¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, março 17, 2013
 
AINDA YOANI


Oi Janer.

Penso não haver sentido Yoani se asilar. Ficaria longe da família, sem os amigos e perderia o principal, a participação do cotidiano das pessoas simples que referencia seu blogue; mostrando como é viver num país pobre sem liberdade.

Estou lendo o livro Paraíso sexual democrata pelo mesmo motivo que leio o blogue da Yoani e o seu também. Ambos expõem o sentimento que deixam brotar no coração, produzido pelo cotidiano na sociedade em que estão vivendo. Leio para vivenciar os sentimentos que também me brotam, sendo vários e, as vezes, contraditórios, como somos nós, os humanos.

Observe o sentimento gerado pelas impressões de Yoani já ao final da viagem, estando no México, sobre os lugares por onde passou, escrito recente em seu blogue:

O principal contraste situa-se no que é ou não é permitido. Desde que desci do primeiro avião estou esperando que briguem comigo, que alguém saia e me advirta “isso não se pode fazer”. Busco com o olhar o segurança que virá me dizer “não é permitido fazer fotos”, o policial de rosto sombrio que gritará para mim “cidadã, identificação”, o funcionário que impedirá minha passagem por algum corredor enquanto sentencia “aqui não é possível entrar”. Porém não encontrei nenhum destes personagens tão comuns em Cuba. De modo que para mim a grande diferença não são os deliciosos pães com semente, a ausente carne bovina que agora regressa ao meu prato ou o som de outra língua nos meus ouvidos. Não. A grande diferença é que não sinto permanentemente sobre mim o sinal vermelho do proscrito, o apito que me surpreende em algo clandestino, a sensação constante de que qualquer coisa que faça ou pense poderia estar proibida. (grifo meu)

Os críticos de Yoani também apitam em seus ouvidos como faz o governo cubano, pois conjecturam que tenha muitos poderes, os quais duvido, ou que tenha feitos acordos indizíveis com não sei quem. Ela tem pouca importância para ter tanta representatividade. Surpreende o que de tão escabroso possa omitir.

Você por exemplo ao manifestar o sentimento de estranheza devido a simples constatação de que a conduta dos judeus em São Paulo foge ao padrão comum, atraiu para si a pecha de anti-semita.

Faz parecer que o simples manifestar de sentimentos perturba as pessoas; e outra, a coragem de manifestar é incomodativa. Para muitos essa coragem vem carregada de malícia: quem sabe Janer está tramando, urdindo, se acumpliciando ao anti-sionismo internacional e, pior, esse atrevimento denota capacidade para atos conspiratórios contra os coitados e perseguidos judeus, etc. Possível que se atacasse frontalmente os israelitas não causasse tanta estupefação. Creio que com Yoani ocorre algo semelhante.

Transparecer o sentimento frente a uma circunstância é ato temerário, pois pode se refletir em outros sentimentos nas pessoas que o sentem, como o de inveja, por exemplo; penso que ela seja o movél da revolta dos demais dissidentes, todos se sentindo muito mais corajosos em suas denuncias, entrementes, a cubana, com seu “lero-lero”, está conseguindo mais do que todos eles juntos.

Assim como você não atacou os judeus, ela também não ataca frontalmente o governo cubano. Para os muçulmanos você não passará de relis covarde em não denunciar o que eles corajosamente fazem. A cubana, outra covarde, está usufruindo deliciosamente a vida comendo bananas, tomando cerveja e indo a praia, com o dinheiro sabe-se lá de onde consegue; enquanto isso eles, os verdadeiros heróis, se expõem a perigos que faria tremer de medo o próprio diabo.

Como saber o que se passa na cabeça das pessoas?

Janer, agradeço a gentileza de você disponibilizar seus livros na internet. Estou lendo um outro de viagens de sua autoria, que agora mesmo está entre os meus papéis, só que não consegui localizar. Agora recordo, é sobre os países detrás da cortina de ferro.

Amiga minha de Santa Maria ficou muito feliz em descobrir pela leitura que os seus sentimentos da vida nos confins de D. Pedrito/Livramento eram assemelhados ao que ela sentia quando morava nos confins de Santiago; assim como quando deles hoje recorda.

Grato pela sua atenção.

LUIZ E. LAUENSTEIN – Porto Alegre