¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, janeiro 13, 2005
 
DOUTORADO DE NORDESTINO

Do professor Ricardo Marques, recebo este mail:


Prezado Sr. Janer:

Não discuto sua sapiência acadêmica nem douta formação, e acho a maioria de seus artigos muito bem escritos.

Contudo, nessa sua última contribuição, referindo-se ainda aos "doutores", creio que seja meu dever fazer-lhe uma crítica.

Eis que o sr. surge com alusões tipicamente preconceituosas aos nordestinos, povo que produziu e produz não apenas alguns gênios reconhecidos mundo afora, mas também que abriga trabalhadores que labutam arduamente, em todas as nobres profissões, para sustentar uns poucos privilegiados pelo sistema desigual que domina esse país.

Ah, se todo pós-doutor paulista, carioca ou sulista tivesse o mesmo quilate de muitos graduados, mestres e doutores que conheci e conheço no nordeste, o Brasil seria uma nação bem melhor. Contudo, a mediocridade corporativista e bairrista, que se defende por trás do ataque preconceituoso, vai conseguindo manter esse deplorável status quo.

Lamento ver doutores assolados pela vaidade e, ensimesmados pelo diletantismo acadêmico, esnobando os simples, indo, às custas destes, se refestelar em Paris. Ocupam-se, ainda, em falar da capital francesa com a mesma vaidade esnobe com que se deliciam em citar ao público seus próprios dotes acadêmicos.

Para completar, crédulo no sistema déspota ao qual parece haver se escravizado, o sr. critica ferinamente aqueles que, por razões diversas, deixam para se pós-graduar mais tardiamente. Numa percepção rasteira dos motivos que podem levar uma pessoa a essa decisão, esbarra outra vez no preconceito e no reducionismo, ao achar que jovens imaturos e inexperientes de 20 e poucos anos estariam melhor capacitados a inovar e produzir para a sociedade do que quarentões e cinquentões. Que pena tamanho desconhecimento.

Mestrado e doutorado é para carecas, sim. Hoje se vê doutores maduros nas mais distintas áreas dando demonstrações de que somente agora sentem-se capazes de discernir e produzir para a sociedade num nível de fato relevante. E arrependem-se de terem consumido sua juventude com anos seguidos de estudos acadêmicos, quando poderiam ter se dedicado a coisas melhores após a graduação, já que a cabeça para pensar e fazer algo relevante somente se constituiria mais tarde. Que bênção seria se tivessem guardado o mestrado e o doutorado para esse tempo mais recente, é o que refletem estes arrependidos...

Faço votos de que reavalie com humildade alguns de seus comentários, e que em breve mais um pretenso juiz de almas caia de seu pedestal e passe a desfrutar de boas caminhadas em chão firme, com seus semelhantes de todos os niveis - doutores ou não.

Atenciosa e sinceramente,

Prof. Ricardo Marques