¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, agosto 09, 2013
 
COSMOANÁLISE, A NOVA PROFISSÃO


Em 2008, comentei um projeto que regulamentava a profissão de astrólogo, já aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado e que aguardava votação no plenário. De autoria do senador Artur da Távola, a proposta definia quem poderia exercer a astrologia e as atribuições dos profissionais, entre elas, o "cálculo e elaboração de cartas astrológicas de pessoas, entidades jurídicas e nações utilizando tabelas e gráficos do movimento dos astros para satisfazer às indagações do público".

O finado bolchevique também anunciou, na época, que pretendia apresentar projeto regulamentando a profissão de filósofo. Filósofo não seria mais quem filosofa, mas quem tem carteirinha de filósofo.

Por outro lado, a Universidade de Brasília chegou a criar um curso de Astrologia, promovido pelo Núcleo de Estudos dos Fenômenos Paranormais, que se dedica ainda a outros temas do gênero, como ufologia e conscientologia, seja lá o que isto quer dizer. Enfim, não tive mais notícias da tramitação do projeto do senador. Pelo que me consta, ainda não passou pela Câmara.

Zapeando na rede, descubro no entanto - para minha surpresa – que a nobre profissão já está regulamentada. No site da ABA – Associação Brasileira de Astrólogos, quem diria? – leio:

Em primeiro lugar, é preciso ser astrólogo (amador ou profissional) para pertencer ao quadro da ABA.
O candidato, freqüentemente um autodidata, deve comprovar sua condição de astrólogo e sua competência prestando o Exame de Proficiência Técnica, que pode ser solicitado à sede, por telefone, carta ou e-mail.

I - Divisão por categoria:
1) Estudante de Astrologia ou Cosmo-Análise (Nível Básico)
2) Astrólogo ou Cosmo-Analista dos Níveis: Médio e Superior;
3) Professor de Astrologia ou Cosmo-Análise
4) Mestre em Astrologia ou Cosmo-Análise

Como a palavra parece estar meio gasta em função dos Walters Mercados e Aiatolavos da vida, há uma alternativa que pode soar mais nobilitante: cosmoanalista. O campo de estudo se amplia. Não temos apenas um especialista em astros, mas em cosmo. O que deve gerar horóscopos, suponho, fundamentados em astros de outras galáxias, caso os desta sejam pouco generosos com os mortais.

Mas atenção a este item: “Em se tratando de uma profissão reconhecida e auto-regulamentada pela própria classe, porém, ainda não regulamentada oficialmente pelo Congresso Nacional". Ou seja, Congresso já era. Tornou-se perfeitamente dispensável para a regulamentação das profissões.

É de espantar que ainda não tenham regulamentado seus ofícios os traficantes de drogas, bicheiros, contrabandistas, gigolôs et caterva. Que falta de espírito de classe. Espírito de classe que não falta aos astrólogos.

Vamos à definição “legal” de astrólogo. Ou cosmoanalista, como quisermos:

e) são Astrólogos ou COSMO-ANALISTAS de Nível Médio ou Superior, os que se diplomaram em Faculdade de Astrologia ou Cosmo-Análise devidamente reconhecida pelo Governo Federal e seu Ministério da Educação, assim como os que se formaram em Escolas ou Cursos Reconhecidos pela ABA, ou ainda os que prestaram exame de suficiência na ABA, conforme as exigências de Currículo e Carga Horária constantes destes Estatutos e do Regulamento Interno.

Só que as faculdades de Astrologia ou Cosmo-Análise devidamente reconhecidas pelo Governo Federal e seu Ministério da Educação ainda não existem. A UnB oferece um curso, mas faculdade, pelo que me conste, o MEC ainda não ousou. Neste caso, servem as Escolas ou Cursos Reconhecidos pela ABA, ou ainda os que prestaram exame de suficiência na ABA, conforme as exigências de Currículo e Carga Horária constantes destes Estatutos e do Regulamento Interno.

Se bem que ousadia é o que não falta ao MEC. Em 2003, o ministério autorizou o funcionamento em São Paulo da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU). Da grade curricular constavam Botânica Umbandista, Fundamentos de Psicologia Geral e Umbandista, Biologia Geral e Espiritual.

Donde se conclui que deve também existir uma botânica católica, outra judia, outra luterana e assim por diante. As botânicas florescerão com o mesmo viço das profissões de fé. Idem no que diz respeito à psicologia. Quanto à biologia espiritual, é de perguntar-se qual será a natureza do material estudado pelos professores. Seres etéreos, evanescentes, inefáveis?

Assim sendo, não é de duvidar que em breve tenhamos tais faculdades. Como a profissão ficou um tanto desgastada depois que os luminares da astrologia deixaram de preocupar-se com as esferas celestes para tratar de assuntos meramente terrenos como Antonio Gramsci e o Foro de São Paulo, teremos doravante cosmoanalistas.

Cosmoanálise soa melhor. Astrologia já era.