¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, fevereiro 14, 2005
 
COTAS PARA CUBA


Tudo deve ter começado com a primeira faculdade de Teologia. Instalada uma instituição universitária onde se estudam artigos de fé e não há lugar para a dúvida, estão abertas as portas para todas as vigarices. Estão surgindo no Brasil, como cogumelos após a chuva, as escolas confessionais.

Comentei, ano passado, a autorização pelo Ministério da Educação, da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU). Ora - dizia eu então - se os cristãos têm sua teologia, por que não teriam uma os cultos animistas africanos? A pergunta procede, mas tem seus percalços. O Deus cristão, além de ser um só, tem como biografia um livro dos mais antigos. Os africanos, além de serem muitos, precisam de biografias mais evidentes e bibliografia de apoio. Será necessário cavoucar muito texto do nada, para bem definir Ogun, Oxóssi, Iemanjá, Exu, pretos velhos, índios, caboclos, ciganos. Em breve teremos doutores em Teologia Umbandista e, por que não, faculdades de Teologia do Candomblé. Se os europeus criaram a ciência do que não existe, a teologia, porque os ditos africanistas não criariam outra ciência para estudos do nada?

Não bastasse esta venda de crendices no atacado, os Arautos do Evangelho inauguraram, no mês passado, sua primeira escola, em Cotia, grande São Paulo. Se alguém ainda desconhece a nova seita, esclareço: são uns fanáticos que andam vestidos com batinas em preto e vermelho, usam botinas militares e correntes de ferro à guisa de cinto. Dizem-se católicos conservadores - como se isto não fosse uma tautologia - e são dissidentes da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a famosa TFP, que reúne aqueles sisudos marmanjos engravatados que acreditam na virgindade de Maria. Já têm representação em 50 países.

Como é de menino que se torce o pepino, os arautos investiram no ramo da educação. "Nosso objetivo é criar jovens com autodisciplina e moral, com o carisma dos arautos" - afirma o diretor-geral da escola, Marcos Antônio Gagliardi Cascino. "O carisma dos arautos prega, além do ato de orar e comparecer a uma missa mensal, lições de comportamento, respeito e o resgate dos valores éticos, morais e espirituais". Por valores éticos, morais e espirituais entenda-se o ranço histórico do cristianismo. A capacidade da escola, que tem onze prédios, é de 1.500 alunos. Em 2006 devem ser abertas turmas também para o ensino médio. Nas aulas de religião, no melhor estilo da ideologia bushista, será ensinado o criacionismo.

Não bastassem estas madrassas que visam abafar nos jovens qualquer veleidade de pensamento independente, o Movimento dos Sem-Terra (MST) acaba de inaugurar em Guararema (SP) uma escola política, a Escola Nacional Florestan Fernandes, que visa educar militantes nas áreas social e política. Traduzindo em bom português: uma escola de marxismo que visa criar quadros para invadir terras, desmontar a estrutura agrária do país e instaurar entre nós aquele regime que naufragou no século passado, não sem antes levar dezenas de países à miséria. A escola custou US$ 1,3 milhão e foi custeada por um fundo social da União Européia, pelo próprio MST e pelas ONGs cristãs Caritas, da Alemanha, e Frères Des Hommes, da França. O que só comprova tese que não canso de repetir: os europeus adoram regimes socialistas, desde que instalados longe deles. E os católicos europeus, em vez de combater ideologias que levam os países à pobreza, muito coerentemente estimulam essas ideologias, para que produzam países nos quais eles, os católicos, possam exercitar essa virtude inefável, a caridade.

O nome da escola é emblemático. Homenageia um dos mais retrógrados professores da USP, tido como grande intelectual revolucionário pelas viúvas - hoje caquéticas - do comunismo. Não por acaso, foi a USP a grande responsável pela difusão da doutrina totalitária no país. Árvore velha não dobra, quebra. Enquanto tiverem voz estes mal-cheirosos cadáveres do passado, o Brasil continuará patinando eternamente em berço esplêndido. A guerrilha católica agora tem escola, professores, grade curricular e aulas regulares. E seus mestres tutelares: Marx, Lênin, Mao, Pol Pot, Che Guevara, Fidel Castro, Hugo Chávez, Frei Betto et caterva. Para saudar a criação da nova madrassa, foi conclamada uma múmia histórica uspiano-marxista, o professor Antonio Cândido.

Não bastasse a instalação de uma escola de guerrilha no país, o atual ministro da Educação, inverossímil doublé de judeu e maoísta, Tarso Fernando Hertz Genro, quer porque quer revalidar o diploma de médico de quarenta formandos pela Escola Latino-americana de Medicina (ELAM), de Cuba, ao arrepio das exigências impostas aos formandos de qualquer outro país. Ou seja, se um profissional se forma em Paris, Londres ou Nova York, terá de prestar uma série de exames e mesmo repetir certas cadeiras para ter seu diploma revalidado no Brasil. Cuba terá tratamento diferente, no que depender do ministro maoísta. Os generalistas básicos - pois é isto que Cuba forma - poderão chegar no Brasil e sair clinicando como um médico aqui formado, sem passar por exame algum, tal parece ser a excelência dos cursos de Medicina em Cuba. Já temos cotas para negros, bugres e egressos da escola pública. Surge agora mais uma, a cota de Cuba.

Não bastasse ser criada a cota de Cuba, só são enviados para a ilha de Castro os indicados pelo MST, PC do B e PT. Ou seja, se você quer ser médico, tem de ser de esquerda e receber recomendação de organizações comunistas que ainda continuam mandando no país. Ou então vá tentar o vestibular, como os demais pobres diabos. A triste verdade é que nosso país já está infestado pelos generalistas formados em Cuba, exercendo irregularmente a medicina entre nós. Por que são tolerados? Porque são cubanos, ora. Não seria de surpreender que os afilhados das esquerdas chegados de Cuba acabem brandindo a tese do direito adquirido.

A fórmula malandra de driblar o vestibular e demais exigências para o exercício da medicina está em avançada gestação nos antros do Planalto. Para o ministro maoísta é uma questão de honra qualificar os generalistas básicos. Pasarán? No pasarán? Se passarem, este país perdeu todo e qualquer resquício de vergonha. O que em nada me espantaria.

Um representante do Rio Grande do Sul na Comissão Nacional de Residência Médica, o médico Flávio José Mombru Job, pediu o afastamento do cargo sexta-feira passada, em protesto contra a falcatrua. Reservas de vergonha, ainda temos. O que resta saber é se prevalecerão.