¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, abril 18, 2005
 
DE VOLTA DO FIM DO MUNDO


Por alguns dias, estive ausente deste espaço. Estou voltando do fim do mundo. Isto é, de Punta Arenas, Ushuaia e Puerto Williams, lá onde o Atlântico se encontra com o Pacífico. Naveguei pelo estreito de Magalhães e pelo canal de Beagle, por onde andou pesquisando Darwin. Antes da viagem, reli a biografia de Magalhães por Stephan Zweig, tentei ver o estreito com os olhos virgens do português. Nestes dias de bestsellers, se você quer mergulhar numa leitura fascinante, procure nalgum sebo ou biblioteca o livro de Zweig.

Mas hoje não dá mais. A passagem, já a conhecemos por fotos, filmes, reportagens. Paisagens magníficas, muita neve, glaciares e fjordes. Mas o melhor de tudo é que passei quase uma semana sem jornais nem TV, sem telefone nem rádio, nem Internet nem carros, nem crianças nem adolescentes. Melhor ainda, sem notícia nenhuma do Brasil, nem do mundo. E, suprema ventura, notícia nenhuma do Lula. Por uma boa semana, cheguei a esquecer que o Supremo Apedeuta existia.

Isso faz bem à alma. Junto aos glaciares, tomei uísque de doze anos, com uma pedrinha de gelo de... doze mil anos. Claro que, para honrar a pedrinha milenar, repeti com gosto as doses. Mas o melhor de tudo foi o isolamento total do mundo.

Voltei por Buenos Aires. Na Argentina, as manchetes dos jornais já me jogaram na cara notícias do Brasil. Adeus glaciares e fjordes, adeus baleias e leões marinhos, adeus ilhas e cormoranes. Ao leitor, uma dica: se você quer paz de encher a alma e beleza de encher os olhos, não hesite. Vá logo.