¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, julho 13, 2013
 
PAPA PODE



Corrupção no Brasil é como novelo. Puxa-se um fio e vem o novelo todo junto. De repente, não mais que de repente, descobriu-se que o presidente do Senado, Renan Calheiros, usou um jatinho da FAB para ir a um casamento da filha de um senador na Bahia. O ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves, por sua vez usou outro jatinho para ir do Ceará ao Rio de Janeiro, onde assistiu ao jogo da final da Copa das Confederações. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, por sua vez, se aproveitou de outro avião da FAB para levar familiares para assistir ao jogo da seleção brasileira.

A farra é tamanha que sobrou até para o novel presidenciável emerso da Revolução de Junho de 2013 (isto é, a revolução do mês passado), o impoluto ministro do STF, Joaquim Barbosa. Segundo o Estadão, o candidato sem partido voou, a custas do Erário, para assistir a um jogo de futebol no Rio, no camarote de um tal de Huck, potestade da rede Globo, empresa que acaba de dar um gordo emprego ao filho do juiz, justo aquele por cuja guarda o ministro espancou a consorte. O vôo de altas autoridades para assistir a festas, casamentos e jogos, com dinheiro do contribuinte, já está virando parte dos usos e costumes nacionais, a ponto de nos perguntarmos que mal tem o ministro ter aderido à prática.

O STF negou que o ministro tenha voado para ver um jogo de futebol. Irá Joaquim Barbosa representar contra os repórteres do Estadão e pedir indenização por danos morais? Acho que não.

O presidente do Senado disse que não ia pagar, porque ele é chefe de um dos poderes da República – o legislativo – e, por isso, tem o direito de usar os aviões da Força Aérea. No dia seguinte mudou de idéia e decidiu devolver R$ 32 mil pelos gastos com o vôo entre Maceió, Porto Seguro e Brasília, como se 32 mil reais pagasse o vôo de um jato. Garibaldi Alves e Henrique Alves também falam em devolver. O ministro Joaquim Barbosa, acima de qualquer suspeita, não devolve não.

Este é o fio do novelo. Agora vem o novelo. Segundo os jornais de hoje, somente no primeiro semestre deste ano autoridades federais fizeram 1.664 solicitações de uso de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), um aumento de quase 39% em relação aos pedidos feitos no primeiro semestre do governo Dilma Rousseff, em 2011. Em média, nove autoridades decolaram por dia em jatinhos oficiais de janeiro a junho. Antes mesmo que os jovens revolucionários da gloriosa Revolução de Junho de 2013 reivindicassem o passe livre, este já era usufruído pelas autoridades do Planalto. Só que pelos céus da pátria.

Mas o novelo está longe de ser desfiado. Enquanto senador, deputado e ministro fingem pagar seus vôos privilegiados, anuncia-se para o 22 próximo a vinda ao Rio do vice-deus argentino. União, estado e município gastarão R$ 118 milhões durante a passagem do Papa pelo país. Só o governo federal desembolsará R$ 62 milhões, sendo R$ 30 milhões com ações de segurança e defesa. Estado e município darão R$ 28 milhões cada.

Enquanto o Papa estiver em território brasileiro, a segurança terá um efetivo de 10.700 homens, sendo 9 mil das Forças Armadas e 1.700 da Força Nacional. Só em Guaratiba, onde acontecerá uma vigília e a missa campal, haverá 1.500 homens da Força Nacional. A Igreja vai entrar com a contratação de 2 mil seguranças privados.

Ontem, em Roma, foram embarcados em um Hércules C-130 da FAB, dois papamóveis que servirão como meio de transporte do papa Francisco, durante sua visita ao Brasil. A aeronave deve pousar na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, na tarde da próxima segunda-feira. Os papamóveis são dois, para o caso de um quebrar.

Nesta semana que entra, será lançado o livro com citações do vice-deus, Papa Francisco em suas Próprias Palavras, (Editora Record, 19,90 reais). Sobre o transporte público, disse Sua Santidade: “Uso o metrô quase sempre pela rapidez, mas gosto mais de ônibus, porque vejo a rua”.

Os dois papamóveis serão transportados do Rio para Aparecida, onde o vice-deus celebrará uma missa no Santuário Nossa Senhora da Conceição de Aparecida, de novo será usado um avião Hércules, e só esta operação custará à União R$ 1 milhão. Homem simples, o papa ficará hospedado na residência oficial da arquidiocese do Rio, na zona norte, num quarto simples. Segundo a Folha de São Paulo, o local tem um crucifixo de madeira na parede, um cabideiro, uma poltrona de descanso de linho claro, uma mesa de escritório e um frigobar. Há ainda uma varanda com vista para a mata.

Como se não bastasse, a Câmara dos Deputados prepara um "voo do papa" para levar parlamentares à recepção oficial no Rio de Janeiro. Pelo menos 20 deputados já pediram ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, aquele mesmo que usa a FAB para ver jogos de futebol, para entrar na comitiva que vai recepcionar o papa. Os líderes partidários, por sua vez, foram convidados por Alves e aguardam ainda mais informações para saber se será possível a carona em um avião da FAB para todos.

Que vem fazer no Brasil o papa Paco? Proselitismo, como fazem todos os papas. Demagogo, fará uma visita a uma favela para demonstrar seu apreço pelos pobres. Depois volta para o fausto do Vaticano. Ao mesmo tempo em que busca conter os abusos dos vôos pela FAB das autoridades do Planalto, o governo encarrega a FAB de trazer o transporte particular do papa a este país que se pretende laico.

Papa pode. Você, contribuinte, se sentia esbulhado ao financiar vôos privilegiados de deputados, ministros e senadores? Você era feliz e não sabia. As esbórnias dos deputados e ministros são argent de poche diante do despilfarro do vice-deus. Agora você está financiando um vôo, desde Roma, de um padre argentino.