¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, março 07, 2004
 
MORRE UM POBRE DIABO


Acaba de morrer um mitômano, que nasceu em berço de ouro e jamais fez algo útil na vida. Em suas memórias, gaba-se de ter tido mulheres deificadas pela mídia. “Meus casos com Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Jane Mansfield, Romy Schneider, Kim Novak, Susan Hayward aconteceram com naturalidade”. Com a naturalidade – é bom salientar – de quem confessa ter gasto, ao longo da vida, mais de 20 milhões de dólares com caviar e champanhe para seduzi-las. De uma penada, Jorginho Guinle as coloca todas no rol de vulgares prostitutas.

Colunistas de todos os jornais se babam de inveja ao comentar a vida de Guinle. São outros mitômanos, tão pobres de espírito quanto o playboy tupiniquim. Para passar pela cama de uma mulher que se deixa seduzir por dinheiro, basta ter dinheiro. Conquistador sou eu, ora bolas. Sem ter nenhum vintém, cultivei não poucos afetos em minha vida. E se fui amado, não foi por oferecer jóias, caviar ou champanhe, muito menos por ostentar milhões de dólares. Tampouco jamais corri atrás de mitos hollywoodescos. Sempre procurei as mulheres mais próximas de mim, algumas lindas, outras nem tanto, mas todas adoráveis e muito queridas ao serem abraçadas.

Outro dia, conversando com gente mais moça, um deles me perguntava: tu que viajaste, qual é a mulher mais linda do mundo? Caí em prantos. A mulher mais linda do mundo, consegui balbuciar, eu a conheci. Foi a que me acompanhou por quatro décadas e agora acaba de partir. Duvido que no mundo tenha existido mulher mais linda.

Sim, a mulher mais linda eu conheci. Não nutro inveja nenhuma por este pobre diabo, que valia não por algum valor que tivesse, mas pelos dólares que tinha.