¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, maio 04, 2006
 
A ARROGÂNCIA DE MEZAN



Desde muito jovem, abominei a psicanálise. Sempre defendi a tese de que psicanálise é fé, religião, vigarice, tudo menos ciência. O que me levou a ser submetido, em um concurso público, a uma junta psicanalítica. Velha tese dos psicanalhas: quem contesta a psicanálise é porque precisa de psicanálise.

Nestes dias em que Freud passou a ser uma espécie de escroque religioso - do qual derivaram várias seitas - o psicanalista Renato Mezan, nas páginas amarelas de Veja, pretende que Freud não morreu, mas continua presente em toda a psicologia e também na cultura. Melhor faria se dissesse que continua presente em uma cultura daquela classe média que gosta de pagar caro pelo que não entende. Há vigarices em que só caem pessoas cultas. O marxismo é uma delas, a psicanálise é outra. Analfabeto algum cairá nesses contos do vigário. Tais vigarices intelectuais só encontram fortuna em países subdesenvolvidos, que seguem a reboque de crendices pseudocientíficas oriundas da Europa.

Tentando explicar por que no mundo árabe a psicanálise não tem muito futuro, Mezan diz que "nos países islâmicos é mais complicado, não porque os muçulmanos não tenham inconsciente. O fato é que um xiita em crise dificilmente procuraria um analista. É mais provável que ele procurasse um líder religioso".

Ou seja: nós, que abominamos a psicanálise, somos comparados a fanáticos muçulmanos que jamais procurariam um analista, mas sim um líder religioso. Em parte, Mezan tem razão. Psicanálise, como religião, não passa de uma muleta metafísica, um placebo para enfrentar o desconforto - pelo menos para os fracos de espírito - de existir.

Poucas pessoas sabem que psicanálise não é profissão regulamentada por lei. Na França, para efeitos de imposto de renda, os psicanalistas são equiparados - e com sobejas razões - a astrólogos, videntes e quiromantes. Desconheço país em que psicanálise seja profissão regulamentada. Nem os psicanalistas têm interesse na regulamentação, pois as igrejas são várias e nenhuma quer ceder terreno às rivais.

Se o leitor estiver em crise financeira e quiser de algum modo ser bem remunerado sem ter especialização alguma, pode colocar em seu endereço uma placa de psicanalista. Lei alguma o proíbe de fazer isto. Não precisa nem mesmo ter curso superior. Aliás, juridicamente, não precisa ter curso nenhum. É preciso, é claro, adquirir um certo linguajar esotérico, para melhor enganar os pobres de espírito.

Adquirido este linguajar, prepare-se para exercer poder sobre seus semelhantes, gozar de prestígio intelectual e usufruir de altas rendas. Nunca foi tão fácil enganar multidões.