podem estar operando com desconforto para o usuário nacional. Como espera-se um grande afluxo de turistas, o governo trata de ampliá-los. Projetou-se até um trem de alta velocidade para a Copa, que uniria Campinas ao Rio, passando por São Paulo. Todo conforto ao estrangeiro. O brasileiro, que relaxe e goze, como dizia Marta Suplicy.

Mas pelo jeito não vai dar. Sou um adepto incondicional do trem. Nem precisa ser trem-bala. Se ainda existisse pelo menos trem, já me daria por satisfeito. Não sei se as novas gerações sabem, mas o Brasil já teve uma extensa malha ferroviária. Já viajei de trem de São Paulo a Dom Pedrito. O governo Juscelino Kubitschek, com sua falta de visão ao dar prioridade ao automóvel, matou as ferrovias. Hoje, se você gosta de trem, trate de ir à Europa.

Mas o melhor vem agora. Após a Bélgica, dona Dilma rumou à terra natal de seu pai. Segundo o enviado especial do Estadão à Sófia, a presidente desembarcou ontem na Bulgária com status de líder de superpotência, com direito a um batalhão de mais de 150 jornalistas credenciados para sua visita e até com o poder de suspender a campanha eleitoral no país. Mas, se o discurso é de promessas de aproximação com a terra de seu pai, a delegação brasileira admite nos bastidores que a corrupção na Bulgária é um obstáculo para a cooperação e uma saia-justa para a presidente.

O Partido Socialista búlgaro foi acusado de usar recursos da União Européia para financiar sua campanha eleitoral há alguns anos. O resultado foi a suspensão do repasse de dinheiro para o país, o mais pobre do bloco, algo inédito na UE. O novo governo, da direita populista, não ficou isento dos escândalos e o país até hoje é considerado o mais problemático no bloco.

Quanto pudor! O Brasil vendo como empecilho à cooperação a corrupção do hipotético parceiro! Como se fosse uma nação impoluta! Na verdade, deveria estabelecer um acordo de intercâmbio cultural, no qual nossos PhDs em corrupção transfeririam know how aos amadores búlgaros. Tecnologia na área é o que não nos falta. Poderíamos enviar Delúbio Soares, Zé Dirceu, Jader Barbalho, José Genoíno, Renan Calheiros, Edson Lobão, Fernando Collor, Lula, mais o decano deste colegiado, José Sarney, para cursos de pós-grad.

Corrupção não é para principiantes. Os búlgaros, recém-saídos do comunismo, pouco ou nada entendem destas artes.