¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, outubro 18, 2012
 
KALI YUGA, HARE BABA!


Caro Janer,

Lendo vosso último artigo, noto que temos que aturar uma certa superposição, não de estados quânticos, mas de besteiras aparentemente desconexas, que somente com distorções grosseiras dos originais, é que são postas em um bloco aparentemente consistente. Lembro quando haviam escritores nas décadas de 60 e 70 escrevendo sobre "espiritualidade", o mais notório assinava sob pseudônimo de "Lobsang Rampa", e dizia ser lama tibetano, enquanto não passava de um inglês que nunca esteve no Tibete. Notórios também são picaretas como Osho e assemelhados, são tantos que nem vou citar porque a lista é grande.

Seguindo a triste história, houve nos últimos anos uma explosão de picaretas pós-hippies seguindo a linhagem citada e, a cada ano acrescentando mais ingredientes na poção mágica. Conhecendo bem a ignorância geral sobre física, não me admira que tenham chegado ao mundo quântico. Também, não por acaso, os fenômenos quânticos somente podem ser verificados com equipamento adequado, e é especialmente digno de nota que nenhum deles se manifesta em escala macrocósmica.

Mais ainda, não se aplicam os princípios da mecânica quântica ao macrocosmo, não sendo essa teoria adequada para tratar fenômenos ligados a astrofísica por exemplo. Não é mistério ou surpresa que a onda de "espiritualidade" abordando o tema da física quântica irrite sobremaneira os cientistas e pesquisadores sérios da área. A mais importante obra de onde os picaretas pegaram carona foi O Tao da Física de Fritjof Capra, obra que não abordava "espiritualidade", mas a relação do pensamento oriental com as descobertas da mecânica quântica. A abordagem "religiosa" foi incluída em obras recentes, pelos espertalhões oportunistas que viram ali um embasamento para seus projetos de notoriedade social e prosperidade financeira.

Em tempo, sobre a onda de besteiras que inicia com os híppies da década de 60, as influências vêm de autores como H.P. Blavatski, e outros do século 19 e início do século 20, que justamente tentaram levar a cabo uma síntese das filosofias, das metafísicas, e das religiões do oriente e do ocidente. Ainda falando desses autores mais antigos, todos eles ressaltavam a entrada da humanidade em um ciclo obscuro, de decadência moral e intelectual, denominado "Kali Yuga", termo proveniente do texto Vishnu Purana, este último uma escritura milenar hindu. Pois é, ao menos temos que concordar com alguma coisa disso tudo, lembra naquela novela "caminho das Índias"?

Na dita novela, uma senhora idosa reclamava a toda hora dizendo:
"- A Índia não é mais a mesma! Estamos no tempo de Kali Yuga!"
Nessa parte eu até começo a acreditar...

Lendo melhor as obras de religiosos históricos desde os cristãos como Meister Eckhart, até os pagãos como Lao Tse, Nagarjuna, e outros; por mais que seja algo inverossímil, ainda tinham uma elegância de raciocínio uma metafísica e um texto elaborado, rico e poético. Lendo os autores "quânticos" de hoje e os neo-hippies, sou obrigado a concordar com a velha da novela:

- Estamos mesmo em Kali Yuga, hare baba!

Abraços, Gilvan