¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

domingo, março 17, 2013
 
SOBRE ESCRITORES E COVARDIA


Comentando sobre Yoani, em resposta ao leitor Luiz Lauenstein, escrevi: “Já que está no Exterior e tem tudo para pedir asilo, que peça e conte o resto que omite. É jovem o suficiente para poder voltar em breve. Porque aquilo não vai durar muito”.

Escreve-me o leitor a mensagem abaixo. Não deixa de ter razão. O que me espanta, é que a oposição que Yoani faz a uma ditadura seja tolerada e lhe seja permitido sair do país. Vejo pouca contundência nas denúncias da moça. Dá a impressão de que em Cuba há liberdade de imprensa. Chama Raul Castro de presidente. Até parece a Folha de São Paulo dos anos 90, onde se discutia se Fidel era presidente ou ditador. A conclusão, obviamente, era a primeira.

Quanto a Mário Quintana, pessoa a quem sempre quis muito bem, imperioso dizer que foi omisso. Ora, é dever de um escritor manifestar-se sobre as tiranias de sua época. Não é que Mário Quintana não denunciasse o autoritarismo do regime militar brasileiro. Quintana nunca se pronunciou sequer sobre o comunismo, que dominou o século todo em que ele viveu. Os escritores gaúchos, sempre foram covardes neste sentido, a começar por Erico Verissimo, que aconselhou Sérgio Faraco, nos anos 60, a não publicar suas impressões sobre a União Soviética. Faraco acatou a sugestão de Erico, e seu livro, Lágrimas na Chuva, só saiu em 2002, 13 anos após a que do Muro, quase meio século após seus dias na Patrice Lumumba.

Erico Verissimo pergunta a Faraco se não pensava escrever sobre sua estada na União Soviética. "Respondi que, de fato, tinha essa intenção, embora minha experiência não fosse edificante. Ele ficou pensativo, depois disse que, se era assim, talvez fosse ainda menos edificante narrá-la, enquanto vivíamos, no Brasil, sob uma ditadura militar. Ele tinha razão" – diz Faraco. Ora, os militares lutavam para que o Brasil não virasse o imenso gulag que o futuro escritor então testemunhara. Em função de um regime que jamais o pôs na prisão, mesmo sendo comunista, Faraco silencia sobre o regime comunista que o internou em um hospital psiquiátrico, mesmo sendo comunista.

Covardes e omissos foram também todos os demais que, sem pertencerem ao Partido, silenciaram sobre os crimes do comunismo. Mário Quintana, por exemplo, refugiava-se em uma frase cômoda: "eu não entendo de problemas sociais". Moacyr Scliar foi premiado pela ditadura de Fidel Castro. Ou seja, estava muito cotado para a Academia Brasileira de Letras.

Filho de Verissimo, Verissiminho é. Luis Fernando, o rebento, apóia toda ditadura, desde que de esquerda. Apenas dois gaúchos, em todos os cem anos do século passado, ousaram escrever contra a barbárie. Um foi o jornalista Orlando Loureiro, que publicou A Sombra do Kremlin.

Procure nos sebos: editora Globo, 1954, dez anos antes da viagem do alegretense deslumbrado. O outro é este que vos escreve, que tem denunciado o marxismo desde os dias em que Faraco passeava pelas ruas da nova Jerusalém. Os escritores gaúchos sempre souberam que, se criticassem o comunismo, teriam se suicidado literariamente.

Em suma, meu caro Lauenstein, Yoani não consegue convencer-me.