¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, dezembro 15, 2004
 
NO PAPAGENO


Minha impressäo é que há mais de séculos näo ouco rock nem samba, nem vejo mendigos nas ruas, nem ouco discursos políticos idiotas ou o alarido dos vendedores ambulantes, o que dá mais ou menos no mesmo. Do Supremo Apedeuta, nenhuma vírgula. Claro que näo estou no Brasil. Mas em Viena, em um simpático hotel chamado Papageno, onde tomo café aos acordes de Die Zauberflöte. Minhas cervejas e vinhos säo acompanhadas por Mozart, pelos Strauss, Beethoven e por aí vai. Meu bar dileto é o Café Central, onde conspirava Trotski. Cheio de colunatas de mármore, encimado por arcos góticos, sempre foi embalado por valsas, polcas e galopes vienenses. Claro que revolucionário europeu näo vai conspirar em botecos proletários.

Vim para estes nortes recolher alguns pedacos de minha alma, que deixei por aqui quando jovem. Estive em Amsterdä, onde, se alguém ainda näo sabe, as prostitutas se exibem semi-desnudas nas vitrines e maconha e outras ervas teem menu nas coffeshops. Nada de pobres coitadas tremendo de frio ao relento, à espera do cliente. Mas mulheres soberbas, em lingerie, numa cabine quentinha.

Nas ruas, nem sombra de traficantes. A pragmaticidade dos holandeses, isenta de pruridos catölicos, há muito liberou a prostituicäo e as drogas. E todo mundo vive muito bem, com altíssimo padräo de vida, embora prefiram circular pelas ruas de bicicleta. Por certo, teem em suas garagens uma BMW ou Mercedes. Mas preferem, sabiamente, as bicicletas. Comove ver aquelas velhotas saudáveis, em seus setenta ou mais anos, pedalando pelas ruas como se fossem meninas novinhas.

Em Viena, o que mais se respira é müsica. Além do bom cheiro dos cafés (falo da bebida), que säo dezenas, e muitas vezes mais caros que um copo de vinho. Esta bebida deu origem aos famosos cafés de Viena (falo dos bares), onde entramos e näo temos mais vontade de sair.

Ergue teu traseiro dessa cadeira, meu caríssimo leitor. Se ainda näo conheces estas cidades esplendorosas que tornam o mundo mais lindo, sai logo desse país infeliz e vem dar uma olhada no que de melhor a humanidade criou. Vende teu carro - se for o caso - ou tua casa na praia, ou teu sítio, e vem ver como o mundo näo precisa ser um aglomerado de cidades de centros deteriorados, ruas cheias de mendigo e arquitetura que faz mal olhar.

Viajar sempre faz bem, mesmo ao mais insensível dos viajantes. Mesmo este bruto, em sua ignorancia, consegue perceber que no mundo näo existem apenas os costumes de sua aldeia. Quem me acompanha, sabe que jamais tive carro. Sem falar que esta tralha nunca me fez falta, cada vez que pensava em comprar um, lembrava que por aquele preco teria um mes ou mais de Europa. Carro näo leva longe. Viajar é muito melhor.

Em minha volta, voltarei ao assunto.