¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, março 14, 2012
 
SERENI APONTA NÃO PARA
DANTE, MAS PARA A BÍBLIA



Na crônica de ontem, contei ter antecipado, há seis anos, a condenação da obra de Dante pelos radicais multiculturalistas. E comentei os propósitos de Valentina Sereni, presidente da Gherush92, que quer retirar a Divina Comédia das escolas na Itália, por ter alusões ofensivas a Maomé e aos judeus. Mas faltou um pedacinho. A moça condena também o fato de Dante ter jogado os homossexuais aos infernos.

“Mesmo os homossexuais, os sodomitas na linguagem de Dante, seriam colocados no índice do poema de Alighieri – diz a moça -. Aqueles que tiveram relações sexuais "contra a natureza" são de fato punidos no Inferno: os sodomitas, os pecadores mais numerosos do círculo, são descritos quando correm sob uma chuva de fogo, condenados a não parar. No Purgatório, no canto XXVI, os sodomitas reaparecem juntamente com os heterossexuais lascivos”.

"Nós não defendemos a censura, nem a fogueira - diz Sereni - mas nós gostaríamos que se reconhecesse, de forma clara e sem ambigüidade, que na Comédia existem conteúdos racistas, islamófobos e anti-semita. A arte não pode estar acima de qualquer crítica. A arte é feita de forma e conteúdo, e mesmo que haja na Comédia diferentes níveis de interpretação, simbólica, metafórica, iconográfico, estética, não se pode retirar o significado textual da obra, cujo conteúdo é claramente depreciativo e contribui, hoje como ontem, para divulgar falsas acusações que, durante séculos, milhões e milhões de mortos. Perseguições, discriminações, expulsões, fogueiras, foram sofridas por parte dos cristãos, judeus, homossexuais, pessoas morreram, infiéis, hereges e pagãos, a quem Dante coloca nos mesmos círculos do inferno e purgatório. Isto é racismo que uma leitura simbólica, metafórica e estética da obra, obviamente, não remove”.

De novo a moça está apontando para a Bíblia. O livro é claro. No Levítico, lemos: “Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação.” E logo mais adiante: “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles”.

Ao que tudo indica, Sereni não ousou atacar um livro milenar, que hoje é base de inúmeras religiões, preferindo ater-se ao poeta florentino. Há horas venho afirmando que a militância homossexual, que pretende proibir qualquer crítica ao homossexualismo, mais dia menos dia iria tropeçar com a Bíblia.

Aconteceu no Brasil, em maio passado. A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) convocou simpatizantes a um evento em Brasília, em que seriam queimados exemplares da Bíblia. Uma mensagem no site do grupo afirmava: "em frente a Catedral, nós ativistas LGBTT iremos queimar um exemplar da Bíblia Sagrada. Um livro homofóbico como este não deve existir em um mundo onde a diversidade é respeitada."

Se você sair por aí pregando a pena de morte para homossexuais, evidentemente será condenado como homófobo. Mas é o que diz o Livro. Será a Bíblia então proibida? A senadora Marta Suplicy, ciente desta implicação absurda, abriu uma exceção no projeto de lei. Nos templos, seria permitida a condenação do homossexualismo. Com isto deixa claro que, fora dos templos, qualquer crítica ao homossexualismo está sujeita às penas da futura lei. Se um padre ou pastor ler o Levítico em um templo, tudo bem. Se ler em praça pública, cadeia nele.

Considero a Bíblia um livro importante, tanto como registro de épocas históricas, mas também como repositório de mitos e lendas, poesia e filosofia. Mas jamais a consideraria um código normativo. Se ela condena à morte os homossexuais – e também as adúlteras –, isto foi nos tempos de Abraão e Moisés. Não se pode transpor para nossos dias códigos de mais de três mil anos.

A Bíblia também prega a lei de talião: olho por olho, dente por dente. Talvez pudesse ser hoje traduzido por lente por lente, ponte por ponte. Mesmo assim, tal lei fere qualquer código de Direito contemporâneo. Os católicos já não insistem muito nas antigas interdições sexuais, tanto que até os últimos papas foram complacentes com o homossexualismo e pedofilia de seus padres. Quem ainda insiste nisto são os evangélicos.

Se Sereni quer banir das escolas obras que um dia condenaram esta ou aquela etnia, este ou aquele comportamento, terá um trabalho enciclopédico pela frente. Para enquadrar nos parâmetros politicamente corretos das esquerdas contemporâneas as literaturas de diferentes épocas, seria necessário queimar não poucas bibliotecas.

Antes de qualquer outro livro, a Bíblia. A propósito, republico artigo que escrevi há sete anos.