¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, junho 22, 2005
 
INTOLERÂNCIA LEGÍTIMA
Dia 25 do mês passado, foi lançado na Alemanha mais um desses livros que tão cedo - ou quem sabe nunca - não veremos editado no Brasil. Trata-se de Eu Acuso, mas nada tem a ver com Zola. É o depoimento de Ayaan Hirsi Ali, cidadã originalmente somali, hoje deputada do Parlamento holandês. Desta vez não é uma européia que enuncia a barbárie do Islã, mas uma africana ex-muçulmana. Ayaan foi também roteirista do curta-metragem Submissão - Parte I - rodado pelo cineasta holandês Theo van Gogh, que denunciava a opressão das mulheres do mundo muçulmano. Van Gogh, se alguém não lembra, foi assassinado por um terorista islâmico, em novembro de 2004, em Amsterdã. Antes de morrer, perguntou ao assassino: "Será que não podemos conversar?" Como resposta, teve a jugular cortada por uma faca de açougueiro. Com outra faca, o árabe espetou-lhe no peito uma carta de cinco páginas, com um recado para a deputada: "a próxima será você".

Neste filme, conta Aayan em entrevista para Veja, a câmera mostra o corpo da personagem Zainab - e aqui há uma homonímia inadmissível para um muçulmano, como veremos adiante - espancada pelo marido, coberto de hematomas, feridas e cicatrizes e pelos versos do Corão que autorizam o marido a espancar suas esposas. "Os fundamentalistas islâmicos ficaram irados ao ver os versos sagrados escritos no corpo de uma mulher. O resto, para eles, é normal".

Enquanto os intelectuais europeus se omitem e mesmo se rendem ao avanço do Islã, em nome de uma hipócrita tolerância com práticas de bárbaros, a defesa dos valores do velho continente parece ter ficado nas mãos de mulheres. Primeiro Oriana Fallaci, sobre a qual poderia pesar a suspeição de ser européia. Agora Ayaan, mais odiada porque africana. Pior ainda, ex-muçulmana. E igreja nenhuma, seja a católica, seja a comunista, seja a islamita, perdoa hereges. Os árabes sentem-se à vontade para matá-los em plena Europa.

A rendição definitiva da Europa tem suas origens em setembro de 1988, quando Shalman Rushdie publica no Ocidente seus Versos Satânicos. O título refere-se a trechos do Corão que mulá ou aiatolá algum quer ouvir, os versículos Gharanigh. Maomé, em sua ambição de construir uma religião monoteísta, para enfrentar a resistência da tribo dos Quoriche, que adoram as deusas pré-islâmicas Lat, Osa e Manat, ouve os conselhos de Satã: "esses ídolos são eminentes e sua intercessão está confirmada" (surata Nadjm, versículos 19 e 20). Quando assistem a veneração de seus deuses por Maomé, os Quoriche se rejubilam e prostram-se juntos ao profeta. Em seu oportunismo e afã de conquistar adeptos, Maomé ouviu Satã, seguiu suas diretrizes e cultuou ídolos pagãos.

Ao comentar estes versículos, Rushdie assinou sua sentença de morte. Em 14 de fevereiro de 1989, o aiatolá Khomeini proferiu uma fatwa (decreto religioso), oferecendo uma recompensa de 2,5 milhões de dólares a quem matasse o escritor, não importa em que país estivesse. Naquele momento, Khomeini afrontava a soberania de todo e qualquer país. Do alto de sua prepotência, o aiatolá ordenou:

Eu informo o orgulhoso povo muçulmano do mundo inteiro que o autor do livro Os Versículos Satânicos, que é contrário ao Islã, ao Profeta e ao Corão, assim como todos os implicados em sua publicação e que conhecem seu conteúdo são condenados à morte. (...) Apelo a todo muçulmano zeloso a executá-los rapidamente, onde quer que eles estejam. (...) Todo aquele que for morto nessa empreitada será considerado mártir.

Observe o leitor a sutileza do decreto, que abrange inclusive os "que conhecem seu conteúdo". O aiatolá condenou à morte até os leitores de Rushdie. A Europa não reagiu, afinal era um hindu. Verdade que tinha cidadania britânica, mas tratava-se de apenas um homem, e não vai se fazer guerra por um homem só. Ainda mais quando toda a Europa está atada por fortes laços econômicos com o Irã. Seria o bom momento de todas as democracias do Ocidente cortarem relações diplomáticas e econômicas com Teerã e deixar bem claro que não será um sacerdote persa insano quem irá impor sua vontade doentia a todos os países do globo. Nem Hitler ousou tanto.

A Europa calou-se e entregou Rushdie aos serviços de segurança britânicos. Ocorre que Khomeini morreu sem revogar sua fatwa.Que mais não fosse, o aiatolá Khamenei, sucessor de Khomeini, reiterou o decreto de morte. Todo fanático muçulmano passou a portar carteirinha de 007: com licença para matar. As primeiras vítimas da fatwa foram os tradutores dos Versículos, Ettore Capriolo (italiano) e Hitoshi Igarashi (japonês), atacados em julho de 1989. Igarashi morreu e Capriolo foi gravemente ferido. Rushdie ainda não está livre de receber uma punhalada em qualquer esquina do mundo. Uma tentação ambulante para qualquer candidato aos 2,5 milhões de dólares... ou às setenta virgens do paraíso.

Para matar van Gogh, não foi preciso nem fatwa. Todo muçulmano fundamentalista já se sente autorizado a "justiçar" qualquer herege. Vivesse Dante nestes dias, teria de esconder-se como Rushdie, pois colocou Maomé na nona fossa do oitavo círculo de seu inferno. Do jeito que o islamismo avança na Itália, não seria de espantar que em breve a Divina Comédia seja proibida ou pelo menos expurgada. E Voltaire, que considerava o Islã "o pesadelo da razão", seria extirpado da literatura francesa.

A bola da vez agora é Ayaan Hirsi Ali. Que ousa afirmar o que ninguém quer ouvir. Que Maomé seduziu e violou Zainab, a mulher de um pupilo. Que casou-se com Aisha, quando esta tinha nove anos. É espantoso observar que na atual Europa, obcecada pela pedofilia, tal personagem seja respeitado como um grande e excelso criador de religiões. Que doutrina pode-se esperar de tal celerado? Nada mais que um amontoado de asneiras, onde o assassinato e a violência contra a mulher são plenamente justificados. Isto é o Islã.

A escritora somali vai longe em suas denúncias. Que a maioria das mulheres muçulmanas sofre a excisão do clitóris quando criança, disto há muito se sabe. A própria Aayan foi submetida à mutilação aos cinco anos. Como no Islã as moças sem hímen são consideradas objetos usados, muitas delas, ao perder a virgindade, buscam a Europa para fazer cirurgias reparatórias. O que não se sabia é que, até pouco tempo, em respeito ao famigerado multiculturalismo, as imigrantes muçulmanas na Holanda era reembolsadas pela seguridade social pela restauração de hímen. Aliás, em nenhum país europeu falta médico que se habilite à prática infame da clitorectomia. Na Itália, chegou-se a propor uma solução intermediária: um pequeno corte simbólico, que manteria intacto o hímen, mas salvaria as sábias tradições islâmicas.

A deputada Aayan, como Rushdie, perdeu sua liberdade de flanar pelas ruelas das cidades da Europa e do mundo. (Aliás, depois da morte de van Gogh e das ameaças a Aayan, até os deputados holandeses renunciaram ao salutar hábito de ir ao Parlamento de bicicleta). Anda em um carro blindado, escoltada por seis guarda-costas. Corajosa e lúcida, afirma: 'Em teoria, nada diferencia um fanático cristão ou judeu de um fanático muçulmano. Na prática, eles se sentem mais à vontade no Islã".

Aayan está introduzindo na Europa um novo conceito, que deve estar arrepiando as esquerdas que saudaram Khomeiny como libertador e almejam o fim das liberdades na Europa, o conceito de intolerância legítima. "A democracia também inclui a noção de intolerância legítima. O intolerável não pode ser tolerado. Nós precisamos declarar guerra contra a propaganda islâmica".

A Europa, anestesiada por décadas de doutrinação marxista, entrega-se ao Islã como gado rumo ao matadouro. O velho continente, em ritmo de entropia, hoje tem sua mais entusiasta defensora em uma somali ex-muçulmana.