¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, março 22, 2006
 
BISTRÔ DO LIVRO



Janer, gostei particularmente das suas postagens sobre as livrarias. Amo os bons livros. Em 2002 e 2003, trabalhei como vendedor numa livraria em Ipanema. Era um restaurante/livraria; a parte da livraria era de propriedade de um apaixonado pela literatura, o Irã Salomão. Comecei lá quando as obras ainda não haviam terminado, o que me deu o prazer de montar a livraria com meu chefe.

A livraria era daquelas em que tanto o dono quanto os funcionários não precisavam de computador para saber se tinha tal livro ou onde tal livro estava. Afinal, nós é que escolhíamos os livros, os catalogávamos no banco de dados do computador (que servia principalmente pra fazer controle de estoque) e os guardávamos nas prateleiras. O acervo da livraria era de cerca de dez mil livros, se não me engano.

Você falou que o livreiro de sua confiança não tem certos best-sellers. Lembro-me de que o Irã não queria Paulo Coelho na sua loja, mas que eu defendi a compra de suas obras. Acho que PC não é o melhor escritor do mundo, mas o fato de ser tão vendido, em tantos países, faz com que eu pense que é impossível ignorá-lo. O que não seria o caso do livro da Bruna Surfistinha ou dos livros da Zíbia Gasparetto, por exemplo. De qualquer modo, lá nunca foram vendidos livros de auto-ajuda.

O meu maior prazer acontecia quando alguém entrava na livraria, pedia um livro raro por aqui - por exemplo, El Liberalismo Viejo y Nuevo, de José Guilherme Merquior, edição do Fondo Económico de Cultura - e, pronto, em dez segundos o livro estava em suas mãos. Eu me divertia com o olhar incrédulo de alguns bons leitores, que freqüentemente se tornavam clientes fiéis.

Trago recordações marcantes de quando trabalhei naquela livraria. Não me esqueço de quando o Fernando Sabino entrou no salão, já curvado da idade, pouco antes de sua morte, e ficou feliz vendo tantos livros seus, um ao lado do outro, ocupando uma prateleira inteira na área de literatura brasileira; não me esqueço de quando achei que o Bruno Tolentino estava visitando o lugar, mas considerei que seria incômodo perguntar se ele era mesmo quem eu achava que era, já que estava acompanhado; guardo com carinho tantas conversas e tantos livros autografados por seus autores, famosos ou desconhecidos.

Janer, eu não sabia que nas grandes livrarias se cobra por um local mais atraente para os livros. De fato, posso atestar que os livros mais expostos são muito mais vendidos; mas na livraria do Irã, o Bistrô do Livro, nunca houve espaço vendido.

A propósito, a livraria dava prejuízo e fechou.

Gustavo Bertoche