¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, dezembro 17, 2005
 
AMSTERDÃ: SUSPEITAS


Estive em Amsterdã pela primeira vez em 1971. O que mais me fascinou na cidade foi aquela convivência tranqüila com a prostituição. No Bairro Vermelho, molucanas soberbas se exibiam quase nuas nas vitrinas. Molucanas e outras mais. Me impressionaram as molucanas pela altura e volume de seios e quadris. Durante a semana, conviviam tranqüilamente com crianças que iam e voltavam da escola. Aos domingos - que nos domingos também se trabalha neste ofício - conviviam com os velhos e famílias que iam para a missa. Esse pragmatismo holandês, que não via nada de mal na prostituição, sempre me foi simpático.

Voltei várias vezes a Amsterdã e em todas elas visitei o Bairro Vermelho. Agora, 34 anos depois, a zona me pareceu um tanto decadente. A maioria das vitrines estava fechada por cortinas e não me pareceu ser porque as moças estivessem empenhadas em seu trabalho. Não havia clientes para tanta vitrine fechada. Em vez das molucanas soberbas, umas magrelas um tanto desnutridas, sem ter muito onde pegar. A impressão que tive foi a de que talvez a prefeitura pagasse funcionárias para posar de prostitutas, e assim manter o charme do bairro.

A mesma dúvida atroz me ocorreu em relação às milhares de bicicletas, distribuídas pelas ruas, canais e pontes. Muitas delas enferrujadas, aos cacos, todas expostas ao sol, chuva e neve. Me senti mais ou menos enganado. Pelo jeito, a cidade joga bicicletas antigas nas ruas para manter a fama. Isso não exclui, é claro, que Amsterdã seja uma cidade basicamente de ciclistas. Mas não tanto como parece.