¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, janeiro 13, 2005
 
DOUTORADO NA FRANÇA

E do professor Wilton Pereira, este outro mail:

Janer,

Suas observações sobre o doutorado na França são pertinentes. Passei também por essa experiência, em Toulose, onde fiz o meu "Doctorat" da era Mitterrand em engenharia eletrônica, na área aeroespacial. Voltando ao Brasil, tentei ser um professor pelo menos "menos" medíocre que os alunos que recebia, estes pobres coitados vítimas do cruel processo de desmonte de nosso ensino básico e secundário das duas últimas décadas. Mas sem muito sucesso, pois os jovens do século 21 não querem construir uma vida pelo longo trabalho "de uma vida" e sim obter o rápido sucesso e riqueza fácil tão difundidos pelas novelas globais e nos filmes hollywoodianos....

Quanto a atividade de pesquisa, para a qual fui formado, nem pensar. Se nem engenharia fazemos no país, tudo vem pronto do exterior, quanto mais pesquisa científica.....Foram quatro anos na França e a revalidação do meu diploma foi realizada pelo ITA, pois já sabia das restrições uspianas (embora, em engenharia elétrica e eletrônica, parte considerável dos docentes doutores "internacionais" - ?? - daquela renomada universidade seja formada pelaFrança, paraíso de seu público universitário tupiniquim anti-americano e ultra-esquerdista).

Naquela época havia cerca de 300 brasileiros em Toulouse, a maioria do Nordeste (a CAPES sempre foi um reduto nordestino...). A maior parte matriculada em cursos de doutorado nas áreas de ciências humanas e em engenharia. Quase a metade não terminou o curso, aproveitou apenas para conhecer a Europa e retornar ao Brasil depois de boas férias generosamente remuneradas pelo erário de nosso rico país, onde sobram recursos financeiros(!!!).

As menções do doutorado gaulês são essas mesmas que você citou: TRES HONORABLE, HONORABLE e ASSEZ BIEN. Muitos de meus colegas, que não tiveram tempo para se dedicar ao curso, em função das intensas atividades recreativas do sul da França (ninguém é de ferro, não é...), mas terminaram com o "sofrido" ASSEZ BIEN, ainda hoje fazem, nas terras tupiniquins, a maior auto-promoção do "Bastante Bem" obtido em seus "doutoramentos". Colegas que estiveram na Grã-Bretanha e nos EUA também citam os "doutorados nordestinos" daqueles rincões.

Mediocridade não é exclusiva dos latinos, também existem anglos-saxões neste grande time.....É verdade que lá existem cursos de nível elevadíssimo, mas não apenas eles..... Assim como na França também existem bons programas de doutoramento, generalizar é .....

Sou professor de duas entidades privadas de ensino superior. Com o empobrecimento geral da classe média (façanha do atual desgoverno), aprocura por faculdades particulares "pagas" está em queda vertiginosa, particularmente em ciências exatas, onde existe "a tal da matemática". No desespero para "captar" alunos, entidades paulistas já famosas pelo mercantilismo universitário, reduzem pela metade o preço das mensalidades e, para baixar os custos, demitem professores com maior titulação ou experiência.

Assim, Janer, temo que não existirão as vagas que você citou, em seu último artigo no Baguete, para motoristas e faxineiros "doutores" quando essa leva de 16 mil, que o atual desgoverno pretende criar, chegar ao mercado detrabalho, no final de década. Essas vagas estarão ocupadas e certamente bem defendidas por sindicatos vinculados a CUT, pelos atuais "doutores" decorrentes do amplo processo de demissão em curso. Talvez sobrem vagas para atuarem no MST (a densa formação ideológica esquerdista desse pessoal jáajuda bastante....). Ou formarão acampamentos dos PHD ("Por Hora Desempregados") ou dos MDSC ("Movimento dos Doutores Sem Cátedra") instalados nos desfloridos jardins de nossas decadentes universidades públicas (onde tudo está desabando, com goteiras e mofo por falta de manutenção).

Forte abraço,

Wilton Pereira,Taubaté (SP)