¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

domingo, agosto 05, 2012
 
Kashrut, a cozinha que divide:
O JUDAÍSMO E O CRUCIAL
PROBLEMA DAS PANELAS *



Comer, para mim, sempre foi um momento de comunhão. É quando confraternizamos com amigos ou mesmo pessoas que não são exatamente amigas. Os estadistas começam suas conversações com seus pares com um lauto jantar, para amaciá-los durante as conversações. Depois da bona-chira, tudo é negociável. A boa cozinha, teoricamente, une.

Mas nem sempre. Há uma certa culinária que divide. Falo da kashrut, a culinária judaica. Y a las pruebas me remito. Estou lendo o livro mais insano que já li em minhas seis décadas de caminhada, Casher na prática, do rabino Ezra Dayan. Já comentei, em crônicas passadas, a interdição judaica a misturar carnes com lacticínios. Baseados numa prescrição do Deuteronômio, que se repete no Êxodo, os judeus não misturam o leite com a carne. “Não cozerás um cabrito no leite de sua mãe”.

A interdição diz respeito ao cabrito, mas o judaísmo rabínico a estendeu a tudo que se refere a carne e leite. Se ficassem os rabinos por aí... Mas não ficaram. A interdição atinge os utensílios em que se colocam lacticínios e carne.

- É proibido cozinhar leite numa panela onde já cozinhamos carne ou carne numa panela onde cozinhamos leite, independentemente de quanto tempo se passou de seu último uso. Portanto, deve se tomar o cuidado de ter em casa panelas específicas para carne e, outras, para leite, e é recomendável que sejam diferentes ou que estejam devidamente assinaladas.

- Se, por acaso, alguém cozinhar leite numa panela de carne, que foi usada para cozinhar carne nas últimas vinte e quatro horas, tudo ficará proibido, inclusive as panelas, a não ser que o volume de leite seja sessenta vezes maior que o da carne cozida nela anteriormente. Se não se sabe quanta carne havia, deve-se calcular sessenta vezes o volume do material da panela. Nesse caso, a panela é proibida para o cozimento de qualquer tipo de alimento, pois absorveu carne e leite que ficaram proibidos. Esta continuará proibida até que passe pela hag’alá (submersão em água fervente, capaz de fazer a panela expelir alimentos absorvidos). Contudo poderá ser vendida a um não-judeu.

- Se a panela de carne não foi usada para cozinhar carne nas últimas vinte e quatro horas, mesmo se foi usada para esquentar alimentos de carne neutros (parve), ou para alimentar alimentos de carne frios, o leite que for cozido nesta panela não ficará proibido, pois o sabor da carne que foi absorvido pela panela já se deteriorou e não tem mais a capacidade de proibir o leite que é cozido agora. Contudo, a panela ficou proibida pois agora tem carne e leite absorvidos nela. Esta proibição continua mesmo após vinte e quatro horas do incidente, e só terá fim quando for realizada hag’alá na panela.

- No caso de utensílios de cerâmica, a hag’alá não é eficaz e, portanto, não há como “casherizá-los”. Em caso de grande prejuízo, um rabino deve ser consultado, pois às vezes existe a possibilidade de permiti-los. De qualquer modo, será permitido vendê-los a um não-judeu.

- Se alguém começou a cozinhar leite numa panela de carne que não foi usada nas últimas vinte e quatro horas e, no meio do cozimento, teve conhecimento disso, deverá imediatamente despejar o leite numa panela de leite, pois o uso da panela de carne foi proibido para o leite. Neste caso, o leite permanece permitido, como foi explicado anteriormente.

- Uma panela de carne que foi coberta com uma tampa de uma panela de leite, ou ao contrário, se ambas estavam quentes, tudo fica proibido, a não ser que haja, no conteúdo da panela, sessenta vezes o volume da tampa. Isto, se a tampa foi usada, em cozimento de leite ou carne, nas últimas vinte e quatro horas.

- Se não foi usada nas últimas vinte e quatro horas, a panela e a comida continuam permitidas, e a tampa se torna proibida, pois absorveu carne e leite. Contudo, há costumes entre os ashkenazim de proibir a comida e a panela também, principalmente quando a tampa tiver cavidades estreitas difíceis de serem limpas. Porém, se a comida tiver um volume sessenta vezes maior do que o lugar estreito que armazena resíduos ou, segundo outra opinião, do que o volume da tampa, continuará permitida.

- Se a panela estava fria e a tampa quente, e houve possibilidade de que alguns pingos caíram da tampa sobre a comida, esta deve ser descascada, quando possível. A panela e a tampa só ficam proibidas se havia umidade no lugar de contato entre elas.

- Se a panela estava quente e a tampa fria, se o vapor (que já se aqueceu acima de 45ºC) da comida começou a subir, tudo fica proibido, a não ser que a comida tenha um volume sessenta vezes maior do que o volume da tampa, e então, só a tampa ficará proibida.

- Se a tampa e a panela estavam frias ao se encostarem, deverão ser lavadas, e a comida continuará permitida.

- Se a tampa e a panela estavam limpas e secas ao se encostarem, e não continham nenhum alimento, continuam permitidas, mesmo se estavam quentes.

Isto é o de menos. Falava de uma culinária que divide. Continuarei outro dia.

* 10/04/2010