¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, janeiro 19, 2005
 
COTAS PARA MONOGLOTAS

O presidente da República, com a folclórica autoridade que lhe é inerente, conferiu o título de intelectual a virtuoses do rap e do rock, os tais de Titãs e um tal de Mano Brown. Segundo o Supremo Apedeuta da Nação, na época em que pessoas graduadas governavam o país, "dificilmente você teria um ato e seriam lembrados aqui, por exemplo, os Titãs e o Mano Brown. Teriam citado outras personalidades do mundo intelectual, e nunca dois (sic!) intelectuais bem próximos da periferia brasileira". (Pelo jeito, Lula continua a não entender os plurais). Após esta promoção, preparem-se os vestibulandos para enfrentar, nos exames de literatura, citações das obras-primas destes novos intelectuais. O que não é de espantar. Se Gilberto Gil e Caetano Veloso, segundo os organizadores de vestibulares, já fazem parte da literatura brasileira, por que não descer mais alguns degraus escada abaixo?

O Supremo Apedeuta ousou ainda mais. Olhou-se no espelho, achou-se belo e recomendou sua imagem, afirmando que o estudo e a especialização podem atrapalhar o desempenho do homem público. O que é muito coerente com a recente decisão do Instituto Rio Branco, que prepara os candidatos ao Itamaraty, de considerar o inglês como matéria não-eliminatória em seus concursos. Só no governo de um monoglota atroz pode-se conceber que uma escola de diplomatas dispense seus alunos do conhecimento da única língua franca de que hoje dispomos.
O nível das universidades, que já era deplorável, baixou ainda mais com a instituição das cotas. Hoje, dependendo da cor da pele, até um analfabeto pode fazer curso universitário. Nos vestibulares, exige-se o inglês. Na escola diplomática, onde o inglês é o instrumento básico de trabalho, passa a ser dispensado. Se a universidade reserva cotas para negros, o Itamaraty inovou, reservando cotas para monoglotas.

Se o presidente não fala inglês, por que seus representantes falariam? Nivele-se tudo por baixo e abra-se concurso para intérpretes. Dada a vocação de terceiromundismo do Itamaraty, não é de duvidar que em breve se exija o suahili ou o wolof para nele ingressar. Quanto às relações com o Primeiro Mundo, os diplomatas podem muito bem seguir a simplicidade do presidente, levando intérpretes a tiracolo.