¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, outubro 02, 2012
 
BOM DIA, MAOMÉ!


Ainda há pouco, eu comentava uma quase despercebida notícia, veiculada no Globo, sobre a Câmara de Vereadores de Foz, que quer, por pressão de líderes religiosos árabes, que as mulheres muçulmanas não sejam obrigadas a tirar o véu ao fazer fotos para documentos. O problema é bem mais vasto. A Folha de São Paulo de hoje revela, em primeira mão, as dimensões do problema. Maomé desembarcou no Brasil. Bom dia, Maomé!

Véu da discórdia

Detrans de todo o país vêm obrigando mulheres muçulmanas a tirarem o véu para a foto da carteira nacional de habilitação, em contrariedade à Constituição Federal. Os órgãos entendem que o adereço viola uma resolução nacional do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que proíbe o uso de qualquer acessório que cubra parte da cabeça do condutor na foto.


Para o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), porém, a retirada do véu não é obrigatória, em respeito à liberdade religiosa prevista pela Constituição. O departamento orienta apenas que nenhuma parte do rosto da motorista fique coberta. Liberdade religiosa, tudo bem. Mas documento de identidade serve para identificar. Como identificar uma mulher com véu? O problema jamais deve ter preocupado muçulmanos, para quem a mulher não tem identidade própria mesmo. São Paulo já capitulou:

“A Folha consultou os Detrans de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro, onde ficam as maiores colônias islâmicas do país -há 1,5 milhão de muçulmanos no Brasil. Apenas o de São Paulo permite o uso do véu religioso na foto. No ano passado, porém, uma muçulmana foi impedida de realizar uma prova do Detran em São Bernardo do Campo, já que se negou a retirar o véu. Na ocasião, ela chamou a Polícia Militar e registrou queixa na delegacia”.

Foi o mesmo problema enfrentado pelas escolas francesas. Como identificar alguém que faz uma prova se o examinador não pode ver o rosto de quem presta a prova?

Segundo Iman Alloul, libanesa naturalizada brasileira, "pedir que eu tire o lenço é a mesma coisa que pedir para me despir". Se queixa de que foi obrigada a retirar o véu para a foto do passaporte e, por conta disso, teve problemas ao entrar na Arábia Saudita. Segundo Iman, um sheik que a acompanhava cobriu a foto do passaporte dela com um papel e convenceu o atendente a não olhar a foto. Para que foto no passaporte, então?

Iman mente. No fundo, está dizendo que vive entre mulheres nuas. Como pode sua pudicícia suportar viver cercada de brasileiras nua?

Os crentes que me desculpem, mas não acredito nesse zelo religioso todo. A imigração árabe no Brasil teve início em fins do século XIX. Esse fluxo aumentou no século passado e hoje 15 milhões de brasileiros possuem ascendência árabe. Nem todos serão muçulmanos. A maioria dos imigrantes é de origem libanesa, que são em geral católicos. Fora isso, há uma presença marcante de sírios, egípcios,marroquinos, jordanianos e iraquianos. Ora, estes senhores viveram décadas sem preocupar-se com o uso do véu por suas mulheres e agora, de repente, não mais que de repente, passam a alegar razões religiosas para retirar documentos com fotos veladas.

Estas reações exacerbadas de muçulmanos, que começam a manifestar-se no Brasil, a meu ver não passam de provocações ao Ocidente. Quem transformou Salman Rushdie em best-seller no Ocidente? O aiatolá Khomeini, que do alto de seus minaretes, emitiu um fatwa, condenando à morte um escritor com cidadania britânica por ter publicado um livro... na Europa.

Quem ouvira falar de Jutlândia (Jylland, em dinamarquês) no Brasil, antes de 2005? Talvez nem mesmo quem adorou A Festa de Babette tenha percebido que o filme se passava em um rincão perdido daquela península. Pois bastou que o Jyllands-Posten - jornal do qual nunca se ouviu falar, sediado em Aarus, cidadezinha de 300 mil habitantes – publicasse algumas charges de Maomé, para que se tornasse conhecido no mundo, dos Estados Unidos à Rússia, do Brasil ao Afeganistão.

Quem tornou o jornal internacionalmente conhecido? Os mulás e aiatolás que o divulgaram urbi et orbi. Com o pretexto de que imagens do profeta não podem ser reproduzidas. Como se reproduções do profeta não estejam difundidas no mundo todo. Por exemplo, no Diccionario Literario Bompiani, publicado em 1959 na Espanha. Sua origem é italiana e sua edição princeps é portanto anterior à espanhola. Está traduzido e distribuído em toda a Europa e nele estão as reproduções do profeta que ilustram este artigo. A obra foi assumida pela Unesco como “obra de importância e interesse mundial”. A propósito, foi reeditado na Espanha em 2006 e pode ser comprado pela Internet no site da Espasa Calpe. Por uma bagatela: 590 euros os dez volumes de obras literárias e 165 euros os três volumes de autores.

Será que, nessas décadas todas, nenhum muçulmano o viu nas milhares de bibliotecas da Europa? Porque encarniçar-se em um jornal da Jutlândia em 2005, quando a enciclopédia estava vastamente difundida em todo continente, desde há cinqüenta anos? Outra pergunta: ousarão os mulás e aiatolás exigir a queima de todas as Bompianis existentes em todas as bibiotecas e livrarias da Europa?

Se alguém achar que estas ilustrações foram produzidas por infiéis ocidentais, eis a fonte: a primeira é uma miniatura persa do século XVI, que representa Maomé montando um camelo ante sua mulher Kadidja. Na segunda, Maomé coloca a pedra negra na Caaba. Na terceira, Maomé com o arcanjo Gabriel. Estas miniaturas estão na Biblioteca da Universidade de Edimburgo. Datam da plena Hégira, obviamente. Que tal queimar a biblioteca da Universidade de Edimburgo?