¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, agosto 14, 2004
 
RUMO A 64


Existe a preocupação, em certos setores não-esquerdistas, de que o PT esteja encaminhando o país a um regime comunista. A estratégia petista, no caso, seria a pregada pelo pensador marxista italiano Antonio Gramsci, que consiste basicamente em infiltrar-se na cultura de uma sociedade antes da revolução - comunista, bem entendido. Quando esta ocorrer, os corações e mentes - para usarmos uma expressão cara a Richard Nixon - estariam tão contaminados que sequer perceberiam a mudança do regime.Desculpem-me os que assim pensam, mas discordo.
Discordo não só do fato de o PT estar encaminhando o Brasil rumo a um regime comunista, como também da eficácia do gramscismo como instrumento de luta. Verdade que a imprensa e o mundo universitário brasileiro estão imbuídos de uma visão marxista do mundo, mesmo quando jornalistas e professores nem marxistas são. Mas responsabilizar o teórico italiano por este fenômeno seria atribuir-lhe honras indevidas. Existe no Brasil um pequeno círculo de intelectuais que cultiva sua obra, afinal de algo se precisa viver. Mas este pequeno círculo não tem cacife para influir nos destinos deste inculto país.
Um militante não precisa ler grandes teorias para intuir que, dominadas a universidade e a imprensa, está controlada a cultura de uma nação. Os gramscianos históricos no Brasil são hoje acadêmicos aposentados, que jamais renegariam a doutrina de suas juventudes. É muito duro a um homem, no final de sua vida, reconhecer que tudo que escreveu não vale bosta nenhuma. Continuam então apegados à mentira que lhes deu prestígio e sustento. Árvore velha não dobra, quebra. Ou alguém imagina que um Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder, Marco Aurélio Nogueira, Paulo Eduardo Arantes, Tarso Genro ou os tantos universitários que fizeram carreiras produzindo teses e artigos sobre Gramsci, iriam jogar ao lixo suas besteiras? É pedir demais ao perfeito idiota latino-americano.
Gramsci morreu em 37. Não foi em função de sua obra que aderiram ao stalinismo intelectuais como Sartre ou Brecht, Aragon ou Neruda, Jorge Amado ou Graciliano Ramos. O pensamento de Marx viciou como ópio a intelectualidade toda do século passado, e isto não se deve ao italiano. No fundo da alminha de todo marxista, há um cristão que renegou sua religião e a substituiu por outra, laica mas também totalitária. (Às vezes ocorre o percurso inverso). Tanto que, no Ocidente, o marxismo vingou com força exatamente em países católicos: Rússia, Itália, França, Espanha, Brasil. Em geografias protestantes, não teve maior sucesso. Se o português é a última flor do Lácio, inculta e bela, o marxismo é o último rebento do catolicismo, culto e feio. Gramsci é apenas um sacristão menor, mero suporte do andor.
Tampouco consigo crer que partido algum, por obsoleto que seja, consiga levar este país a regime comunista. Conseguirá o Supremo Apedeuta transformar esta sociedade pluralista em regime de um partido só? Eliminar eleições e substituí-las por uma farsa de candidato único? Colocar a oposição na cadeia? Acabar com a propriedade privada e os sindicatos? Criar gulags para dissidentes? Convencer médicos a contentar-se com 15 dólares por mês? Os temerosos que me desculpem, mas não consigo acreditar. É tarde demais para defender a quadratura da Terra.
Isso não quer dizer, é claro, que o partido do governo não queira instalar sua ditadura peculiar. O marxismo sempre correu nas veias do PT, faz parte de seu DNA. Não por acaso, volta e meia os ghostwriters do Supremo Apedeuta inserem algum autor stalinista em suas arengas. Se não dá mais para pensar em partido único, jornal único, supressão de eleições e gulags, alguma providência o partido do governo há de tomar para acabar com a oposição. Semana passada, Dr. Strangelove ergueu de novo o braço, em saudação a Jossif Wissarionowitsch Dschugaschwili, o Paizinho do Povos, também conhecido como Stalin, que em russo quer dizer "o de aço".
Duas foram as modestas proposições do governo: uma agência para controlar a produção cultural, a Ancinav, e um conselho para fiscalizar o jornalismo. Em uma só semana, duas cajadadas. A Ancinav controlaria cinema, televisão, TV paga, rádio e outras empresas que atuam em audiovisual, isto é, tudo aquilo capaz de influenciar a grande massa analfabeta do país.
Estamos voltando aos tempos do realismo socialista, também conhecido por zdanovismo. Esta tosca teoria, elaborada pelo teórico russo Andrei Zdanov e importada ao Brasil por Jorge Amado, foi o único estilo de arte permitido na URSS após a subida de Stalin ao poder e no fundo transformava a literatura e demais artes em um panfleto a serviço da revolução socialista. Diga-se de passagem, tem sido amplamente aplicada nas novelas da rede Globo, sem que jornalista algum a denuncie. Afinal, ninguém está a salvo de um dia bater nas portas do império Marinho para pedir emprego. A proposição só poderia ter saído da Casa Civil, controlada pelo bolchevique e agente cubano José Dirceu.
Para controlar os restantes alfabetizados, cria-se um conselho para censurar o jornalismo. Este foi proposto pelos pelegos da Federação Nacional dos Jornalistas.Não bastasse ser o Brasil o único país do mundo que exige diploma para o exercício da profissão, as prostitutas da classe querem agora cortar a voz do único poder que tem denunciado as corrupções do Executivo, Legislativo e Judiciário. O Supremo Apedeuta, apesar de apedeuta, é um homem sensível, sabe onde o calo dói. Não fosse a imprensa, tanto Lalaus como Dirceus e Meirelles permaneceriam impolutos em seus cargos. Lobo não come lobo. Lula é analfabeto mas isso ele consegue entender. Quer então calar a última instância de denúncias, a defesa mais ao alcance do cidadão, a imprensa.
Segundo um dos áulicos do Planalto, o ministro Berzoini, não há hoje instituição para "fiscalizar e punir as condutas inadequadas dos jornalistas". Ao que tudo indica, os aspones de Brasília ainda não informaram ao ministro que já existem um Código Penal e uma Lei de Imprensa, esta última seqüela do regime militar.Continuo não acreditando que o partido do governo consiga chegar a um regime comunista. Mas alguma ditadura há de se estabelecer. Não há marxista que agüente, nem mesmo os do Planalto, uma imprensa denunciando as mazelas do poder. Algo talvez ao moderno estilo chinês, ampla liberdade ao capital e liberdade nenhuma ao pensamento. De qualquer forma, uma espécie de continuidade do regime pós-64, quando os militares, em sua estreitez de caserna, impuseram ao país o que jamais deveriam ter imposto, a censura de imprensa.O novo passo rumo à ditadura será dado nos próximos dias.
Dia 18 próximo, o Supremo Tribunal Federal deverá decidir se suprime ou não um direito liquido, certo e adquirido. O direito dos inativos não pagarem contribuição previdenciária. O governo, que precisa de numerário para pagar os "heróis retroativos" que tentaram destruir a nação, está fazendo tudo para derrubar um dos pilares do regime democrático. Se este pilar, o direito adquirido, for derrubado, não há empecilho algum para que se derrubem os demais, tipo essas bobagens como direito à propriedade ou à herança. Estará então instaurado um novo tipo de regime ditatorial, o tupiniquim, aquele que nega direitos ao cidadão, preservando rigorosamente as formas institucionais.
Parabéns, ó brasileiros!
Já, com garbo varonil,
do universo entre as nações
resplandece a do Brasil.