¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, dezembro 17, 2005
 
CARTA DO LUIZ


Senhor Janer, a seguir reproduzo carta enviada à redação do MSM.

Sou grande admirador de Olavo de Carvalho, homem de inteligência distinta e cultura inquestionável. Não leio seus escritos de há muito, porém, hoje absolutamente ele é minha maior referência no meio literário e é certo que os textos que periodicamente publica têm contribuído sobremaneira para que eu enxergue novos horizontes.

Só para exemplificar, tenho estudado "Filosofia e Realidade de Aristóteles", transcrição de algumas aulas do Seminário de Filosofia que ele ministrou. Encontrei nessas lições - brilhantemente expostas, por sinal - um excelente manual de introdução à filosofia, que sem a menor dúvida me trouxe mais esclarecimentos do que o resultado da soma dos três anos de filosofia a que fui submetido na Faculdade de Direito.

Naturalmente, apesar de todo o respeito que deixei claro manifestar pelo distinto escritor, não concordo com o teor de alguns dos textos que escreveu. Tenho, em relação a ele, algumas - poucas, é verdade - divergências pontuais.

Por exemplo, na visão de Olavo de Carvalho, eu seria um ?abortista?. Também, divirjo do mestre em relação ao ensino obrigatório, que reputo importante mas ele não vê com bons olhos. Mas isso pouco importa, porque esses pequenos desencontros são minúsculos, não trazendo, na minha perspectiva, qualquer mácula ao conjunto da obra dele.

O motivo que me fez escrever esta carta é outro, a publicação, no MSM, do texto intitulado Sobre os últimos artigos de Janer Cristaldo. Nele, Olavo de Carvalho dispõe que Janer Cristaldo - que também goza de bastante prestígio em meu conceito -, em seus últimos textos, tem sido patético, agredindo compulsivamente a Deus e àqueles que o seguem, especificamente cristãos e judeus, mediante interpretações malévolas da Bíblia e de outros escritos religiosos.

Parece-me haver aí um elemento que não é comum na obra do ilustre filósofo: uma contradição.

Explico: ao mesmo tempo em que se mostra bastante irritado por entender que rotineiramente os seguidores de Cristo têm de agüentar agressão gratuita por parte de Janer Cristaldo, releva, no texto "Não é caso para rir" - publicado em sua própria página na internet -, as contundentes ofensas que o livro Orixás, Caboclos e Guias, de autoria do bispo Edir Macedo, confere às religiões afro-brasileiras, dentre elas a de que estas são demoníacas, sob o argumento de que o autor tem liberdade de expressão.

De fato, Olavo de Carvalho não faz ilações sobre a veracidade das conclusões do bispo evangélico. O que aduz é que deve ser preservada a liberdade de expressão e, por esse motivo é que ataca veementemente a decisão judicial que reputou inconstitucional o livro. De minha parte, também não pretendo concluir se as aludidas agressões a cristãos e umbandistas são justas ou injustas. Primeiramente porque reconheço não ter conhecimento e experiência para tanto e, em segundo plano, porquanto acho até que isso não se pode provar.

O que questiono é o fato de Olavo de Carvalho, que é reconhecidamente um grande defensor da livre-expressão, ao invés de fazer aquilo que o tornou célebre, rebater o que lhe parece incoerente trazendo ao debate argumentos sólidos, publique uma matéria que se traduz em um murmúrio de inconformismo por conta de alguém não ter a mesma fé que a dele, partindo inclusive para a desqualificação do assunto abordado, quando afirma que o MSM "se destina a finalidades mais relevantes e não deveria ser desperdiçado com futilidades odientas". Pelo que sei, religião é um tema que sempre esteve em voga no MSM, diante da influência que exerce sobre questões de natureza política.

Por fim, cito o próprio Olavo de Carvalho, que ao comentar o voto do relator que proibiu o livro do bispo evangélico asseverou: "O que ele está dizendo é que o simples ato de falar contra uma religião atenta contra o direito fundamental de segui-la. Mas é óbvio que a liberdade de seguir qualquer religião implica, essencial e incontornavelmente, o direito de não gostar das outras e de falar contra elas. E a liberdade de ser ateu ou agnóstico implica o direito de falar contra todas de uma vez. Suprimir esse direito é suprimir aquela liberdade. Suprimi-lo em nome dela, como o faz o dr. Souza Prudente, é a apoteose do nonsense. É o ridículo politicamente correto transmutado em imposição judicial".

Desde já agradeço a atenção,

Luiz Mendes.