¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, janeiro 25, 2005
 
PT BURRIFICA BRASIL


O monoglota me dá uma pena profunda. Claro que ao falar monoglota não me refiro aos milhões de pessoas que mal tiveram acesso à educação primária, ou nem mesmo isso. Me refiro àqueles que tiveram chance de chegar aos bancos universitários e não têm sequer a curiosidade de conhecer a fundo pelo menos uma outra língua. Neste sentido, sinto-me um privilegiado. Fiz meu ginásio em Dom Pedrito, pequena cidade interiorana da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Teria na época uns 15 mil habitantes. Mas naquele ginásio aprendi latim, inglês, francês e de lá saí redigindo um português impecável. Dada a condição de cidade fronteiriça, de ilhapa ganhei o espanhol. Aos quinze anos, eu dominava quatro línguas vivas e arranhava uma morta com relativa aisance.

Aos poucos, o ensino foi-se degradando. Primeiro, saiu o latim saiu dos currículos. Depois o francês. O inglês permaneceu, é verdade. Mas de forma muito precária. Você paga caro uma escola onde deveria aprender a língua e depois tem de pagar professor particular para conseguir dominá-la. O rigor no ensino do português deixou de existir. Quando o domínio do vernáculo deveria ser conditio sine qua non para ingresso na universidade, hoje, nas universidades, há aulas de português. Que são insuficientes e, como no caso do inglês, os alunos precisam pagar um professor por fora para aprender a língua dentro da qual nasceram. Ou seja, nem a universidade hoje supre aquele mínimo exigível de toda pessoa que se pretenda culta, o domínio da própria língua.

Cada língua que você conhece além da sua é mais uma janela aberta para o mundo. Particularmente para um brasileiro. Neste país que foi dominado por um pensamento marxista todo o século passado, conhecer francês, inglês ou espanhol era ter acesso a bibliografias que aqui sempre foram censuradas. Se hoje entendo o Brasil, é porque um dia pude ler obras que jamais foram traduzidas ao português. E se o PT hoje está no poder, é porque houve uma lacuna no conhecimento nacional. Conhecessem os brasileiros o que foram os regimes comunistas, seus herdeiros tardios há muito estariam na famosa lata de lixo da História e não em Brasília.

A revista Veja desta semana se pergunta em matéria de capa:

O PT DEIXOU O BRASIL MAIS BURRO?

A pergunta é e não é pertinente. Não é pertinente porque o Brasil vem se burrificando desde muito antes do PT. Começou quando o latim foi retirado dos currículos e o ensino do português tornou-se matéria secundária. Começou quando as universidades, para conseguir mais clientes, afrouxaram as exigências do vestibular, a ponto de permitir que um iletrado entrasse nos cursos universitários. Não só permitiram que entrasse, como permitiram que também saísse, sempre iletrado. Professor universitário, tive alunos em final de curso que sequer sabiam se uma palavra levava s ou ç. Esses alunos, não consegui barrá-los. Estão hoje lecionando e analfabetizando gerações. O auge desta caminhada rumo ao analfabetismo ocorreu em 1998, em São Paulo, quando foi adotado no secundário o sistema de progressão continuada. Ou seja, os alunos passavam automaticamente de uma série a outra, sem que pudessem ser reprovados. O absurdo foi tamanho que alguns pais decidiram recorrer à Justiça para o que filho fosse reprovado. Duvido que tal atitude tenha sido necessária em qualquer outro país do mundo. Só mesmo neste Brasil.

Mas a pergunta é também pertinente, no sentido em que o PT está acelerando este processo rumo à barbárie. Se a burrificação do país começa antes de o PT ter chegado ao poder, seu ápice ocorre no momento em que o país todo escolhe como presidente um analfabeto. Se os letrados não conseguiram ajeitar o país, vamos tentar um iletrado, parece ter sido este o raciocínio do eleitorado. Sofisma dos mais fajutos. É como dizer: se um homem honesto não nos levou à prosperidade, vamos então eleger um canalha. Verdade que o analfabeto foi vivo. Mal tomou posse, abandonou as utopias desvairadas do PT e seguiu bonitinho a política do letrado que o precedera. Se algum mérito existe na gestão de Lula, é ter traído o partido que o criou.

Eleito o analfabeto, cria-se um clima malsão no país todo. Para ser bem sucedido, ninguém precisa ter instrução. Fernando Henrique - diga-se o que dele se disser - era um belo cartão de visita. Cidadão do Terceiro Mundo, conhecia mais línguas que seus pares europeus ou americanos. E conhecia não por vaidade, mas por necessidade. Para europeus ou americanos, a própria língua é mais que suficiente. Não para um brasileiro, cuja língua não tem livre curso fora do Brasil, Portugal e ex-colônias africanas. O próprio Bush, que fala a língua franca de nossos dias, preocupou-se ao menos em aprender o espanhol. Nosso Supremo Apedeuta não consegue nem balbuciar a língua dominante do continente em que vive. Língua irmã, cujo conhecimento é obrigação de todo brasileiro que pretenda enxergar dois palmos além do próprio nariz.

Desde a paupérrima África à próspera Europa, passando pelas nações árabes ou socialistas, todos os países do mundo recorrem ao inglês para entender-se entre si. Não apenas a diplomacia, mas também o comércio e o turismo tiveram de render-se à supremacia do novo esperanto. Se você acha complicado ir à Escandinávia porque lá se fala sueco, finlandês, dinamarquês ou norueguês, não se preocupe. Desde que você fale inglês, estará em casa em qualquer um desses países. Não só na Escandinávia, que é bilíngüe, como em todo o resto da Europa, cuja tendência é tornar-se bilíngüe. Um alemão precisa conversar com seu vizinho francês? Recorre ao inglês. Aqui na América Latina, o Chile acaba de assumir o inteligente propósito de tornar seus cidadãos bilíngües nos próximos vinte anos. Não que pretendam aprender o português, nada disso. Estão preparando as novas gerações para o domínio do inglês.

Neste mundo globalizado, qualquer prostituta sabe que não vai muito longe sem o inglês. Não há camelô no mundo árabe que, mesmo analfabeto, não saiba um inglês básico. Em minhas viagens, encontrei não poucos analfabetos. Analfabetos, mas poliglotas. Não sabiam ler nem na própria língua. Mas tinham consciência de que, sem pelo menos o domínio oral de outras línguas, não conseguiriam vender seus peixes. Mas não vou tão longe. São Paulo, por exemplo. Aqui, não é fácil ascender em uma profissão sem o domínio do inglês.

Em um mundo em que até as putas sentem necessidade de uma língua franca, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim - em consonância com a burritsia marxistóide que hoje está no poder - baixa uma portaria determinando que provas de inglês não mais serão eliminatórias no concurso do Instituto Rio Branco. A pergunta da Veja é meramente retórica. O ponto de interrogação é mero eufemismo. É claro que o PT, em seu antiamericanismo obtuso, está burrificando o país.