¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, abril 06, 2012
 
MAIS UM PRÊMIO NOBEL
DESMORALIZA O NOBEL



Há mais de década venho afirmando que os prêmios Nobel da Paz e Literatura estão reunindo os mais ilustres canalhas do século. Nas útimas décadas, a coleta de canalhas vem se acelerando. Oslo e Estocolmo estão organizando um seleto clubinho de celerados. Ainda há pouco eu comentava o caso da bióloga e ativista queniana Wangari Maathai. Após a entrega do Nobel da Paz, a bióloga reiterou sua opinião, muito divulgada na África subsaariana, de que o vírus da Aids foi criado por cientistas para a guerra biológica, para dizimar os negros africanos, como se alguma nação no mundo ganhasse algo com dizimar negros na África. Afirmou também que o uso do preservativo não é eficaz contra a transmissão do vírus.

Comentei também o caso da presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, que recebeu o prêmio da Paz em 2011, junto com mais uma conterrânea e outra iemenita. Em março passado, Sirleaf defendeu a legislação que pune a homossexualidade com cadeia em seu país. "Temos certos valores tradicionais em nossa sociedade que gostaríamos de preservar", afirmou Ellen, em depoimento divulgado pelo site do jornal britânico The Guardian.

Ao ser questionada sobre se assinaria alguma proposta que descriminalize o homossexualismo, a resposta da presidente foi negativa. "Já tomei uma posição sobre isso. Não assinarei essa lei ou nenhuma lei que tenha a ver com essa área, de maneira nenhuma. Gostamos de nós mesmos exatamente da maneira que somos."

Isso sem falar em vigaristas outros como Arafat, Neruda, Dalai Lama, Luther King, Rigoberta Menchú, madre Tereza de Calcutá. A ignomínia contaminou agora Günter Grass, Nobel de Literatura em 1999. Não que Grass já não tivesse mostrado ao que vinha. Dois anos após receber o prêmio, dizia sobre o 11 de setembro: "os americanos fazem muita história por causa de três mil brancos mortos pelos soldados da Al-Qaeda". Sete anos depois, confessou sua participação na Waffen-SS, força de elite com critérios de seleção baseados em cega fidelidade a Hitler e ao regime nazista.

Se em 1938 esta força tinha tinha apenas 7000 integrantes, em 1945 contava com 900 mil homens, muitos deles então recrutados entre cidadãos fiéis ao regime nazista em outros países europeus. As divisões da Waffen-SS participaram de campanhas na Áustria, Tchecoslováquia, Polônia e em países nórdicos, balcânicos e bálticos. Mas afinal se até Sua Santidade Bento XVI foi militante da Juventude Hitlerista, não podemos negar a um escritor não-católico o direito de participar das forças de elite nazistas.

Mas o prêmio já fora conferido. Nesta semana, Grass recidivou em seu anti-semitismo. Quarta-feira passada, publicou no Süddeutsche Zeitung um “poema” em que faz a defesa do Irã acusa Israel e suas armas atômicas de ameaçar a paz mundial. Ponho poema entre aspas, porque seu texto não passa de um panfleto vagabundo, belicoso e delirante. É de espantar a facilidade com que a imprensa, tanto nacional como internacional, assumiu sem questionar a palavra poema. Vai ver que foi por ter sido escrito em frases curtas, colocadas uma abaixo da outra. Há quem pense que um texto assim disposto é um poema.

Ahmadnejad proclama aos quatro ventos que Israel deve ser varrido do mapa e o “poeta”, impertérrito, escreve:

É o suposto direito a um ataque preventivo,
que poderá exterminar o povo iraniano,
conduzido ao júbilo
e organizado por um fanfarrão,
porque na sua jurisdição se suspeita
da fabricação de uma bomba atômica.


Ora, as pretensões iranianas ao armamento nuclear desde há muito são conhecidas. Ano passado, o Irã se dizia disposto a abrir suas instalações nucleares à inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica. Em fevereiro último, a AIEA parece ter-se aproximado demais da caverna do tesouro. No mesmo dia em que o governo recusou a inspeção da usina nuclear em Parchin pela agência, o general Mohammed Hejazi ameaçou um ataque preventivo contra os inimigos do Irã, ou seja, Israel. Os explosivos nucleares e gatilhos são produzidos em Parchin, daí a recusa do Irã. No fundo, Günter Grass traduziu em “linguagem poética” a bravata do general. Prossegue o “poeta”:

Por que me calei até agora?
Porque acreditava que a minha origem,
marcada por um estigma indelével,
me impedia de atribuir esse fato, como evidente,
ao país de Israel, ao qual estou unido
e quero continuar a estar.


Está unido ao povo de Israel e defende o vizinho que proclama publicamente sua pretensão de varrer o país do mapa. E ainda se dá ao luxo de denunciar a “hipocrisia do Ocidente”. Com amigos assim, dispensa-se inimigos. Grass pretende que os governos de ambos os países permitam o controle permanente e sem entraves, por parte de uma instância internacional, do potencial nuclear israelita e das instalações nucleares iranianas.

Ora, sobre o potencial nuclear israelita não paira dúvida alguma. Desde há décadas se sabe que o país domina a arma nuclear. O que se pretende investigar é se o país que quer varrer Israel do mapa está chegando à bomba.

Ontem ainda, Grass deu entrevista a uma rede de televisão pública, na qual até parece acreditar que escreveu um poema: "O tom geral dos debates não é entrar no conteúdo do poema, mas realizar uma campanha contra mim para que minha reputação fique deteriorada até o fim dos tempos". O homem cava sua própria cova e acusa a imprensa de fazer campanha contra ele.

De nazista a comunista e de comunista a defensor do Islã, Grass não surpreende. Muda de ideologia mas não de propósitos. Sob peles cambiantes, o eterno desejo de totalitarismo. Não há comunista hoje – falo dos fósseis ambulantes que ainda perambulam por aí – que não defenda o Islã. Até mulheres, que têm tudo para abominar um sistema que as oprime, quando comunistas tomam sua defesa.

E assim marcham os Nobéis da Paz e Literatura, desmoralizando aceleradamente o prêmio.