¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

quarta-feira, dezembro 07, 2011
 
UMA NOVA BOLSA,
A BOLSA-ESTUPRO



País generoso, este nosso. Aos comunistas e compagnons de route que queriam instalar no Brasil uma ditadura ao estilo soviético, Fernando Henrique Cardoso concedeu uma gorda bolsa-ditadura. Aprovada por unanimidade pelo Congresso Nacional, em 2002, a lei 10.559 teve como objetivo reparar danos impostos a cidadãos brasileiros durante o regime militar estabelecido em 1964. Até 2010, o bolsa-ditadura já havia custado R$ 2,5 bilhões aos cofres do país em pensões e compensações. O benefício foi concedido a mais de doze mil pessoas e outras milhares – estima-se em sete mil – ainda estão na fila de requerimento. As pensões mensais, permanentes e continuadas – leio nos jornais – variam entre 800 e 8.000 mensais. Já as compensações – indenizações pagas de uma só vez – podem ultrapassar a casa do milhão de reais.

É o caso do medíocre e imortal cronista Carlos Heitor Cony, que abiscoitou nada menos que R$ 1.417.072,75 de indenização retroativa e reparação mensal de R$ 19.115,19. Ziraldo e Jaguar levaram pensões mensais de R$ 4.365,88 e ainda exatos R$ 1.000.253,24 de indenização para cada um. Lula, preso por 31 dias em 79, mereceu cerca de R$ 5 mil por mês.

Fernando Gabeira, vestal impoluta, ao ter notícias das bolsas-ditadura recebidas por Ziraldo e Jaguar – isso sem falar nas milhares de outras – deitou verbo contra os dois vigaristas do Pasquim. Tendo participado de movimentos armados e do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, afirmou em 2010 nunca ter pedido pediu a indenização a que teria direito: “Não solicitei porque minha atividade naquele período foi consciente. O risco estava bastante nítido para mim. Além disso, embora tenha deixado meu trabalho de jornalista, o exílio me enriqueceu muito, de forma que, ao retornar, tinha possibilidades mais diversas”.

Pediu, sim senhor. Por ocasião desta declaração, a Folha de São Paulo noticiava que no dia seguinte seria julgado, pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça um pedido seu para que a União considerasse o tempo em que foi exilado, na época da ditadura militar, para efeitos de aposentadoria. Entusiasmado com o dinheiro fácil das bolsas-terrorismo, Gabeira deixou cair a máscara de neoimpoluto e mostrou ao que vinha. Afirmou então não ter condições de demonstrar no que trabalhou. “Eu pedi para contarem, para efeito de aposentadoria, os anos que passei no exílio. Foram nove anos. Não tenho condições de demonstrar claramente que eu trabalhei. Os dois jornais em que trabalhei, o Binômio e o Panfleto, foram empastelados. O Diário da Noite e o Última Hora fecharam. Para pedir aposentadoria, preciso disso”.

Não bastasse a bolsa-ditadura, (trecho suprimido para evitar eventuais reproduções de um equívoco) está em tramitação no Congresso um projeto de lei que cria a bolsa-estupro, para evitar que as mulheres abortem. Obra do bestunto do deputado Henrique Afonso (PT-AC), nova lei pretende "dar estímulo financeiro para a mulher ter o filho". Como o aborto é permitido no país em gestações resultantes de estupro, o projeto do deputado concede à mulher estuprada um pagamento pelo Estado de um salário mínimo durante 18 anos.

O deputado é evangélico, seja lá o que isto quer dizer: "O aborto, para nós evangélicos, é um ato contra a vida em todos os casos, não importa se a mulher corre risco ou se foi estuprada", afirma o deputado Henrique Afonso. "Essa questão do Estado laico é muito debatida, tem gente que me diz que eu não devo legislar como cristão, mas é nisso que eu acredito e faço o que Deus manda, não consigo imaginar separar as duas coisas."

Fundamentalismo, que pensávamos ser coisa de países árabes e asiáticos, agora vige entre nós. Em nome de sua fé, o deputado quer levar as vítimas de estupro a assumir um filho que foi fruto da violência. Quer impor sua fé a um Estado leigo. No que em nada difere dos católicos, que querem impor seus dogmas urbi et orbi. Segundo o deputado, "o Estado deve garantir o que pensa a maioria e acredito que a maioria dos brasileiros acredita no que Deus prega, que é o direito à vida. Não posso separar o deputado do cristão."

Pois devia separar. Não vivemos em uma teocracia, onde quem faz a lei são os padres. Na justificativa do projeto, o deputado diz que "se, no futuro, a mulher se casa e tem outros filhos, o filho do estupro costuma ser o preferido. Tem uma explicação simples na psicologia feminina: as mães se apegam de modo especial aos filhos que lhes deram maior trabalho".

Só se for no bestunto do deputado. Desde quando uma mãe terá mais carinho por um filho que foi fruto da violência do que por outros que foram desejados? O que o teocrata está propondo é que mães, por necessidade de dinheiro, assumam filhos que abominam. Ou que mulheres aleguem estupro para ganhar alguns trocados. Tem mais: o estuprador – que no caso será reconhecido como pai – poderá inclusive pedir pensão à vítima.

A Santa Madre Igreja Católica nunca escondeu seus desejos de impor seus dogmas à legislação brasileira. Agora, são os evangélicos que mostram as garras. Neste Congresso de analfabetos, que aprovam projetos manifestamente anticonstitucionais, não me espantaria que fosse aprovado mais este projeto estúpido.