¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, dezembro 16, 2005
 
AO GARÇOM DO METROPOLE


Em Bruxelas, adoro freqüentar o Metropole, um dos mais antigos cafés da cidade, pleno de mármores, madeiras e candelabros solenes. Gosto de estar lá. O garçom que me atendeu tinha porte atlético, cabelo raso, postura rígida, de militar. Pedi uma Leffe, minha belga predileta. Como não vinha, ao cabo de dez minutos, chamei o garçom de novo:

- Esqueceu minha cerveja?
- Oh, não, Monsieur. É que ainda não estou aqui. Ainda não cheguei.

Olhei para o garçom e fui tirando minhas conclusões. Ele ainda vivia em algum paraíso. Pelo perfil do rapaz, só poderia ser em algum país árabe. Ele acabara de fazer, a meu ver, a mesma viagem de Gide. Quando me trouxe a Leffe, puxei conversa:

- E de onde é que você ainda não chegou?

Seu rosto se iluminou. Era a pergunta que esperava ouvir. Vinha do Marrocos. E começou a digredir com entusiasmo sobre sua viagem. Que a organização social do Marrocos... que o rei do Marrocos... que a rainha do Marrocos... que o deserto marroquino... que os oásis do Marrocos... que as neves das montanhas do Marrocos... Enfim, recebi uma entusiasta aula sobre o Marrocos, interrompida por seu chefe, que o chamou de volta ao trabalho. Ele realmente ainda não havia chegado a Bruxelas.

Em meu último dia na cidade, fui despedir-me dele e do Metropole. Ao sair, colei meu braço no dele e perguntei: já chegou? Ele me estreitou com afeto e quase soluçou: malheureusement.

Acho que fiz um garçom feliz naquela noite.