¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, janeiro 12, 2005
 
AINDA OS DRs

Em função da crônica Milho aos Porcos, recebi não poucos e-mails com pseudônimos. Minha resposta: não respondo mails com pseudônimo. Não vivemos em republiquetas socialistas tipo Cuba onde as pessoas precisam ocultar-se para fugir a sanções do Estado.

Voltando ao assunto: em meus dias de Paris, assisti à soutenance de uma tese na área de Letras Francesas e Comparadas. O doutorando, oriundo do Recife, pretendia estabelecer um paralelo entre a poesia de Manuel Bandeira e a de Paul Éluard. Antes da defesa, me confessou: "minha tese não tem fundamento nenhum. Se alguém defender o contrário, também tem razão. Eu quero apenas terminar esta fase e voltar logo ao Brasil".

Na banca estava Etiemble, o célebre lingüista francês. Como estava prestes a aposentar-se e seria sua última participação em uma banca, aproveitou a inquiração do candidato para exibir sua erudição. Ao final de seu show particular, no qual navegou até mesmo por dialetos chineses, perguntou ao cearense: "em suas pesquisas, você encontrou algum indício de que Bandeira tenha tido algum contato com Éluard?"

- Não - disse o candidato -. Não há indício algum.

- Então - retornou Etiemble - você sequer se deu ao trabalho de ler a introdução à Poesia Completa, de Bandeira, onde são mencionados os encontros dos dois no sanatório de Clavadel, na Suíça, onde estavam internados por problemas pulmonares.

O fio que daria consistência à sua tese, o candidato o desconhecia. Menção? Très Bien.