¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, janeiro 06, 2009
 
MORTE À TAM!


Toda vez que viajo, procuro evitar as empresas aéreas nacionais. Uma empresa que sempre abominei, foi a Varig. Tendo o monopólio das rotas internacionais no Brasil, sempre impedia qualquer redução de tarifas. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) da época era o DAC, Departamento de Aeronáutica Civil. Como a Varig oferecia mordomias a políticos e funcionários do governo, toda vez que se falava em redução de tarifas, a empresa ia queixar-se ao DAC. E o DAC, como pai generoso, as proibia.

Durante muito tempo, viajei pela LAP, Líneas Aereas Paraguayas. O vôo partia de São Paulo e custava menos da metade da tarifa praticada pela Varig. Só havia um problema: a LAP não podia pegar passageiros no Brasil e levá-los diretamente à Europa. Precisava ir até Assunção e de lá voltar para a Europa. Ora, os vôos saíam lotados de São Paulo, não havia passageiros a embarcar no Paraguai. Como aterrissar e decolar são operações que custam caro, o avião então sobrevoava Assunção e, uma vez cumprida a estúpida burocracia, embicava rumo à Europa. Nunca estive no Paraguai, mas já vi muita vezes Assunção do alto.

Em 2000, minha Baixinha queria voar rumo a geleiras e fjordes. Pensamos na Terra do Fogo, Punta Arenas, Ushuaia. A Varig cobrava algo em torno de 1500 dólares. Pensei com meus botões: ao norte também há geleiras e fjordes. Pesquisei passagens para a Escandinávia. A Swiss Air me oferecia uma passagem São Paulo/Oslo/Estocolmo/São Paulo por... 669 dólares. Com um dia em Zurich. Para mais que o dobro de distância, menos da metade do preço da Varig.

Sempre detestei a Varig. Outra hipótese, era viajar pela Pluna uruguaia ou pelas Aerolíneas Argentinas. Um pouco antes do afundamento da empresa, escrevi uma crônica intitulada “Morte à Varig”. Um ano depois, meus votos se realizaram. Orre, bem feito!

Dia 24 de dezembro passado, a Anac acenou com um presente de Natal divino para quem gosta de viajar. Eis a notícia, publicada na Folha de São Paulo:

Vôos internacionais podem ficar 20% mais baratos em janeiro

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) liberou descontos em até 20% em passagens de vôos internacionais a partir de janeiro de 2009. A resolução publicada nesta segunda-feira no Diário Oficial da União prevê o aumento gradual dos descontos até a liberação total em 2010.

De acordo com a instituição, que pretende estimular a competição, os descontos não são obrigatórios, mas permitem abatimentos sobre os valores mínimos cobrados atualmente. Cada empresa aérea decidirá pelo desconto, ou não, conforme suas estratégias comerciais.

Por exemplo, um vôo do Brasil para o Reino Unido, Itália ou França custa no mínimo US$ 869 (ida e volta). Com a resolução, as companhias poderão baixar essa tarifa para US$ 695,20 em janeiro. Em abril a Anac deve liberar a redução para 50% (US$ 434,50) e em julho para 80% (US$ 173,80).


Enviei a notícia em email para uma amiga. Não acredito, dizia. Voar para a Europa por 174 dólares? Assim sendo, vou todos os meses. Isso é coisa de país capitalista. E o Brasil, até hoje, não se libertou de seu ranço socialista. Toda iniciativa de baixa de preços em tarifas aéreas, no Brasil, sempre é barrada pelas autoridades.

Dito e feito. No penúltimo dia do ano, leio na mesma Folha noticia que arrasava com meu sonho de Natal:

A Justiça Federal suspendeu o desconto máximo de 20% nas passagens aéreas internacionais. Resolução da Anac autorizava redução nas tarifas de vôos do Brasil para qualquer país, exceto os da América do Sul (região em que já há liberação de tarifas), a partir de 1º de janeiro de 2009. O presidente do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1º Região), desembargador Jirair Meguerian, acatou as alegações apresentadas pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, que questionava a forma como a resolução foi aprovada no final de novembro. Segundo o sindicato, a Anac fez apenas uma consulta na internet e não fez audiência pública para autorizar descontos máximos que começariam em 20% em janeiro e chegariam a 80% em julho de 2009. Mas pesou também o impacto financeiro da resolução, que prejudicaria a TAM, única empresa nacional dona de rotas internacionais com destinos diferentes da América do Sul.

Na sentença que suspendeu o desconto, o desembargador argumentou que a resolução da Anac gera “efeitos imediatos e catastróficos para as companhias aéreas brasileiras e para o mercado em geral, além de favorecer a prática do dumping pelas companhias internacionais, que valem-se de subsídios governamentais e poderão praticar tarifas muito inferiores àquelas praticadas pelas empresas nacionais”.


Ou seja, para preservar os dinossauros tupiniquins, um juiz priva toda uma população toda das baixas tarifas praticadas usualmente no Ocidente. Agindo com a mesma safadeza da hoje moribunda Varig, a TAM decreta a morte das leis de oferta e procura no país e reinstaura o socialismo, que vinha sendo ameaçado por iniciativas inteligentes. E ainda há quem ache que o Brasil um dia sairá do barro.

A TAM, hoje dona do mercado, assumiu o oligopólio da falecida. Morte à TAM!