¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, março 14, 2013
 
COMEÇA MAL PAPADO
DO PAPA PACO



Justo no dia em que o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) foi guindado à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, sob protestos promovidos por um grupo de deputados do PT e do PSOL e manifestantes ligados ao movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, o argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa em Roma. Para Marco Feliciano, o reto não foi feito para ser penetrado.

Bergoglio vai mais longe. Quando arcebispo hemérito em Buenos Aires, como mancheteou a Globo News (assim mesmo, com H), disse que, caso se chegasse a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, como finalmente aconteceu após a votação no Senado argentino, em 14 de julho, haveria direitos humanos violados.

"Está em jogo a sobrevivência da família: papai, mamãe e filhos. Está em jogo a vida de muitas crianças que serão discriminadas de antemão, privando-as do amadurecimento humano que Deus quis que acontecesse com um pai e uma mãe. Está em jogo uma rejeição direta contra a lei de Deus. Não é apenas um projeto legislativo, mas um movimento do Pai da Mentira, que visa confundir e enganar os filhos de Deus".

É Satanás quem está por trás desta lei, como também por trás do projeto que pretende descriminalizar o aborto (o aborto ilegal causa dezenas de mortes de mulheres por ano na Argentina), disse o cardeal. E repetiu que Deus desencadeia guerras para que"Suas" leis sejam impostas.

Ou seja, ser homossexual é obra do demônio. Divertidos monstros Buenos Aires abriga. Cidade mais culta do continente, produz religiosos que ainda estão na Idade Média. O homem é senhor de seus silêncios e escravo de suas palavras, dizia Francisco Franco. Como todo papa, Bento XVI obviamente não aceitava homossexualismo e muito menos casamento homossexual. Mas pelo menos não afirmou que tal comportamento seja obra do Adversário.

Quanto ao aborto, nossos purpurados parecem esquecer que a Igreja o admitiu durante séculos. Que dois de seus campeões, são Tomás e santo Agostinho, não consideravam o aborto um assassinato. Segundo o aquinata, só haveria aborto pecaminoso quando o feto tivesse alma humana o que só aconteceria depois de o feto ter uma forma humana reconhecível. Para o Doutor Angélico, como o chamam os católicos, a chegada da alma ao corpo só ocorre no 40º dia de gravidez. A posição de Aquino sobre o assunto foi aceita pela igreja no Concílio de Viena, em 1312.

Foi apenas em pleno século XIX, em 1869 mais precisamente, que o Papa Pio IX declarou que o aborto constitui um pecado em qualquer situação e em qualquer momento que se realize. Ou seja, apenas um século e meio atrás, a instituição de vinte séculos nada tinha contra a prática.

PT, PSOL lésbicas, gays, bissexuais e transexuais querem a destituição do pastor Marco Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos. Quando proporão impeachment do papa? Longe de mim defender um pastor que cura paralíticos com óleos santos. Para mim, tal espécime nem podia estar no Congresso. Mas, como dizia o Teotonio Simões, “já que se mobilizaram para tirar o pastor Feliciano lá da Comissão dos Direitos Humanos, está na hora de se mobilizarem para pedir a renúncia do novo papa. Ele estará no Brasil para aquele Encontro da Juventude, boa oportunidade para manifestações coloridas. Arco-íris nele, minha gente!”

Que o papa Paco - como já dizem os argentinos - se manifeste contra homossexuais faz parte de seu ofício. Já designá-los como serviçais do demônio é insulto gratuito. Mas não é isto que vai mais marcar a nova trajetória do arcebispo “hemérito” da Argentina. E sim sua pecha de delator. Assim como Judas entregou Cristo aos romanos, Bergoglio teria sido não só conivente com a ditadura argentina, como também entregou dois religiosos de sua ordem à tortura dos militares.

A denúncia não surgiu ontem, quando Bergoglio foi guindado à condição de vice-Deus. Data de seis anos atrás, quando o jornalista Horacio Verbitsky, que passou mais de uma década investigando os vínculos da Igreja argentina com as ditaduras militares, afirmou em El silencio que Bergoglio foi colaborador da última ditadura argentina, que se estendeu de 1976 a 1983.

Segundo o jornalista uruguaio Daniel Gatti, nesta época, o superior provinciano de Buenos Aires da Companhia de Jesus foi acusado, por pelo menos três pessoas, de ter estado na origem do seu seqüestro, desaparecimento e torturas em 1976. Dois deles eram sacerdotes jesuítas ligados à Teologia da Libertação, o outro era médico e também estava relacionado com o movimento de padres do Terceiro Mundo.

Bergoglio negou categoricamente as acusações, mas Verbitsky citou documentos oficiais do Estado argentino para o mencionavam explicitamente. Segundo o jornalista, o atual Cardeal denunciou sistematicamente aqueles padres que ele considerava "subversivos", o que na época, praticamente, equivalia a uma sentença de morte.

À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta, disse César. Bento XVI já envergara o uniforme da Juventude Hitlerista quando jovem. Alegam seus defensores que, na época, ou vestia ou morria. Hélas! Já não se fazem mais mártires como antigamente. O episódio foi tolerado como pecadilho da juventude. Temos agora um homem que, em idade adulta, entrega dois de seus pares à prisão e à tortura. É uma carga pesada para um papa carregar, desde o primeiro dia de seu papado. Esta carga, obviamente, vai ser explorada a fundo pelas esquerdas do mundo todo.

Se bem que papa torturador não é novidade na Santa Madre. Era uma bela tarde do ano da graça de 1385. Sua Santidade o papa Urbano VI passeava inquieto pelos jardins do castelo de Nocera, na Itália. Por mais que aguçasse os ouvidos, não ouvia a música que gostaria de ouvir. Naquele ano, seis cardeais foram acusados de conspirar contra Sua Santidade. Que, incontinenti, os jogou numa cisterna do castelo em que habitava. A cisterna era tão estreita que o cardeal di Sangro, grande e corpulento, não podia nem mesmo se espichar. Foram aplicados a estes infortunados todos os métodos postos em honra pela Inquisição.

Quando se tratou do cardeal de Veneza, Sua Santidade confiou o trabalho sujo a um antigo pirata, que ele havia nomeado prior da Ordem de São João, na Sicília, com a ordem de aplicar a tortura à vítima até que o papa ouvisse seus berros. O suplício durou desde a manhã até a hora da janta. Durante este tempo, Sua Santidade passeava no jardim, sobre a janela da câmara de tortura, lendo seu breviário em alta voz, de maneira que o som de sua voz lembrasse ao executor as ordens que ele lhe havia dado. Mas foi em vão que o pirata apelou aos recursos da polé e do cavalete. Embora a vítima fosse idosa e enferma, só foi possível extrair dela um único grito: "Cristo sofreu por nós".

O conclave, que aparentemente optou por uma terceira via, foi imprudente. Começa mal o papado de Paco. Não custava dar uma olhadela em sua folha corrida.