¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

sexta-feira, junho 24, 2005
 
ESTADÃO FAZ JORNALISMO SAFADO
Aprenda a fazer jornalismo de esquerda, leitor. Principalmente se for estudante de jornalismo. Pode render-lhe um bom emprego nos grandes jornais nacionais. O texto abaixo foi extraído do Estadão on-line. Leia o título. E depois o texto, com atenção. Nele, você não encontrará nada que se refira à exaltação à tortura.
-----------------------------------------



Bolsonaro comanda sessão de exaltação à tortura na Câmara

Denise Madueño - A Câmara realizou hoje uma sessão solene, a pedido do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), de tributo aos militares que desmontaram a Guerrilha do Araguaia que mais se assemelhou a um filme de horror.
Depois de ter chamado o deputado José Dirceu (PT-SP) de terrorista dentro do plenário e de ter ofendido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, em outra sessão, Bolsonaro organizou um evento de pura provocação aos integrantes de movimentos políticos que combateram a ditadura militar. A realização da sessão foi autorizada pelo presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

Bolsonaro levou como principal convidado o coronel Lício Augusto Maciel, chefe do Grupo de Combate e comandante das operações. Saudado por Bolsonaro como "herói do Araguaia", o coronel Lício ocupou a tribuna por uma hora fazendo um relato frio sobre a morte dos guerrilheiros e demonstrando orgulho da operação. Ele chorou por duas vezes ao falar de outros militares que também estiveram com ele na repressão da guerrilha.

Bolsonaro, que incluiu na sessão um toque de silêncio e uma canção militar, reclamou da falta de autoridades militares no evento e atacou o comandante do Exército, Francisco Albuquerque. "Lamento a ausência de qualquer representação de integrantes das Forças Armadas. Lamento também a negativa do Exército em nos conceder sua banda de música para abrilhantar o evento. Este é um fato ímpar nesta Casa. Senhor comandante do Exército, que muito estimo, a homenagem aqui é para homens", discursou Bolsonaro, sendo aplaudido.

O coronel Lício Maciel foi o grande homenageado da sessão. Responsável pela prisão do guerrilheiro José Genoino em 12 de abril de 1972, o coronel acusou o atual presidente do PT de ter entregue seus companheiros. Em um tom teatral, o coronel se referia diretamente a Genoino, como se ele estivesse assistindo à sessão, que é transmitida pela TV Câmara.

"Genoino, olhe no meu olho, você está me vendo. Eu prendi você na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não lhe demos uma facãozada, não lhe demos uma bolacha, coisa que me arrependo hoje", disse o coronel, sendo aplaudido pelo plenário, composto de militares e mulheres de militares.

Nos estertores da dor

Sem assumir que matou os guerrilheiros, o coronel contou que atirou em Lúcia Maria de Souza, conhecida por guerrilheira Sônia, na mata. "Quando ela sacou a arma vi que não tinha jeito e atirei: acertei a perna e ela caiu. E ela caiu feio. Não caiu, desmoronou. Ela deu um salto como se tivesse recebido uma patada de elefante. Eu corri, ela não estava mais com a arma, estava nos estertores da dor, chorando e gritando", contou o coronel. Ele disse que, depois disso, ela recuperou a arma e atirou nele e no coronel Curió. "O resto da minha equipe revidou, claro. Encerrada foi a carreira da bandida Sônia, nome da guerrilheira", disse.

No relato da morte de André Grabois, o coronel disse que estava com a arma apontada para ele a uma distância de um metro e meio. O militar falou também do estado do guerrilheiro Nunes. "Nunes estava gravemente ferido, mal falava e quando fazia, o sangue escorria pela boca, mas conseguiu dizer a importância do grupo e citou nomes, não sei se nome ou codinome, de todos eles. E o Zequinha disse que aquele era o André Grabois. Não sei. Estava morto", relatou o coronel.

Ao contrário das demais sessões solenes, dessa vez nenhum partido destacou deputados para discursar. A sessão foi aberta pelo terceiro secretário, Eduardo Gomes (PSDB-TO), que depois de um rápido discurso passou a presidência a Bolsonaro e deixou o plenário.

O quarto-secretário, João Caldas (PL-AL), acompanhou a sessão e, além de Bolsonaro, apenas o deputado Elimar Dasmasceno (Prona-SP) discursou. Severino Cavalcanti estava cumprindo agenda em Pernambuco. A assessoria da presidência informou que não houve nada de irregular na sessão. De acordo com a assessoria, como de praxe, a presidência da sessão foi transferida para o autor do requerimento, no caso, o deputado Jair Bolsonaro. O presidente da sessão é soberano para comandar os trabalhos.