¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, dezembro 02, 2011
 
ENSINANDO GALINHAS
COMO SE PÕE UM OVO



Se há algo que não entendo no mundo contemporâneo, este algo é a educação sexual. Um dos grandes prazeres do sexo, para um adolescente, é, a meu ver, enfrentar o desconhecido. Foi o que aconteceu comigo. É tão bom que chega a dar um frio no estômago. Claro que somos desajeitados de início, mas nada como o tempo para ensinar. Até entendo que se aprenda na escola a fisiologia do sexo, como funcionam os órgãos e mesmo a prevenção das doenças venéreas. Feito isto, a escola nada mais tem a ensinar. Que cada um descubra por si próprio. Já vi notícias de professoras colocando um preservativo numa banana, como se um adolescente não soubesse onde colocá-lo.

Leio na UOL que uma sueca abriu a primeira escola internacional de sexo do mundo, em Viena, na Áustria. O objetivo do curso é ensinar os estudantes a serem bons amantes. Segundo Ylva-Maria Thompson, qualquer pessoa acima de 16 anos pode se matricular em sua escola. Os estudantes que se matricularem vão viver em dormitórios mistos onde, espera-se, praticarão a lição de casa até a exaustão. “Nossa educação não é teórica, mas muito prática. Ensinamos posições sexuais, técnicas de carícias e conhecimentos anatômicos”, explicou Ylva-Maria. Coisas da Áustria. Cá entre nós, um adolescente de 16 anos talvez ensinasse coisas novas a fru Thompson.

Ora, a ser bons amantes é a prática que nos ensina. Giacomo Casanova, pelo que me consta, não freqüentou escola nenhuma de sexo. E as mulheres gostavam tanto de seu talento que traziam para sua cama filhas e irmãs. Cidadão da Sereníssima República de Veneza, lista em suas Memórias algo em torno de duas mil mulheres, que perseguiu a cavalo e em diligência, de Madri e Londres a Moscou, na segunda metade do século XVIII. Quem for procurar o verbete na Internet, vai encontrar referência a 122 ou 123 mulheres. Isso é bobagem, cifra de qualquer moleque contemporâneo.

Aos sessenta anos, Giacomo Casanova aceita o convite do conde Emanuel de Waldstein para organizar a sua biblioteca e escrever as suas memórias. Os dias do veneziano acabam no palácio de Dux, na Boêmia, ao norte do território checo, onde encontrou teto, alimento e tempo para escrever. “Agora que não posso mais viver, sento e escrevo sobre o que vivi”. Sem jamais ter pretendido fazer literatura, Casanova entra na História da Literatura, em função de sua vida aventureira. Freqüentou cortes e bordéis, prisão e caserna, clero e políticos, conventos e salões literários.

Quem quiser se debruçar sobre o século XVIII - seja historiador, seja sociólogo, seja mero curioso - terá em Casanova um excelente guia. Na edição brasileira (Rio, Livraria José Olympio Editora, 1957), suas Memórias abrangem dez volumes. “Sei que existi, porque senti; e, dando-me o sentimento este conhecimento, sei igualmente que deixarei de existir quando cessar de sentir. Se me acontecer sentir depois de morto, não duvidarei de mais nada; mas darei um desmentido a todos aqueles que me virão dizer que estou morto”.

Entender de sexo é como entender de vinhos ou literatura. Para isso não precisamos escola, basta apreciar o que é bom. Escolas de sexo são tão inúteis como os cursos de Letras. Prazer é algo que dispensa ensino. Pertence mais ao reino da curiosidade, como disse Casanova: “Cultivar o prazer dos sentidos foi sempre minha principal preocupação; nunca encontrei outra coisa mais importante. Sentindo-me nascido para o belo sexo, sempre o amei e por ele me fiz amar quanto pude. Apreciei também os bons manjares com transporte, e sempre me apaixonaram todos os objetos capazes de me excitar a curiosidade”.

Imagine o leitor que alguém pretenda lhe ensinar o que gosta o parceiro na cama. Ora, quem sabe disso é o parceiro e não um professor. Sexo, a meu ver, é algo que deve ser descoberto entre dois – ou mais, se quisermos – sem a interferência de terceiros. Do jeito em que vai o mundo, qualquer dia existirão cursos voltados às galinhas, para ensinar como se põe um ovo.

Verdade que há brutos que nada entendem da coisa por mais que a pratiquem. Uma amiga médica contou-me certa vez que uma de suas clientes, já sexagenária, pegou suas mãos e chorou: “Doutora, sou casada há mais de trinta anos e até hoje não sei o que é um orgasmo". Acontece. Há gentes que dão dez voltas ao mundo e nada entendem do mundo. Estes não têm cura.

Isso sem falar nos perigos da regulamentação. Se a moda pega aqui no Brasil, semelhantemente ao jornalismo, só poderá fazer sexo quem tiver diploma. Antes, não.