¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

segunda-feira, julho 11, 2005
 
OS POMBOS FARÃO JUSTIÇA
Comentar o atentado em Londres? Não, muito obrigado. Todos os jornais o estão comentando e eu nada teria a dizer de novo senão reiterar meu repúdio ao terrorismo. Só uma digressão rápida: como observou o jornalista Steven Plaut, os ingleses finalmente descobriram a palavra terror. Pois antes deste atentado, a mídia inglesa sempre se referia aos terroristas e assassinos que atentavam contra os judeus como "militantes" ou "ativistas". Nada como algumas bombas na própria carne para restituir às palavras o verdadeiro sentido.

Comentar o mar de lama petista que inunda o país? Remeto o leitor à leitura quotidiana dos jornais, que só trazem páginas cheias de boas notícias ao cidadão honesto. A propósito, você notou a quantidade de políticos vertendo lágrimas de crocodilo em seus pronunciamentos? Curiosamente, são sempre políticos do PT. Os petistas parecem ter sido acometidos por uma crise lacrimogênea capaz de iludir o espectador mais incauto. Chora a Heloísa Helena, chora o Delúbio, chora o Genoíno, chora o Sílvio Pereira, chora o Suplicy. O impoluto Partido dos Trabalhadores, campeão da moral e da ética - como se houvesse diferença entre uma e outra - está me lembrando o Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida e doçura esperança nossa salve! A vós bradamos degredados filhos de Eva. A vós suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas. E haja lencinhos para secar as lágrimas do PT.

Prefiro comentar notícias que passaram quase despercebidas. Semana passada, o vendedor Reginaldo de Lima foi preso em sua residência na Vila Carioca, zona sul de São Paulo, sob acusação de fazer apologia ao nazismo. Na casa de Lima, a polícia encontrou e apreendeu livros, filmes, medalhas, selos, carteiras de trabalho alemãs, suásticas e CDs sobre nazismo. "Não esperávamos encontrar tanto material. Ele também vendia e comprava alguns itens pela Internet", disse a delegada Margarette Barreto, responsável pelo caso. É o que nos dizem os jornais.

Lima tem um site hospedado na Argentina, que teria conteúdo nazista. Segundo a polícia, ele procurou países onde a divulgação de material nazista não é considerada crime. O mesmo não pensa Lima. O material contido no site seria usado como fonte de pesquisa. "O que está ali é uma visão pura, sem distorção ou juízo de valor sobre o assunto. Nunca imaginei que teria problema com isso", afirmou o comerciante.

Lima foi autuado em flagrante por crime de racismo, sob acusação de fazer apologia ao nazismo. A prisão está baseada na lei 7.716, de 1989, que em seu artigo 20, § 1, prevê pena de dois a cinco anos de prisão por fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propagandas que utilizem a cruz suástica, ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

Poderoso, este Brasil. Não consegue punir os crimes praticados em seu território e sai à cata de atos praticados em outro país, onde não são considerados crimes. No site de Lima, Hitler é considerado "grande personalidade", embora não haja declarações explícitas de anti-semitismo. Em 1998, a revista americana Time, promoveu uma votação para eleger a Personalidade do Século. Cristo foi votado em primeiro lugar, e Adolf Hitler foi o segundo. Como Cristo não havia vivido no século XX, Hitler foi para o topo da lista. Claro que a votação restou inútil, pois a Time não ousou respeitar o pensamento dos eleitores. Embora a lei tupiniquim fosse de 1989, o Brasil preferiu manter um silencioso obsequioso ante as preferências do grande irmão do Norte. Já o Lima é um pobre diabo. Cadeia nele.

Toda vez que se publica ou se tenta publicar Mein Kampf, há um alarido nacional denunciando os eventuais editores como criminosos. Ora, como conhecer o pensamento de Hitler sem ler sua obra? Não publicá-lo é esconder dos contemporâneos a ideologia que gerou um dos maiores massacres do século passado. Digo um dos maiores, porque maior mesmo foram os perpetrados por Lênin e Stalin, inspirados por Marx, cujas obras podem ser encontradas em qualquer livraria, sem que autoridade alguma se preocupe em proibi-las.

O nazismo teve vida breve, pouco mais de década, e vingou só na Alemanha. O marxismo durou quase um século e contaminou um terço do planeta. Diante dos crimes de Stalin ou Mao, Hitler foi aprendiz de genocida. No entanto, todo símbolo, publicação ou site que a ele se refira, é considerado crime neste nosso incrível país. Em seu site, Lima expõe condecorações a soldados alemães e as últimas palavras dos líderes nazistas condenados por crimes de guerra pelo tribunal de Nuremberg, na Alemanha, depois do final da guerra, em 1946. Na página inicial, lê-se que o site pretende ser apenas uma fonte alternativa de pesquisa e que "repudia qualquer forma de nazismo".

A propósito, trouxe de Paris, em DVD, o belíssimo documentário de Leni Riefenstahl, O Triunfo da Vontade, sobre a reunião anual do NSDAP (Partido Nacional Socialista Alemão) realizada em 1934, em Nuremberg. Os nazistas realizaram paradas, desfiles e discursos, e exibem um exército colossal, cuja derrota não parecia concebível. Foi o filme mais proibido do século passado. A meu ver, deveria ser exibido em todas as escolas. Para que as novas gerações vissem que aquele poderio aparentemente invencível, dez anos depois, virou cinzas. Espero que polícia alguma me incrimine ou me prenda como nazista pela posse deste importante documento histórico. Curiosamente, neste país que prendeu Lima, este documentário pode ser encontrado em qualquer locadora mais provida.

Abomino tanto o marxismo quanto o nazismo, mas defendo a publicação dos textos tanto de Hitler quando de Marx, Mao, Lênin ou Stalin. Como conhecer uma doutrina sem ler seus livros básicos? Aqui no Brasil, no entanto, criou-se uma cultura paradoxal. Enquanto as obras marxistas ou de inspiração marxista abundam nas livrarias e têm livre curso nas universidades ou imprensa, ai de quem ouse publicar Hitler. É jogado à execração pública e arrisca ir em cana.

Soa estranho o excesso de zelo policial, já que os sites nazistas - nem falo dos comunistas - são comuns na Internet, sem que seus autores sejam presos ou condenados. Enquanto isso, em qualquer feira de antiguidades, você pode comprar bandeirinhas da finada União Soviética ou efígies de Lênin ou Stalin, sem que autoridade alguma tenha algo a objetar. Enquanto o nazismo passou para as mentes como a representação do mal absoluto, o comunismo - ainda hoje, após sete décadas de atrocidades - goza do prestígio de ter sido um dos mais belos sonhos da humanidade.

Em Porto Alegre, em homenagem ao desastrado caudilho Leonel Brizola, o PDT houve por bem erguer-lhe um monumento. Até aí, tudo muito inteligível, bajuladores de nulidades é que não falta neste país. É quando entra então em cena um macróbio stalinista, o arquiteto Oscar Niemeyer, que propôs expandir a homenagem, estendendo-a a Getúlio Vargas, João Goulart e - como seria de esperar-se - a Luiz Carlos Prestes, o mais famoso russófilo que o Rio Grande do Sul produziu e certamente o mais medíocre líder comunista que o Brasil já teve. Proíba-se qualquer efígie ou insígnia que lembre o nazismo. Aplausos ao celerado que queria transformar o Brasil num imenso gulag tropical. Que, aliás, é o ídolo mais adorado pelo atual presidente do PT, o ex-poeta Tarso Genro.

Ao historiador gaúcho Sérgio da Costa Franco, em crônica publicada na Zero Hora, ocorreu citar a boutade de Mário Quintana, proferida quando quiseram erguer-lhe um busto em Alegrete: "um erro em bronze é um erro eterno". Era. Nos meses seguintes à queda do Muro e ao esboroamento da União Soviética, as estátuas colossais em bronze de Stalin e Lênin começaram a vir abaixo onde quer que existissem, como também as gigantescas estrelas vermelhas, que simbolizavam o pesadelo socialista. Verdade que ainda sobram algumas estátuas de Lênin na Rússia, mas o bronze já não é eterno.

O Brasil vive nestes dias uma crise brutal de governo - melhor dir-se-ia de desgoverno - provocada pelos herdeiros do marxismo, que estão se revelando mais eficazmente corruptos que os antigos inimigos de classe, os famigerados capitalistas. Enquanto isto, um stalinista decrépito e com o pé na cova, quer deixar sua marca abominável na capital gaúcha, em homenagem ao assassino de Elsa Fernandes.

Que deixe. Enquanto não chegar ao Brasil a salutar prática de demolir bronzes em homenagem a assassinos, os pombos farão justiça.