¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, dezembro 10, 2012
 
INSTITUTO MILLENIUM,
UMA FARSA LIBERAL (II)



Rhyan Fortuna - Janer, creio que o Rodrigo está defendendo que não existe censura privada. Censura seria apenas algo estritamente estatal. O Imil é o mais social-democrata dos institutos liberais brasileiros. Se esquerda fica horrorizada com ele, imagina se ver os outros...

Janer Cristaldo - A pior censura é a privada, Rhyan. Não foi o Estado quem mais e com mais eficácia censurou durante a ditadura. Quanto os militares proibiam um escritor ou cantor, este estava com a fortuna feita. Mas quando as esquerdas, privadamente, censuravam alguém, este alguém estava morto civilmente.

Aluizio Couto - Rafael Guedes, com isso todos concordam. No entanto, uma crítica que se pode fazer é que quando se proibe certas opiniões dentro do instituto, ele perde muito do caráter cognitivo. E um dos elementos que fazem o debate intelectual ser saudável é a pluralidade de ideias.

Cristiano Rosa de Carvalho - Sim, censura é algo imposto pela força, de forma coercitiva - para tanto, pressupõe o monopólio da violência exercido pelo Estado. Censura em associações livre é uma contradição em termos - o que existe é a liberdade de não veicular aquilo com o que não se concorda, da mesma forma, liberdade de não se associar com o que não se comunga. Se assim não for, presumo que a Folha de São Paulo, o Estadão ou a Veja seriam obrigados a publicar os meus artigos, pois do contrário estariam me censurando?

Aluizio Couto - Cristiano Rosa, a censura pode ser feita por meios privados. O que a censura implica é inviabilizar a publicação de uma ideia qualquer. Penso que não há nada na ideia de censura que pressuponha a ação do estado. Claro que é mais comum que o estado seja o censor. Mas o seu argumento tem como consequência bizarra o fato de não haver censura em um ambiente sem estado. Penso que essa conseqüência é suficiente para rejeitar seu argumento, pois me parece claro que pode haver censura em um ambiente desse tipo.

Janer Cristaldo - Não, Cristiano, Folha de São Paulo, o Estadão ou a Veja não são obrigados a publicar os seus artigos. Eles têm um corpo redacional para escrever. Mesmo assim, costumam acolher opiniões divergentes. Não vou negar, de modo algum, que não exista censura nesses jornais. É por isso que não me adaptei nem à Folha nem ao Estadão e estou muito feliz em meu blog, onde ninguém me pauta nem me censura. A liberdade de expressão se refugiou na Internet e o Millenium parece não ter entendido isto.

Aluizio Couto - Acho que para a discussão ficar em termos mais claros, temos de distinguir dois usos do termo ''censura''. O primeiro é a censura que impede a publicação de uma ideia qualquer em quaisquer meios. Isso é ilegítimo e objetável. O segundo é o que fazem revistas e jornais particulares. Penso que é objetável, mas fazer isso é um direito desses veículos.

Cristiano Rosa de Carvalho - Não se for feita por opção e pelo exercício da liberdade - desde quando qualquer associação privada é obrigada a divulgar as ideias com as quais não concorda? Se alguém me impedir de, por exemplo, imprimir um jornal ou fazer um website para divulgar as minhas ideias, aí sim estaremos falando de cerceamento de liberdade. Repito, o Imil tem todo o direito de não divulgar ideias que não estejam alinhadas aquilo que entende ser apropriado divulgar. Não é por ser um think thank liberal que é obrigado a debater todos os temas considerado imprescindíveis por outros. Quem não gostar, que faça o seu think thank, o seu website, ou o que quer que seja.

Rodrigo Constantino - Nossa, Janer Cristaldo, o Imil não tem absolutamente NADA a ver com o MídiaSemMáscara ou com o "filósofo" embusteiro...

Janer Cristaldo - Espero que nada tenha a ver, Constantino. Mas a resposta que a moça me enviou tem um viés inquisitorial. Ainda há pouco, o MSM alertava que estavam proibidas as discussões inter-religiosas. O Millenium me avisa que é proibido discutir aborto, células-tronco, homossexualismo, etc. Não estou vendo muita diferença. Fui convidado para colaborar com o Millenium. Muito honrado. Deixem-me então escrever sobre os temas cruciais da época. A CartaCapital é abjeta, mas pelo menos não censura o tipo de discussão. Censura opinião, é claro. Mas não o tema.

Aluizio Couto - Cristiano, só para clarificar a objeção ao Imil: um Think Thank deve ser um instituto cujo objetivo é busca pela verdade. Ou seja, penso que deve haver, antes de tudo, um caráter cognitivo nesses institutos. Quando opiniões são descartadas somente pela conclusão ou direção argumentativa, há qualquer coisa de errado.

Janer Cristaldo - Nenhuma associação privada é obrigada a divulgar as ideias com as quais não concorda. Não foi isso que me respondeu o Millenium. A resposta foi muito mais grave: proíbe, antecipadamente, qualquer tipo de debate sobre determinados temas, não importa quais sejam as idéias sobre o assunto. Cá entre nós, quando um Instituto promove fóruns sobre democracia e liberdade de expressão e proíbe temas inerentes à democracia e liberdade de expressão, meus companheiros de debate que me desculpem: isto é hipocrisia e certamente esconde propósitos nada confessáveis.

Cristiano Rosa de Carvalho - Penso que meu argumento não foi compreendido, certamente por falha minha ao expô-lo, já que todos aqui são inteligentes. É evidente que censura, sempre, implica uso da força. E, em sociedades com Estado, este uso é monopólio do próprio (ou deveria ser). Portanto, se o uso da força não for monopolizado, poderá haver censura descentralizada (como não há civilização sem algum tipo de autoridade central, esta censura privada, ao menos institucionalizada, é algo não comprovável empiricamente). Mas, em civilizações com autoridade central, ou a censura será inconstitucional (por se tratar de um Estado Democrático de Direito), ou, se for exercida por sujeitos privados, será ilícita, ilegal, portanto, punível juridicamente - em qualquer dos casos, censura será exercida pela força supressora de expressão de ideias, não pela recusa da autonomia privada em divulgar ideias, algo moral e juridicamente permitido. Em suma: se o Imil algum dia utilizar de meios para impedir que outros façam os seus próprios think thanks, websites ou jornais, aí sim estaremos falando de censura. Recusar, a priori ou não, tratar de determinados temas é opção - insisto, livre - de qualquer associação, seja por estratégia, seja por preferência temática. Mesmo assim, como disse, nunca sofri qualquer censura por parte do Instituto, muito pelo contrário. Mesmo em entrevistas que dei como seu especialista, jamais me foi imposta qualquer orientação, pauta ou o que quer que seja, mas sim me foi dada plena e irrestrita liberdade para dizer o que eu bem quisesse.

Janer Cristaldo - Não senhor, meu caro Cristiano. As esquerdas censuraram o tempo todo no Brasil, sem usar força alguma. Quem usava força eram os militares, o que só servia para proibir os "mártires" censurados. As esquerdas censuravam, tanto nos jornais como na universidade, omitindo fatos, proibindo a divulgação de certos dados, proibindo a referência a livros e autores que não fossem de esquerda, sussurrando em um encontro internacional "o fulano é de extrema-direita". Aí estava decretada a morte civil do escritor. Censura-se muito mais sem o uso da força que com o uso da força. Pode-se censurar com uma bibliografia, com uma seleção de ementas na universidade, com a diagramação de um jornal. Você diz: "Recusar, a priori ou não, tratar de determinados temas é opção - insisto, livre - de qualquer associação, seja por estratégia, seja por preferência temática". Não é bem assim. Um instituto que se pretende defensor da democracia e da liberdade de expressão não pode proibir temas inerentes à democracia e à liberdade de expressão.

Você não foi censurado? Eu fui, e antes mesmo de escrever qualquer coisa.

Leandro Mensch Ateu - Caralho, não tem o que discutir, agora qualquer um vai poder escrever qualquer coisa e o Imil tem que publicar? É o caralho! Se eu fizer um artigo escrito : "merda merda merda merda merda merda merda merda merda etc..", e ele não publicar ele me censurou?? Cada instituição tem seus objetivos caramba! Se eu quiser publicar no jornalzinho dominical um artigo defendendo a homossexualidade a igreja pode me banir! Se eu quiser escreve O MEU jornal defendendo a homossexualidade e a igreja tentar me banir, ISSO CENSURA, ainda mais se tiver ajuda do governo. É completamente diferente e essa discussão é a mais ridícula que já vi, emocional e não racional. Melhor é amadurecer um pouquinho. Pra reclamar de censura, espera o Imil tentar fechar seu blog! Poha

Janer Cristaldo - Você pode, Leandro, escrever o que quiser e proibir o que quiser em seu jornalzinho. É mais ou menos o que fazem os proprietários dos grandes jornais. O que não pode é um instituto dedicado à defesa da democracia e da livre expressão proibir debates que estão na primeira página de todos os jornais.