¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, julho 11, 2005
 
CRISE NO MERCADO DA CORRUPÇÃO
Quando foram encontrados 26.800 notas de 50 reais - o que totalizava 1,34 milhão de reais - nos armários dos escritórios de Jorge Murad em São Luís do Maranhão, fui tomado de um súbito orgulho cívico. Finalmente tínhamos moeda forte. A corrupção já aceitava reais, dólares se tornavam dispensáveis. O dinheiro amealhado pelo marido de Roseana Sarney foi acondicionado em duas caixas de papelão, lacradas pelos policiais.

A inflação parece estar voltando. Na penúltima apreensão de dinheiro vivo, tivemos uma maleta com 200 mil reais. Persistia a confiança nacional, mas prudência e chá de marcela nunca fizeram mal a ninguém. Nas cuecas, o portador do pecúlio destinado ao irmão do ex-presidente do PT, José Genoíno, levava mais 100 mil dólares. Nunca se sabe. Seguro morreu de velho. Mais do que nunca, a expressão "moral de cuecas" adquiriu um sentido tão visível, palpável. Mas a moeda nacional já perdia prestígio para as verdinhas. Só havia três pacotinhos de 100 reais na maleta, os demais eram de 50. A corrupção chegara a tal ponto que no mercado circulante já escasseavam suas cédulas prediletas.

O leitor já viu uma cédula de cem reais? É possível que sim. Mas não deve tê-las visto muitas vezes na vida. Estas cédulas, dado seu valor de face, circulam privilegiadamente no território da corrupção. Vêm sempre amarradas em pacotes de cem cédulas, e talvez jamais sejam desamarradas, pois sendo as maracutaias dimensionadas sempre na base do milhão, não há porque desamarrá-las. Os pacotes, como chegam, seguem adiante.

Hoje, a imprensa nos brinda com notícia inefável. O deputado João Batista (PFL-SP) foi flagrado carregando sete maletas com mais de dez milhões de reais. Segundo os policiais, o dinheiro estava distribuído em notas de R$ 5, de R$ 10, de R$ 20, de R$ 100 e principalmente de R$ 50. São tantas notas que a PF vai pedir ao Banco Central ou ao Banco do Brasil uma máquina para contar dinheiro. Uma das malas estava tão cheia de dinheiro que dois policiais precisaram carregá-la. O montante das mesadas aos senhores deputados já não mais cabe em caixas de papelão.

O que já nos dá uma idéia da amplitude da crise monetária do país. Quando a corrupção se digna a aceitar cinco merrecas - o preço pago a um fiscal de trânsito para não multar - é porque já há uma crise de moedas altas no mercado da corrupção no país.