¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, agosto 07, 2013
 
SANTARRONA VIRA SANTA


Igreja avalia beatificação de Zilda Arns – diz o Estadão de hoje em manchete. O processo é o primeiro passo para a canonização da fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa. Arns morreu dia 12 de janeiro de 2010, em Porto Príncipe, pouco depois de proferir uma palestra para cerca de 15 religiosos de Cuba, quando o Haiti foi atingido por um violento terremoto, o que lhe conferiu certa aura de mártir.

O Brasil é país sedento de santas e prêmios Nobel. Não por acaso, Arns já foi mencionada para o Nobel da Paz. Milagre que não tenha ganho. Estaria entre seus pares, os vigaristas Martin Luther King, Yasser Arafat, madre Tereza de Calcutá, Rigoberta Menchú Tum.

"Começaremos então a coletar os testemunhos, que são imensos, casos de salvação de vidas e também todos os ensinamentos e práticas da doutora Zilda" - anunciou o arcebispo da Paraíba, dom Aldo di Cillo Pagotto, presidente do Conselho Diretor da Pastoral da Criança. Para ele, o "pleito terá fácil aprovação".

Sem dúvida alguma, já que as vidas que a médica condenou à morte em função de seu obscurantismo não contam. Zilda Arns, a madre Teresa de Calcutá tupiniquim, pertence à ala mais rançosa da Igreja católica. Apesar de vivermos em país que se pretende laico, lutou toda sua vida, em nome de sua fé, contra o aborto e as pesquisas com células-tronco. Não deu Nobel, a igreja aciona o plano B, a santidade.

Sem falar que sua Pastoral da Criança não admitia anticoncepcionais nem preservativos. Quanto mais famintos existirem no mundo, mais aplainado ficava o caminho até o Nobel da Paz. Zilda tentou três vezes. Verdade que os noruegueses foram insensíveis às pretensões da irmã do cardeal fanzoca de Fidel Castro e defensor dos terroristas que um dia tentaram transformar o Brasil em uma grande Cuba. Mas na Folha de São Paulo, por conta própria, Eliane Cantanhêde já lhe conferiu um prêmio Nobel da Paz póstumo.

Falta agora a santidade. Dom Aldo lembra que Zilda, por ter concorrido ao Nobel da Paz, "já é um reconhecimento de dimensão universal". Até aí morreu o Neves. O poeta gaúcho Luís de Miranda também é nobelizável e anda passando o chapéu aos contribuintes gaúchos para tentar tomar mais alguns vinhos antes da láurea conferida pelos suecos.

Obscurantismo, dizem os dicionários, é a atitude, doutrina, política ou religião que se opõe à difusão dos conhecimentos científicos entre as classes populares. O obscurantismo de Zilda Arns não se resume à condenação do controle de natalidade. Ao manifestar-se contra as experiências com células-tronco, a médica sanitarista negou a ciência e condenou experiências vitais para a humanidade.

"Quanto mais próximo se está da ciência, maior o crime de ser cristão", já dizia Nietzsche. Esta senhora, a estrela do terremoto no Haiti, de um obscurantismo que nos remete aos dias em que Galileu foi condenado pela Igreja Católica, está sendo hoje promovida a santa pela imprensa nacional.

Se o Nobel da Paz depende de ventos políticos e tem muitos concorrentes, nas sendas do Vaticano Zilda Arns corre sozinha. É óbvio que será proclamada beata e santa. Para isso, precisa ter feito dois milagres, devidamente confirmados pela Medicina.

Como médico venal é o que não falta no mundo, a auréola de santa são favas contadas para a santarrona de Forquilhinha.